Esta eleição presidencial pode constituir uma grande surpresa. A pandemia, que atingiu valores bastante altos nestes últimos dias, deverá afastar das urnas um bom número de eleitores moderados e mais cautelosos. Mas não afastará os mais militantes e radicais. Os candidatos dessas áreas políticas irão aparecer com um peso relativo superior ao que de facto têm. Ora, o país não precisa de radicalismos e extremismos. Também não anda à procura de exaltados e de populistas.
Uma das minhas vizinhas contou-me hoje que a sua mãe faleceu na semana passada por causa da pandemia. Faria 79 anos por estes dias. Esteve internada um pouco mais de uma semana no hospital aqui do bairro, o S. Francisco de Xavier. Internada é uma maneira de falar, pois passou mais tempo num dos corredores do que na enfermaria, por razões de sobrelotação.
Vi na maneira de me contar o acontecimento um certo grau de fatalidade. Aconteceu. Foi a covid-19. E pronto, como se morrer tivesse passado a fazer parte dos dias de agora.
A verdade é que os números diários são assustadores. E que a campanha de vacinação não é campanha nenhuma. 82 mil vacinados até agora faz pensar num ritmo de caracol. Como se isso não fosse a tarefa mais urgente que o serviço público deveria ter pela frente.
Os próprios candidatos à presidência passam ao lado desta urgência. Parecem não ter entendido que o nosso mundo mudou.
Uma campanha de interesse nacional exige uma mobilização excepcional de meios. As razões são fáceis de entender: por ser vital para a protecção da saúde e a salvaguarda da vida dos cidadãos e por ser essencial para a restauração das actividades económicas.
Assim deveria ser com a campanha de vacinação contra a covid que agora deu o primeiro passo.
Mas aparentemente não está a ser tratada coma prioridade que deveria ter. Não vemos, como acontece noutros países da União Europeia, nenhuma logística especial a ser erguida. A decisão de pôr os centros de saúde no centro da campanha não inspira confiança alguma. Alguns desses centros pouco mais são do que vãos de escada, sem condições, sobrelotados, com funcionários que não têm mãos a medir, mesmo quando se trata de um funcionamento de rotina.
Pessoas de idade avançada, com mais de 75 anos, ao fazerem a simulação de quando poderá chegar a sua vez, receberam como resposta que serão vacinadas a partir de abril… Ou seja, um dia, no futuro longínquo, já depois do inverno e se tiverem sorte, que o vírus anda por aí aos pulos.
Acho surpreendente que os candidatos à eleição presidencial não façam cavalo de batalha deste tema. Há aqui, por parte do governo, uma muito séria falta de sentido de urgência. Um candidato presidencial não pode ignorar essa falha.