Barroso: uma nota de crédito
Barroso terminou as suas funções de Presidente da Comissão Europeia. Seria pouco apropriado não escrever umas linhas sobre o fim de mandato de quem esteve durante dez anos num lugar de grande poder e visibilidade na cena internacional.
Vou fazê-lo agora, para dizer que o nosso compatriota – que eu critiquei algumas vezes nos meus textos da Visão – esteve à frente da União Europeia numa fase particularmente delicada e de extrema complexidade. É preciso ter isso em conta, como é preciso saber que nesse tipo de funções cada crise que passa, cada decisão de fundo que é tomada, tudo acaba por ser o resultado de um jogo de equilíbrios políticos. Esse jogo é especialmente difícil numa associação de Estados independentes e que, para mais, têm capacidades de intervenção diferentes. Comparar o peso do jogo da Alemanha, por exemplo, com o de Portugal, não é fácil. De um lado, temos 80 e tal milhões de habitantes, uma economia dinâmica e forte, interesses em várias partes do mundo. Do nosso lado, temos uma outra realidade.
Manter o fiel da balança entre tudo isto, nem sempre dá certo. E se a isso juntarmos uma crise económica profunda, um risco muito sério de implosão do Euro, o enfraquecimento para além do imaginável da influência de países como a França, etc etc, temos um cenário muito desequilibrado, que foi o que definiu o mandato de Barroso durante a maior parte da sua permanência em Bruxelas.
Perante isto, e apesar das muitas coisas que se possam apontar a Barroso, creio que seria justo dizer que conseguiu navegar com habilidade e com resultados as águas difíceis e agitadas da União Europeia.
E, por muito que se diga, deu uma imagem de Portugal e dos Portugueses que nos favoreceu. Portugal foi visto, durante dez anos, como um país que pesava mais do que a sua dimensão o faria imaginar e do que os seus governos estavam em condições e eram capazes de defender na cena internacional e no palco europeu. Isso tem valor.