Este é o link para a minha crónica de hoje no Diário de Notícias. Cito, de seguida, um parágrafo do meu texto.
"Para além da aprovação do novo conceito estratégico, o desfecho do que está a acontecer na Ucrânia é que será verdadeiramente transformador. A cimeira de Madrid reconheceu que não se pode deixar a Rússia vencer o conflito que provocou. Nos tempos de hoje, a violação da lei e da ordem internacionais não deve trazer vantagens para o infrator. Já a reunião do G7, uma cimeira algo confusa nas vésperas do encontro de Madrid, havia chegado à mesma conclusão. Mas uma declaração desse tipo só tem valor se for traduzida em ações concretas que impeçam a vitória de Moscovo."
Este é o link para a minha crónica de hoje, publicada no Diário de Notícias. O título é uma chamada de atenção para a necessidade de firmeza quando se trata de defender e fazer aplicar os valores em que assenta a União Europeia. O texto concentra-se numa análise de duas grandes ameaças internas para a estabilidade e a credibilidade da União - o húngaro Orbán e o polaco Kaczynski - e da enorme ameaça externa que Erdogan representa.
Cito uma extracto do meu texto, como é habitual.
"A luta contra a corrupção e pelo bom funcionamento da justiça, sobretudo a sua independência, são dois aspetos fundamentais do projeto europeu."
O Presidente turco mandou bombardear um campo de refugiados curdos localizado bem no interior do Iraque. Estes curdos fugiram de perseguições na Turquia, tendo encontrado protecção no país vizinho, com o apoio de várias agências humanitárias e da ONU. Ao ordenar o ataque de hoje, Erdogan violou aspectos importantes da lei internacional e cometeu vários crimes, incluindo o crime gravíssimo de matar e ferir refugiados instalados num campo reconhecido pela comunidade internacional. A NATO não pode ter um membro assim.
Do outro lado do mundo, nos EUA, o ex-presidente Donald Trump falará daqui a pouco aos militantes do Partido Republicano. Espera-se todo um chorrilho de mentiras e de falsas acusações. Entretanto, o partido está mais louco do que nunca. Completamente dominado pelas fantasias de Trump, fez circular uma nova teoria conspirativa: durante a eleição de Novembro, os italianos enviaram drones que iam transformando cada voto por Trump num voto para Biden. É mais uma invenção extravagante, mas a verdade é que muitos eleitores republicanos acreditam nestas idiotices. O partido está num estado absolutamente lamentável. E Trump aproveita-se disso.
Mais ao sul, no martirizado Burkina Faso, aconteceu um novo extermínio de civis indefesos. A sua aldeia foi atacada por terroristas durante a noite passada. Ainda não se sabe exactamente quantas pessoas foram mortas, mas o número é superior a 135. Este ataque lembra-nos o drama que certas populações do Sahel estão a viver. Também nos diz que a insegurança continua a crescer. Com ela, vem mais miséria, deslocamentos de população, mais sofrimento.
Entretanto, decorreu a reunião dos ministros das finanças do G7. Houve acordo quanto à urgência de fazer pagar impostos às grandes corporações mundiais. É um passo em frente. Mas há que tornar a decisão efectiva. E isso irá demorar.
Na véspera do 75º aniversário da fundação da Organização das Nações Unidas, a assinatura de um cessar-fogo permanente na Líbia é uma excelente prenda de aniversário. Foi a missão da ONU nesse país, que está em guerra civil há nove anos, que conseguiu fazer sentar à mesma mesa as duas facções rivais e promoveu o acordo. É uma grande vitória para a ONU, nestes tempos em que os sucessos têm sido parcos. Agora, há que continuar o processo de negociações e criar as condições políticas para que o cessar-fogo seja respeitado.
Entretanto, o Presidente Erdogan mostrou que não está interessado na resolução da crise Líbia. Criticou o cessar-fogo. Ora, o momento exige que se apoie a vontade das partes em conflito. Começar, desde já, a duvidar da sinceridade dos líderes líbios só pode ter consequências negativas.
Terminamos o dia com uma situação muito complicada no Mar Mediterrâneo Oriental. O exercício conjunto, que a Grécia está a levar a cabo, com a participação das forças armadas de Chipre, França e Itália, é uma resposta forte à Turquia, que prolongou a prospeção de gás em águas contestadas pela Grécia. Trata-se, acima de tudo, de uma escalada do conflito que opõe os dois vizinhos, a Grécia e a Turquia.
Deixo acima o link para o meu texto de reflexão desta semana, publicado na edição impressa do Diário de Notícias de sábado, 22 de agosto.
Convido à leitura e ao comentário. A parte do comentário é muito impostante para mim. Um dos meus leitores sugere, por exemplo, que escreva da próxima vez sobre a Turquia. Respondo que só de pensar no título da coisa já fico a tremer. É um grande problema.
A Alemanha de Angela Merkel vai estar à frente da União Europeia neste segundo semestre do ano, que hoje começa. Esta é certamente uma boa notícia para quem acredita no projecto comum e sabe quais são as grandes dificuldades que o mesmo enfrenta. A Europa está numa crise única, 75 anos após o fim da guerra, que fora, obviamente, um outro período de grande perturbação.
As crises dividem as pessoas, os países e as relações entre os Estados, mesmo entre os aliados. A Chanceler terá que encontrar meios para resolver as fracturas que existem no seio da União. Essa é uma das tarefas mais urgentes. É a sobrevivência do projecto comum que está em jogo. Juntam-se a ela a negociação com os britânicos, as tensões com os americanos, os conflitos com os russos e os turcos, a problemática do relacionamento com a China, e tudo o resto, que inclui a Síria, a Líbia, o Sahel, as migrações e o clima.
Não faltam problemas para resolver. Têm faltado liderança e coragem política. É nesses domínios que espero ver algum movimento. Angela Merkel vai ter que marcar a agenda, exercer uma presidência activa. Creio que o fará, na medida em que esta presidência surge nas vésperas da sua saída da cena política – prevista para o próximo ano – e que uma das suas preocupações deverá ser a de deixar um legado europeu durável.
Vamos começar o semestre com alguma pitada de optimismo, coisa difícil de arranjar nestes tempos bem complicados.
Um editorial do diário Le Monde apelava, no início da semana, para que a União Europeia se mostrasse “solidária, firme, realista e humanitária”. O tema do editorial tinha que ver com a situação que existe na fronteira terrestre entre a Grécia e a Turquia.
As palavras escritas soavam bem. Todavia, em termos reais, eram vagas e contraditórias. Como tantas vezes acontece, foram produzidas para esconder as imensas contradições que existem ao nível da realidade no terreno e, ao mesmo tempo, para dar a impressão que os valores da moral e do humanismo não estão postos de parte.
No fundo, é mera conversa de intelectuais, que nada acrescenta à solução do problema concreto. É frequente ver-se muita parra e pouca uva. Esse era apenas um exemplo mais.
Entretanto, quem tem que tomar decisões e fazê-las aplicar decidiu mobilizar meios adicionais de polícia e de controlo fronteiriço para a zona em causa. A isso, juntar-se-á uma deslocação a Ancara do Presidente Macron e da Chanceler Merkel na próxima semana. Perante isso, fica a pergunta de essa iniciativa de ambos está ou não a ser coordenada com os dirigentes das instituições europeias.
A gravíssima crise internacional nas áreas da saúde pública e da economia teve hoje uma expansão significativa, acompanhada pela introdução de novos factores negativos e de grande impacto. De entre eles, sublinho as perdas vastíssimas nas áreas financeiras, com um impacto enorme nos fundos de pensões e na capitalização das empresas, a concorrência para o abismo no que respeita aos produtores de petróleo e o agravamento da situação político-militar no Afeganistão. Sublinharia igualmente as tensões entre a Turquia e os seus vizinhos, incluindo os vizinhos europeus.
Estamos agora numa situação de grande complexidade. As variáveis são muitas e o nível de incerteza é bastante alto. Isso explica o pânico que existe em certos círculos. E exige muita clareza e uma grande dose de serenidade por parte de quem tem o poder. É um desafio de liderança, a todos os níveis, como não há memória nos últimos setenta e cinco anos.
A actualidade de hoje está cheia de acontecimentos e de notícias importantes. Temos a situação na fronteira turco-grega, a expansão da pandemia do Covid-19, o impacto económico que provoca, incluindo as enormes percas nas bolsas de valores e a quase falência das companhias de aviação, o encontro entre Vladimir Putin e Recep Tayyip Erdodan, Idlib na Síria, a Guiné-Bissau, a saída de Elizabeth Warren da corrida presidencial nos Estados Unidos, o PM António Costa a tentar ultrapassar a lei sobre a construção do novo aeroporto, etc, etc.
Para mim, a escolha é, no entanto clara: deixar aqui uma palavra de homenagem e uma expressão de grande pesar pelo falecimento de Javier Pérez de Cuéllar, que foi meu chefe supremo na década de 80 e por quem sempre tive muito apreço. Era um homem bom, excepcionalmente bem-educado, um mediador ímpar, um Secretário-Geral que não gostava de protagonismos pois achava que a preocupação com a visibilidade o impediria de fazer o muito que fez. Respeitado por todos, capaz de fazer a ligação entre os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, esteve à frente de alguns dos mais significativos processos de paz que muito prestígio trouxeram à ONU e que mudaram a vida de milhões de pessoas. Por isso, o destaque de hoje tem que ir para ele.