Estou em fim de viagem, mas, mesmo assim, quero dizer, alto e bom som, que a Comissão Europeia e os ministros dos Negócios Estrangeiros europeus estão todos, face à crise humanitária na fronteira entre a Líbia e a Tunísia, a dar a impressão de andarem a apanhar bonés.
Aquela conversa bonita, muito intelectual, cheia de referências a estratégias, que de vez em quando ouvimos, é só para disfarçar a incompetência.
Uma vergonha.
Uma grande falta de sentido de responsabilidades e de coragem política.
Começou o mês do jejum muçulmano, o Ramadão. Quando o Ramadão cai num período de Verão, a penitência é mais difícil. Sobretudo, por não se poder beber durante as horas do dia.
Este ano, um dos países islâmicos de maior população, o Paquistão, está a atravessar uma grande crise interna, que põe em jogo a sobrevivência de cerca de 14 milhões de pessoas. As chuvas torrenciais têm sido de uma intensidade extrema. As cheias, que daí resultaram, destruiram o modo de vida de populações que, já à partida, viviam em condições de grande pobreza e precariedade. Nem dá para pensar no Ramadão.
Há outras regiões do país que também poderão ser afectadas.
Trata-se de uma situação de urgência humanitária de grande envergadura. É preciso mobilizar muitos meios.
A ONU lançou hoje um apelo humanitário de 460 milhões de dólares, para que se possa ajudar os que estão em risco. As primeiras indicações são de que a resposta ao apelo vai ser diminuta e demorada. Para já, apenas quatro países estão a responder. A UE, para além de uns meros 5 milhões de euros que prometeu disponibilizar, está a mostrar, uma vez mais, que a ECHO, a organização humanitária da UE, e as estruturas de resposta a crises não funcionam com a celeridade que seria de esperar. Nem são eficientes. Nem na resposta às cheias na Polónia e na Alemanha, nem no caso dos incêndios em Portugal -- seria a altura ideal para mostrar que existe uma visão mais ampla de combate às catástrofes, juntando os meios de vários Estados, vendo a catástrofe como um problema transnacional e não apenas nacional. Quanto mais na ajuda a um país distante, de gente com uma cultura estranha, homens com ar de extremistas religiosos, de barbas e cara de poucos amigos do Ocidente.
O texto que produzi para a VISÃO on-line de hoje, melhor, desta semana, reflecte sobre a coordenação e a resposta humanitária no caso do Haiti. Falo da presença massiva dos EUA e da falta de coordenação e de máquina comum, no que diz respeito à Europa. E faço uma referência ao papel da ONU, que tem sido objecto de muitas críticas.