BCE : a bazuca de Draghi; as medidas anunciadas a 10 de março de 2016
QE (Quantative Easing) mensal que passa de 60 para 80 mil milhões de euros.
Taxas de juro negativas para incentivar os bancos a emprestar dinheiro para investimentos e consumo.
Compra por parte do BCE de obrigações emitidas pelas empresas com um rating de crédito alto; uma medida inesperada.
O BCE está preocupado em estimular o crescimento económico, em financiar a economia.
Mas o problema é que o quadro macroeconómico de negócios não é favorável:
os impostos e a pressão fiscal são altos
a regulamentação das empresas é demasiado apertada e afecta a sua competividade em relação a actores económicos baseados fora da UE
com a globalização, os grandes grupos económicos preferem investir fora da UE
os bancos têm muito crédito malparado e poucas oportunidades de negócios; há demasiados bancos na UE, no conjunto da UE; continuamos a pensar em termos nacionais, na “nossa banca” que é preciso proteger; os nossos políticos, um pouco por toda a parte, deveriam adquirir uma visão europeia do sistema bancário e ser capazes de a defender
falta emprego e estabilidade o que tem um impacto sobre o consumo das famílias; as famílias adoptam uma aitude de prudência em relação a novos consumos, sobretudo por muitas delas já estarem com um nível de dívidas pesado
Mais ainda, o Euro precisa de baixar de valor, a taxa de câmbio deveria estar entre USD 1,05-1,08 por cada Euro.
Confesso que expressei sérias dúvidas, em discussões recentes, nos primeiros dias desta semana. Não acreditava que Mario Draghi tivesse a coragem suficiente para se opor às profundas objeções das elites políticas e económicas alemãs e, por isso, acabaria por anunciar um Quantitative Easing que ficaria muito aquém das expectativas. A oposição alemã tornara-se, com o começo da contagem final antes de 22 de janeiro, muito clara e militante.
Ontem, pela manhã, ao analisar os dados então disponíveis, mudei de opinião. Pareceu-me que Draghi iria, em grande medida, ter a ousadia de lançar um programa verdadeiramente significativo. Ao fim do dia, chegaram-me umas notas que mostravam que a posição dentro do Banco Central Europeu ia no sentido de um programa de peso.
Hoje, o anúncio das modalidades e dos montantes do programa mostraram que Mario Draghi e o BCE estão à altura das suas responsabilidades. Foi uma decisão corajosa. Quem estava comigo no Luxemburgo, a assistir em directo à declaração do presidente do BCE, pensou o mesmo.
Não resolverá tudo, mas é uma contribuição fundamental para a saída da crise financeira e económica europeia. É a contribuição que cabe ao BCE, dentro do seu mandato. Agora, cabe aos outros, em Bruxelas e nas capitais, nas suas áreas de responsabilidade política e económica, mostrar que têm o mesmo calibre que Draghi revelou.
A decisão do Banco Central Europeu, que anunciou estar disposto a comprar obrigações de países da zona euro que estejam a seguir um programa formal de reformas estruturais, é uma boa notícia. É também um convite, para que a Espanha e a Itália pensem a sério na reforma das suas finanças públicas. Por isso, nos próximos dias e semanas convirá estar atento aos sinais vindos desses dois países.
Muito do futuro da Europa passa por Madrid e Roma. Creio, no entanto, que Mariano Rajoy é um problema bem maior do que os políticos italianos.
Entretanto, em Portugal, a taxa de crescimento do pessimismo continua de vento em popa. Só é superada pela elevada percentagem que a cacofonia de ideias ligeiras consegue atingir, todos os dias. Mas a verdade é que os portugueses gostam de foguetes e de facadas no ar. Chamam a isso "debate de ideias".