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Vistas largas

Crescemos quando abrimos horizontes

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Crescemos quando abrimos horizontes

Prudência

A derrocada do Crédit Suisse mostra, uma vez mais, que nestas coisas de bancos e negócios não há nada que seja eterno e seguro. Os gigantes também cometem erros, embora tenham todos os recursos necessários para pagar os melhores conselheiros que o mercado pode oferecer. Mas nesta área, como na política e noutras, muitas vezes a opinião dos conselheiros é ignorada pelos líderes e a catástrofe surge, ao virar da esquina ou com o tempo. Os líderes de grandes instituições, tais como os líderes de grandes potências, pensam que são seres superiores e que, por isso, não cometem erros. A realidade é muitas vezes outra. Na economia e na política a prudência é a virtude mais importante.

 

Um pacote de ilusões

O pacote anti-inflação aprovado pelo governo está a cair muito mal na opinião pública. O Primeiro-ministro fez uma bela jogada de espelhos e miragens. Passado o momento, os cidadãos começaram a perceber que o pouco que vão ganhar em outubro é mesmo pouco e será perdido em 2023 e nos anos seguintes. Os pensionistas estão especialmente preocupados com os cortes previstos já a partir de janeiro de 2023.

E o que era de facto importante para as famílias – cortar e reduzir as taxas e o IVA relativos ao consumo de gás e de electricidade, que neste momento pesam mais de 35% do valor total das facturas – não foi feito. Era aí que, sem mais complicações, que as medidas deveriam ter incidido. Seria claro, fácil de entender e teria um impacto imediato nos orçamentos familiares e no bem-estar dos cidadãos. Considero um erro político e uma injustiça social que tal não tenha sido decidido.

Do lado das empresas, era fundamental prever um esquema que ajudasse as que dependem fortemente do consumo de energia. Sem essa ajuda, a viabilidade de muitas dessas empresas estará em risco, já que o aumento dos custos de produção e de funcionamento não poderá ser absorvido pelo preço junto dos consumidores, por muito elevada que seja a inflação. Também teria sido relevante criar um imposto excepcional sobre os lucros inesperados das companhias petrolíferas e energéticas.

O pacote veio também mostrar que o ministro das Finanças não passa bem junto da população. Não tem credibilidade suficiente para o cargo que exerce. Projecta a imagem de quem anda às aranhas. Só existe politicamente por ter o apadrinhamento pessoal de António Costa.

A crise que se avoluma na Europa – e por cá também – exige medidas à altura. Para a enfrentar, não chega ser muito hábil em malabarismos políticos.

Covid-19 continua a marcar a agenda

Omicron continua a ser um dos grandes títulos da imprensa internacional. A política em muitos países gira à volta dessa nova variante e os mercados financeiros também.

Na Europa, a terceira dose da vacina e a imunização dos menores de 12 anos são a resposta. Mas, mesmo assim, ainda há um número demasiado de pessoas que recusam a vacina. Essa é a preocupação política do momento, em matéria de luta contra a Covid-19. Grupos radicais de extrema-direita têm utilizado esta matéria como cavalo de batalha.

Nos Estados Unidos, o problema é ainda mais complicado. A progressão do número de vacinados é lenta. 72% dos cidadãos foram vacinados com duas doses, mas em certos estados o valor ronda os 60%. Na Rússia existe um certo nível de dúvida sobre a eficácia da vacina nacional, o que acaba por ter um impacto na progressão da campanha de vacinação.  

Em África e nos países em desenvolvimento a taxa de vacinação continua demasiado baixa. Os países mais desenvolvidos têm aí um desafio de ajuda que não podem ignorar. A fraca percentagem de vacinados é terreno propício para o aparecimento de novas variantes.

De um modo geral, vamos entrar no novo ano com a questão da Covid a pesar imenso na vida, na economia e nas relações sociais através do globo.

O nosso inverno

A pandemia do coronavírus voltou a tornar-se uma preocupação central de vários países da União Europeia. O aumento do número de infecções anuncia um inverno de restrições, algo que terá um impacto económico, social e político muito preocupante. 

Ao aumento dos preços do gás, das matérias-primas, da habitação e as dificuldades ligadas ao funcionamento das cadeias logísticas, junta-se agora a perspectiva de uma travagem económica considerada necessária para conter um novo pico de propagação do vírus.

Ontem, a Chanceler alemã Angela Merkel caracterizou a situação como sendo dramática. Essa expressão define bem as perspectivas que se podem antever para os próximos meses. 

Alguns mencionaram, entretanto, a possibilidade de novos fechos das fronteiras entre os países da União Europeia. É provável que isso não aconteça, mas a referência a esse tipo de medidas mostra o grau de preocupação dos dirigentes europeus. 

Um Estado caro, ineficiente e predador

Temos uma administração pública pesada e uma governação pouco eficiente. Tudo isso tem custos enormes. E em vez de se procurar fazer crescer a economia, carrega-se na imposição dos rendimentos das famílias. Temos níveis de imposição altíssimos, que depois não são correspondidos nem pela qualidade dos serviços que a administração deveria prestar nem pela cobertura que os serviços sociais e de saúde deveriam ter. A má governação e a falta de incentivo no que respeita ao crescimento dos sectores privados da economia empobrecem as famílias portuguesas. A alternativa política deveria ir no sentido oposto. E ser clara quanto ao papel dos diferentes actores económicos, do Estado ao pequeno e médio empresário, passando, claro, pela remuneração apropriada do trabalho.

É preciso insistir igualmente no desenvolvimento de uma economia de ponta, de qualidade e do conhecimento. Por exemplo, turismo, sim, mas não de massas e de poder de compra modestos. Aí, como no resto, há que transformar o sector num sector sofisticado.

 

Energia solar

O ministro do Ambiente revelou hoje que Portugal produz menos energia de origem solar do que o cinzento Reino Unido. Mas não disse quem deve acarretar com a culpa. Nem explicou as razões de um tal atraso. Comprometeu-se, no entanto, com uma aceleração do programa de produção de energia solar. Falta ver os pormenores, para que se possa entender a seriedade de um compromisso assim.

 

Uma vila alentejana

Estive hoje numa loja de roupa, um pronto-a-vestir para ambos os sexos, na rua de Ferreira do Alentejo que mais comércios tem. A proprietária disse-me que está há 49 anos atrás do balcão, uma vida a vender modas e a elegância possível. E continua, passadas tantas décadas, com o mesmo entusiasmo e a mesma simpatia, embora as pernas já não aguentem o que costumavam aguentar em anos e anos passados.

Estas terras do interior são feitas de gentes assim. Pessoas que não desistem e apenas pedem à vida saúde e forças para continuar. E que as burocracias as deixem em paz.

Mas a idade avança e as novas gerações já não se contentam com um futuro assim. Por isso, com o tempo, as vilas têm cada vez menos estabelecimentos comerciais. E um ou outro que se safa do envelhecimento acaba por ser aberto por uma nova categoria de pessoas, os imigrantes recentes. Assim acontece umas portas mais à frente, com um comércio agora gerido por gente mais jovem vinda do Brasil, ou do outro lado da rua, onde o barbeiro abriu uma loja que fala as línguas da Índia distante.

Assim se transforma uma parte da paisagem humana no interior do Alentejo.

  

Um optimismo resignado

Neste momento, há algum movimento turístico na minha zona de Belém. Nada que se compare a anos passados, mas nota-se a presença de turistas, algo que não acontecia há um ano. A grande maioria são pessoas jovens. Casais com crianças e adolescentes são raros. Pessoas do tipo reformado, praticamente zero.

Os comerciantes locais, sobretudo os restaurantes, olham para tudo isto com um optimismo resignado. Pouco é melhor do que nada. Será disto que se fala, quando se usa a palavra moderna, que anda na boca dos políticos mais modernos, resiliência?

Entretanto, um amigo meu esteve hoje em Silves. Disse-me que a cidade está deserta. Vários restaurantes estão fechados. Não aparecem clientes que justifiquem a abertura.

Tudo isto pesa muito na economia nacional. Ainda não se percebe qual será o verdadeiro impacto, mas que haverá um impacto negativo é certo. Pensar que os dinheiros que virão de Bruxelas irão tapar estes buracos parece-me um bocado ilusório. Muitos desses dinheiros vão para grandes projectos do sector público ou para-público e nada têm de ver com a sobrevivência das pequenas empresas e dos comércios que são uma parte significativa do tecido económico privado.

Mas há que acreditar em dias melhores, diria o meu amigo Martins, da rua de Belém.

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