A dimensão fundamental no processo educativo dos adultos de amanhã é criar capacidade crítica. A manipulação das mentes será agravada com a utilização de instrumentos de Inteligência Artificial. As novas gerações devem estar preparadas para separar o trigo do joio, para levantar interrogações, para evitar teorias conspirativas e enganos.
Hoje vi muita gente a apanhar sol, um pouco por toda a parte em Lisboa. Parecia que tínhamos voltado à normalidade que nos era habitual. Mas era uma situação estranha. As esplanadas, os cafés e restaurantes estavam fechados, e isso faz parte da normalidade num dia de sol. Amanhã entramos num outro ciclo. Espero que o façamos com toda a prudência necessária, que a pandemia ainda não está controlada. É importante que a comunicação social os líderes e quem conta falem de prudência e de comportamentos que respeitem a saúde de cada um e a da comunidade.
Entretanto, falaram-me há pouco de teorias conspiratórias e de outras loucuras em que alguns ainda acreditam. A nossa responsabilidade é a de não propalar essas teorias. Temos o dever de denunciar abertamente quem o faz. Uma situação de crise é terreno fértil para fantasias. Muitas dessas fantasias são construções elaboradas por quem tem como missão confundir as pessoas e influenciar a opinião pública num determinado sentido. Há que estar atento.
Este é o momento de pensar de modo construtivo. Isso não que dizer ignorar os problemas. Quer dizer que é preciso perceber bem quais são esses problemas e dar-lhes a resposta adequada.
Hoje a zona da Foz e o passeio marítimo no Porto estava a abarrotar de gente e de polícias. Só estes últimos é que andavam com as máscaras postas. O pessoal civil passeava a descoberto toda a sua falta de civismo e de miolos.
As medidas de contingência anunciadas ontem pelo governo têm como fundamento uma previsão do agravamento do estado da pandemia. Creio que convém ser claro sobre essa tendência. Como também me parece importante que se continue a apelar para o sentido cívico dos cidadãos. Várias das medidas serão difíceis de executar se não houver boa vontade cidadã. Creio ser fundamental sublinhar essa dimensão, pedir que cada um de nós assuma um comportamento responsável. Essa deve ser, também, a mensagem que o governo precisa de manter actual.
Vários países europeus já elaboraram um plano económico de recuperação e de transição. Não ficaram à espera da aprovação dos fundos e das modalidades propostas pela Comissão Europeia. Definiram as suas prioridades e aprovaram somas colossais para financiar as prioridades identificadas. Uma análise rápida desses planos mostra quais são os sectores considerados como merecendo uma atenção muito especial. São os chamados sectores estratégicos. Vejo seis, que aparecem de uma maneira ou outra na visão do futuro: a promoção da economia digital, o reforço da segurança cibernética, a modernização dos sistemas de educação, a expansão dos serviços de saúde pública, a revolução energética e a facilitação da mobilidade dos cidadãos, dos produtos industriais e dos serviços.
Os Estados membros que já definiram esses planos de acção colocaram-se na linha da frente. Para além dos recursos próprios, irão ser dos primeiros a beneficiar dos fundos europeus que venham a ser aprovados. Os outros, incluindo Portugal, andam a fazer politiquices em vez de planeamento. Confundem reuniões, incluindo as de alto nível, com a necessidade de definir políticas de retoma e de transformação. Esquecem-se, também, que sem planos coerentes não haverá acesso à nova facilidade europeia de financiamento.
Será que é difícil de compreender como se deve trabalhar, quando se trata de obter recursos excepcionais, susceptíveis de dar a volta à crise económica?
Pouco a pouco, a nossa parte da Europa volta a um certo grau de normalidade. Fazê-lo com prudência, por etapas, é boa política. A principal mensagem que deve ser transmitida aos cidadãos é sobre a responsabilidade de cada um. O vírus ainda não está vencido, continua a circular entre nós, por isso, cada pessoa tem que assumir uma atitude que mostre cuidado e precaução. É nisso que se deverá insistir.
Digo-o por ter falado com pessoas que entendiam o relaxamento das regras como um regresso aos velhos hábitos.
Apoio sem reservas a decisão que o futebolista Moussa Marega tomou. Não pode haver qualquer tipo de tibieza na resposta a comportamentos racistas. Também não podemos continuar a viver a fantasia de que por estas terras não há racismo. Também temos a nossa dose de atitudes racistas e xenofóbicas. Vários conhecidos meus, com raízes noutras partes do mundo, já passaram por maus momentos, no quotidiano da sua vivência entre nós.
A educação cívica é o melhor remédio contra o racismo. Infelizmente, essa é uma área onde há pouco investimento. Por isso, um abanão psicológico como o que ficámos a dever a Marega é muito útil.
Ontem escrevi sobre a indisciplina em muitas das escolas públicas. E sobre o impacto profundamente negativo que essa indisciplina tem sobre o futuro da nossa sociedade. Acrescentei que se trata de uma questão da maior importância e, em relação à qual, tem existido, ao longo dos anos, uma demissão inaceitável da nossa classe política. Políticos oportunistas têm estado a transformar o amanhã de Portugal num caos e num grande problema. Nesta área, a da educação, como noutras. Entre as quais coloco a questão da língua portuguesa.
A língua é um dos principais trunfos de que dispomos. E não o temos sabido defender. Não é apenas o facto de se falar e escrever mal, de não se aprender a língua correctamente nas nossas escolas. Também é isso, evidentemente. Uma boa maioria dos nossos jovens é incapaz de se exprimir, de se explicar e de redigir num português decente. Isso acontece mesmo ao nível de quem tem formação superior. Basta ler certas teses de mestrado para se entender que os autores não entendem como manejar a língua, os conceitos, as subtilezas, e por aí fora. Escrevem coisas quase que incompreensíveis.
Mas é acima de tudo o ter-se aceite um acordo ortográfico que dá honras de salão ao português de quem não teve educação escolar suficiente. Quis-se agradar, acima de tudo ao Brasil de alguns, quando se sabe e bem, que no Brasil o que muita gente fala é uma salgalhada simplificada e primária da língua.
O acordo ortográfico baixou a qualidade da língua, reduziu a sua gramática e a sua qualidade expressiva. Não unificou nada de especial com o Brasil, que continua a falar e a escrever como muito bem lhe parece, mas aviltou um dos tesouros nacionais, pois a língua que partilhamos com outros em África e noutras partes do mundo é na verdade um tesouro que deveria ser polido. Foi trabalhado, isso sim, a martelo, com a fraqueza própria de todos os que apenas pensam nos seus interesses, e ficámos a perder.
Uma vez mais, a responsabilidade deve ser atribuída a quem nos governou e nos deixou ir por essa ribanceira. O sentimento que fica é de que o oportunismo e a falta de visão desses políticos tem um sabor amargo, muito próximo da traição ao que são os interesses de Portugal. Uma tragédia, mais uma.
Os governos das últimas décadas deixaram a indisciplina instalar-se em muitas das escolas públicas. Muitos dos alunos fazem apenas o que lhes passa na real gana. Não se aplicam, não estudam, não sabem escrever e falar português, não respeitam nada nem ninguém. É o caos à solta. Serão, quando chegarem à vida adulta, incapazes de se adaptar às exigências do progresso e de uma vida social produtiva. Andarão por aí, a arrastar a sua indigência e o incivismo que aprenderam nas escolas.
O impacto de tudo isto no futuro de Portugal é imenso. A culpa terá que ser atribuída aos que assumiram responsabilidades políticas nos últimos vinte ou trinta anos e que não tiveram a coragem de agarrar o problema. A sua incompetência, falta de coragem, de patriotismo e o oportunismo político que os inspiraram irão custar muito caro ao nosso país.
Na minha opinião, o debate político das próximas semanas deveria opor os que apenas procuram gerir a situação, com mais ou menos folgas, mais ou menos simpatia e sorrisos, aos que poderiam ter um projecto para Portugal. Um projecto que nos levasse além da mediocridade, do deixar andar e do salve-se quem puder. Que pensasse no futuro, nas bases de uma economia mais moderna e sustentável, na protecção dos recursos naturais e do ambiente, num povo melhor preparado e com maior capacidade de intervenção cidadã, numa língua portuguesa que não fosse aviltada por uma incapacidade de a defender, num país mais seguro e mais amigo dos mais fracos. Também, um país mais capaz de contribuir para o fortalecimento da União Europeia e para o reforço da cooperação e da harmonia internacionais.
Só que isso parece um sonho. O debate político continua a ser entre gestores de contas correntes.