O caso Skripal e as relações da UE com a Rússia, a re-eleição de Vladimir Putine, a nova coligação chefiada por Angela Merkel, agora legitimada na Alemanha, a questão da imigração, a felicidade na Finlândia e nos países nórdicos: estes foram os temas que abordámos esta semana, no Magazine Europa da Rádio TDM de Macau.
Passei o dia a discutir alguns dos grandes desafios que a Ásia Central – as cinco antigas repúblicas soviéticas – tem pela frente. E já no final do dia, um jornalista conhecido telefonou-me de Lisboa, a perguntar qual era a minha opinião sobre a prestação de Kristalina Georgieva nas Nações Unidas. A verdade é que estava muito longe desse assunto. Disse-lhe que ainda não tinha informações sobre a matéria. E lembrei que neste momento há muitos especialistas em questões onusianas no panorama intelectual lisboeta. Talvez fosse melhor perguntar-lhes a opinião, sobretudo aos do costume.
E esperar por quarta-feira, pela próxima volta, no Conselho de Segurança.
Já depois disso, soube duas ou três coisas. Que o embaixador do Quénia junto da ONU, o meu antigo colega Macharia Kamau, que também desempenha as funções de presidente do Fundo das Nações Unidas para a Consolidação da Paz, o que lhe dá uma voz grossa, achou que Georgieva pode ter aparecido à última hora, mas ainda “apareceu a tempo e no tempo preciso”. Interessante. E mais. Que os Nórdicos estão a fazer campanha pela nova candidata. Consideraram que a senhora teve um desempenho de qualidade e que é a altura de ter uma mulher no cargo. Uma mulher bastante competente, acrescentam. Finalmente, que os russos acharam bem que ela se exprimisse na sua língua, ao fazer as suas intervenções.
A isto junta-se a geopolítica – o Leste europeu – e o género.
Do outro lado, temos António Guterres. Um candidato que toda a gente sabe que é muito forte.
Uma vez mais, uma viagem, gente a consumir nos aeroportos e aviões cheios. Não dá para falar de crise, nem ninguém pensa em crise. É a prova que ainda existe um mundo à parte. Nesta parte do mundo. Muito longe da porta mesmo ao lado.
Amanhã viajo de novo para Stavanger, na Costa Ocidental da Noruega. Stavanger é um perfeito exemplo de uma cidade rica num canto perdido do fim do mundo. Vive-se bem e em segurança nessa terra. Mas a vida, sobretudo nesta altura do ano, é um aborrecimento. Não há nada para fazer, não há animação, é apenas trabalho e casa, casa e trabalho. Com chuva e vento, como será o caso nos próximos tempos.
Viajo, amanhã cedo, para a Estónia, para falar de segurança internacional, do conceito de segurança humana e dos processos de resposta às crises. Passei uma boa parte dos últimos dias a preparar os temas. E a informar-me sobre a Estónia, que é um país que gosta de ser visto como mais escandinavo do que báltico, ou ambos, talvez. É dos países europeus com menor dívida pública. Funciona bem.
É curioso ver um pequeno país à procura de projecção internacional. E a consegui-la, primeiro como agregador dos dois outros países bálticos, depois, dando uma formação académica aos seus jovens que os prepara para a sociedade global.
Os temas que vou tratar despertam um novo tipo de interesse naquela parte do mundo. Até na Rússia, que organiza o primeiro curso com uma participação ocidental sobre crises violentas e a resposta da comunidade internacional de 21 a 23 de Junho. Estava previsto falar nesse curso. Mas a minha operação ao nariz, marcada agora para uns dias antes, obriga-me a uma privação de vodka e de viagens de avião.
Quem tem um nariz sensível...Mas é apenas por uns dias.
Ontem, a convite de David Cameron, realizou-se, em Londres, uma cimeira dos países do Norte da Europa. Foi a primeira vez. Da Islândia à Estónia, lá estiveram todos os escandinavos e os bálticos, à volta do primeiro-ministro britânico. Chamei a esta reunião a cimeira dos olhos azuis. Mas, não eram só os olhos. Dos sete homens presentes -havia também duas mulheres- seis apresentaram-se com gravatas de tons azuis. Ou seja, o azul era a cor dominante, nesta reunião de gente que se considera de grande seriedade e na ponta do progresso social.
Na realidade, e na simbologia, era um encontro de gente semelhante, "think alike people", como os ingleses gostam de dizer. Uma espécie de afirmação política contra a Europa do Sul. Para mostrar que há uma parte da Europa que funciona, que não está em crise, salvo, claro, o caso da Islândia, que aposta na inovação, na igualdade do género e que promove uma economia verde. Estes foram os três grandes temas do encontro.
No próximo ano vão voltar a encontrar-se, dessa vez, na Suécia.
Tudo isto mostra que a tendência para um rearranjo dos grupos de países, até mesmo no seio da UE, é cada vez mais evidente. Grupos que, há vinte ou trinta anos faziam sentido, estão agora, de um modo mais ou menos sub-reptício, a ser postos em causa. É tempo de novas alianças.
Mostra também que a aproximação geográfica traz consigo a proximidade cultural e esta leva à procura de novos entendimentos políticos.
Feitas as contas, este tipo de iniciativas vem sublinhar, uma vez mais, a fragilidade da UE, que passa a ser cada vez mais, e apenas, um mercado que permite a livre circulação das mercadorias. Mas que não tem unidade política nem uma identidade comum.