A meio da noite de hoje, Barack Obama devera' aparecer como o vencedor das eleições presidenciais americanas. Os níveis de participação eleitoral ultrapassam, neste momento, as expectativas, o que faz destas eleições uma competição a serrio e lhes da' uma legitimidade fora de par.
A vitória de Obama, a confirmar-se, marcara' um câmbio histórico nos Estados Unidos. Não só traduzira' a nova face da América, em todos os sentidos, incluindo uma América mais diversificada, menos europeia, mas será acima de tudo um reafirmar da dignidade das pessoas, independentemente das suas origens raciais.
Significara' também o renascimento da política de qualidade, serena, tolerante, informada e educada, elegante e intelectualmente estimulante. O conceito de liderança voltara' a ter um significado que sempre deveria ter tido: abrir o caminho, mostrar novas maneiras de encarar a vida em sociedade, saber ousar, saber antever, saber assumir as responsabilidades que a vida política acarreta.
O prestigiado jornal conservador Financial Times, um diário de referência mesmo para os leitores mais liberais, acaba de tornar pública a sua preferência pelo candidato democrata Barack Obama.
Esta escolha, que noutras circunstâncias seria impensável, mostra que Obama e' um politico excepcional, capaz de aglutinar um leque muito vasto de interesses.
Os Açores são uma região autónoma de Portugal que funciona satisfatoriamente. Há um verdadeiro debate político, o pluralismo de opiniões tem bem mais espaço de expressão do que na Madeira.
Mas as elevadas taxas de abstenção, as maiores de sempre, nas eleições legislativas regionais de hoje mostram que, como no resto do país, o cidadão esta' divorciado da prática democrática. Os políticos não convencem os eleitores, que os mede a todos pela mesma bitola: a do oportunismo.
A indiferença perante os actos eleitorais, sobretudo numa situação como a nossa, em que a ditadura das direcções partidárias impõem os candidatos, independentemente das suas qualidades e competências, mostra que há que repensar a democracia e a participação dos cidadãos nas causas públicas.
`A medida que a crise económica e a pobreza se agravam em Portugal, a resposta parece estar, para muitos portugueses, na possibilidade de um voto de protesto e de indignação nas próximas eleições legislativas.
Tendo em conta a nossa história política, e os padrões usuais de voto, o protesto far-se-á felizmente 'a esquerda. Não creio que um partido dirigido por uma personalidade como a do Dr.. Portas consiga captar essa tendência para o protesto.
Desde modo, não e' de estranhar que certos zunzuns de acordo entre os que provavelmente irão beneficiar desse protesto eleitoral se comecem a ouvir. Há como que um cheiro a namoro politico no ar. Embora ambos os namorados se façam caros, isso aumenta a parada...
Creio que vamos ter uma panorama político, nos próximos 12 meses, em grande mutação.