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Vistas largas

Crescemos quando abrimos horizontes

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Crescemos quando abrimos horizontes

O novo Boris Johnson

Boris Johnson ganhou as eleições legislativas britânicas. De uma maneira clara, seja qual for o prisma de análise dos resultados. Tem o poder nas mãos, de modo absoluto. É ele quem manda, no governo e no Parlamento. E isso poderá continuar assim, nos próximos quatro ou cinco anos de mandato. O que mostra que um líder forte, na chamada democracia britânica, usufrui de um nível incontestável de autoridade. Os outros poderão dizer o que entenderem, fazer o barulho que quiserem, no Parlamento ou fora dele. Mas quem manda é o Primeiro-Ministro, quando esse lugar é ocupado por uma personalidade como Johnson e, por outro lado, quando dispõe de uma maioria muito folgada, em Westminster.

Para além do Brexit, Boris Johnson irá propor uma série de medidas, incluindo uma que reduza o poder do Tribunal Supremo, que limite a sua capacidade de controlar os abusos de poder vindos da Primatura ou do Parlamento. Também aqui fica claro que a democracia de que se fala é mais cosmética do que uma beleza política de facto.

Boris Johnson ganhou porque soube mostrar determinação, clareza, foco e repetir constantemente as mesmas três ou quatro mensagens-chave. Prometeu a Lua e mais um ilusão, mas evitou prometer um catálogo sem fim de medidas, que por serem muito diversas, perdem-se na cabeça dos eleitores e arruínam a sua credibilidade. Mas ganhou, acima de tudo, por ter sabido bater a tecla do Brexit. A opinião pública estava farta do tema, das divisões que acarretava. Votar em Johnson significaria fechar esse capítulo.

Agora que tem o poder nas mãos, Boris Johnson poderá tentar a via da moderação. Sabe que essa é a única maneira de manter o reino unido. Terá, nomeadamente, que mostrar resultados na Escócia. Mas, não será fácil. O processo de desintegração do Reino Unido – agora com maiusculas – aprofundou-se com as eleições de ontem.

Do lado europeu, há que manter uma posição que mostre interesse na continuação de uma relação privilegiada com Londres e Boris Johnson. Creio que assim acontecerá.

Sobre o Brexit

            Cameron, um equilibrista sem rede

            Victor Ângelo

 

 

 

            Seria impensável não voltar a escrever sobre o Brexit. Trata-se de longe da questão mais importante da cimeira desta semana do Conselho Europeu. Depois disso, será a corrida para o referendo, previsto para finais de junho. Os eleitores britânicos terão na altura que se pronunciar sobre a permanência ou não do seu Reino na UE.

            Os chefes de estado e de governo deverão aprovar as soluções propostas por Donald Tusk há cerca de quinze dias. São razoáveis, inspiradas por uma vontade de se chegar a um acordo. Respondem, na medida do que é possível quando o que está em jogo é o consenso de 28 estados, às preocupações de David Cameron. E tudo isto deve ser dito de modo claro, pelos dirigentes dos estados membros.

            Não se pode, no entanto, ir mais além e abrir a porta a mais e mais concessões. O Reino Unido já está fora do Euro, de Schengen, das políticas comuns sobre a justiça, a segurança interna e as migrações. Ou seja, quando não lhe convém não aceita o princípio básico do projeto europeu, o da soberania partilhada. Tem, desta vez, que ficar claro que Londres não pode continuar a exigir sol na eira e chuva no nabal. É o momento da verdade. Ou o Reino Unido pega no que está agora em cima da mesa ou então, estaremos conversados. Já se gastou tempo e energia suficientes com um assunto que, à partida, era fundamentalmente um artifício de liderança partidária, um problema interno do Partido Conservador, e que acabou por se transformar numa ameaça muito séria à existência da UE.

            É sabido que muitos no Reino Unido consideram o acordo insuficiente. Dizem que Cameron está apenas a obter uma mão cheia de nada, simples vacuidades. Assim, para começar, iremos assistir este fim-de-semana ao esfrangalhar da unidade no seio do governo britânico. Um número significativo de ministros começará então a fazer campanha pelo Brexit, opondo-se deste modo à posição do primeiro-ministro. Esta cisão, reforçada pela que já existe no seio do grupo parlamentar conservador, e a vitória quase certa do voto pelo abandono da União, no referendo de junho, levam-me a pensar que David Cameron tem os dias contados, enquanto líder do seu partido e do governo.

            A rutura com a UE terá certamente um impacto económico negativo no PIB britânico. Mais grave ainda, uma votação contra a Europa voltará a colocar na ordem do dia a possibilidade da independência escocesa. O partido no poder em Edimburgo é europeísta. Se o campo do Brexit ganhar, os dirigentes da Escócia não perderão a oportunidade de reabrir o debate independentista. E o que foi uma derrota por poucos, em setembro de 2014, poderá tornar-se em breve num sim sem hesitações ao fim do Reino Unido.

            Seria um erro não falar dos riscos para o todo europeu. O mais perigoso, no meu entender, diz respeito à caixa de Pandora que o referendo britânico poderá abrir. Movimentos nacionalistas e partidos populistas, noutros estados europeus, poderão querer tirar vantagem política do precedente que se está a criar. Teríamos assim algumas tentativas oportunistas de referendos aqui e acolá, num jogo de demagogia e de luta pelo poder. Entraríamos, então, numa espiral incontrolável. E que seria aproveitada pelos inimigos, internos e externos, de uma Europa unida.

            Por tudo isto, a cimeira de Bruxelas tem que ser clara no tratamento do Reino Unido. E pôr um ponto final à discussão. Num clima como o atual, não deve haver espaço para mais hesitações. Quanto ao referendo, cabe a Cameron e aos seus compatriotas manter o equilíbrio até junho. E a melhor maneira de o conseguir, diz-nos quem sabe de coisas de circo e de política, é levantar o olhar e fixá-lo no futuro.

 

 (Texto que hoje publico na Visão online)

 

Escócia

Há 15 dias escrevi na Visão que o voto pela independência da Escócia seria um erro, por várias razões, incluindo por constituir um encorajamento aos diversos populismos e nacionalismos bacocos e retrógrados que estão a aparecer em vários cantos da Europa. Previ, nessa altura, que o “não” ganharia de maneira clara e sem apelo. Alguns amigos meus pensaram então que a minha opinião era pouco prudente, pois o “sim” parecia estar de vento em popa. Acharam mesmo que eu me arriscava a perder alguma credibilidade em matéria de análise de política internacional.

 

O resultado do referendo, hoje conhecido, traduziu-se numa estrondosa vitória dos que se opõem à independência. A minha previsão bateu certa. E as ambições dos que querem fragmentar ainda mais uma Europa que precisa de estar unida sofreram uma derrota bem significativa.

 

Agora, como escrevi na altura, vai surgir o verdadeiro problema para a Grã-Bretanha: o que fazer em relação à União Europeia. Essa é a questão em cima da mesa. Essa é a questão existencial. Cameron não estará à altura de a resolver. Como também não esteve à altura do desafio escocês. Se não fosse a ajuda dos Trabalhistas, em particular de Gordon Brown, Cameron teria sido confrontado com enormes dificuldades perante a consulta popular escocesa.

 

Um número importante de ingleses irá votar, se houver um referendo sobre a Europa, contra a União. Com a Escócia dentro do Reino Unido, uma parte dos votos contra a Europa será anulada por votos a favor da Europa, vindos do lado escocês. Mas isso não será suficiente.

 

E, infelizmente, não creio que os Trabalhistas de Ed Miliband consigam chegar ao poder antes do referendo.

 

A satisfação de hoje não nos pode fazer esquecer os problemas que se avizinham. E os riscos que um primeiro-ministro fraco acarreta.

A Escócia e o futuro do Reino Unido

Transcrevo o texto que hoje publico na revista Visão.

 

 

Fragilidades britânicas

Victor Ângelo

 

Num almoço recente, em que se discutia o referendo sobre a independência da Escócia, Mark, coronel do exército de Sua Majestade, contou-nos a sua experiência pessoal. Casado há muito com uma escocesa proveniente de um dos clãs das terras altas do norte do país, disse-nos que a família da mulher continua a olhar para ele com desconfiança e a tratá-lo de maneira distante. A razão é clara: Mark é inglês. Na Escócia profunda continua a existir uma gama de preconceitos negativos contra todos os que vêm do lado sul da velha fronteira, ou seja, os ingleses. É aí, nas águas turvas do pântano identitário e das ideias feitas, dos simplismos, que Alex Salmond, o líder do governo escocês e campeão do movimento independentista, vai à pesca de votos. O resto está resolvido. A devolução e a descentralização do poder constam do quadro constitucional vigente, que já concede autonomia total à Escócia em matérias tão importantes como as relativas à produção das suas próprias leis, à educação, saúde, finanças e organização política interna. Até a Igreja da Escócia é independente da Igreja da Inglaterra!

 

Salmond, como outros populistas noutros cantos da Europa, sabe que os sentimentos nacionalistas estão a dar votos. Deita então mais achas para a fogueira ao acenar com miragens de maior riqueza – os recursos do petróleo do Mar do Norte ficariam então na Escócia livre – e de uma sociedade a funcionar melhor, uma vez liberta do peso dos pobres, que seriam contidos do outro lado da fronteira. Fica, no entanto, calado quando lhe dizem que a independência traria um impasse infindável, no que respeita à integração na UE. A Espanha opor-se-ia, com unhas e dentes, à candidatura de adesão que pudesse resultar de um voto favorável à independência a 18 de setembro. O mesmo aconteceria com a Itália, a França e outros, para não estar a mencionar o governo de Londres. Convém acrescentar que mesmo um processo de associação à moda da Noruega parece inaceitável para certos estados membros.

 

Os nacionalismos arrebatados – incluindo em Portugal, com toda a retórica extremista que por aí anda sobre as vantagens que teríamos se viéssemos a sair da moeda única – têm sido a desgraça da Europa, ao longo dos tempos. Agora são, acima de tudo, uma distração política potencialmente perigosa, que desvia as atenções dos verdadeiros problemas: o impacto da globalização nas economias e no emprego europeus, o relacionamento com a Rússia e com as margens sul e oriental do Mediterrâneo, a radicalização de cariz religioso e cultural em certos países da UE, a precariedade social crescente, sem esquecer a complexa crise política que agora está a minar, muito a sério, o processo de construção europeia.

 

A Escócia irá provavelmente votar contra o absurdo que Salmond representa. Oxalá! Mesmo que isso não venha a retirar muito vento às velas independentistas da Catalunha – e a Catalunha é um problema bem mais sério, capaz de abalar a estabilidade política e económica de Espanha, o que também acabaria por ter um enorme impacto em Portugal – permitirá esfriar alguns entusiasmos separatistas noutras partes da Europa. E ajudar a Grã-Bretanha a concentrar-se na questão que de facto vai condicionar o seu futuro: a relação com a UE. É aí que a porca torce o rabo. Se a opinião pública britânica se virar contra a Europa – esse risco é cada vez maior – as consequências serão enormes. A possibilidade da deriva britânica passa mais por Londres e Bruxelas que por Edimburgo.

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