Não me cabe fazer comentários sobre a política interna de Espanha, no dia seguinte a um acto eleitoral especialmente importante para o povo espanhol. Digo isto sobretudo por duas razões: o país tem um contexto político muito complexo, que tem as suas raízes na cultura nacional, nas décadas de franquismo e na existência de profundos sentimentos nacionalistas; por respeito para com o povo de Espanha, a começar pelo pai do meu neto e o meu neto, que são sevilhanos de gema e patriotas como é frequente no país aqui ao lado.
Mas quero, apesar de tudo, fazer três observações genéricas: primeiro, terá de haver um governo de coligação, que consiga reunir a maioria nas Cortes que será necessária para funcionar; segundo, acho um erro qualquer coligação que englobe a extrema-direita ou partidos que são contra a unidade nacional; terceiro, o povo espanhol quer um governo ao centro, capaz de representar quem votou pelo centro-direita e pelo centro-esquerda.
Na realidade, a política na União Europeia precisa de ultrapassar os velhos conceitos do século passado e criar uma governação menos antagónica e mais equilibrada.
Essa é a leitura que cada vez mais me parece evidente. E que é difícil de aplicar por duas razões: os políticos continuam a pensar segundo esquemas mentais passados; os partidos estão mais interessados nos seus próprios interesses, no oportunismo dos seus dirigentes, que no futuro das suas populações.
A cidade de Elvas beneficia da proximidade que tem com Badajoz e da autoestrada que liga Lisboa a Espanha e continua por aí fora. Parece, além disso, ser uma localidade bem gerida. Tem, igualmente, uma população estrangeira residente, vinda de outros países da União Europeia. É, certamente, uma cidade que vale uma visita.
Primeiro, foram os britânicos. Agora, são os espanhóis, o governo socialista de Pedro Sánchez, que nos fecham as fronteiras, sem qualquer tipo de diálogo, sem aviso prévio. De ontem para hoje, passou a ser necessário provar que se completou o processo de vacinação ou mostrar um teste negativo, para poder atravessar as fronteiras terrestres. O documento deve estar escrito em espanhol, ou inglês, francês ou alemão. Em português não serve. A não-apresentação dessa prova acarretará uma multa de 3 000 euros, se a falta for considerada ligeira e sem más-intenções. Caso contrário, vai por aí acima, podendo chegar aos 600 mil. Sim, 600 mil euros de multa.
Tudo isto foi decidido durante o fim-de-semana em Madrid. Lisboa foi ignorada e a Comissão Europeia, que está a preparar um passaporte digital para todo o espaço Schengen – deverá entrar em vigor a 1 de julho – também não foi tida em conta.
Na realidade, quer os britânicos quer os espanhóis estão a tentar impedir os seus cidadãos de ir de férias ao estrangeiro. É uma espécie de salve-se quem puder.
Tudo isto são más notícias para Portugal e para a União Europeia.
Ao organizar o movimento de milhares de pessoas, incluindo um grande número de crianças, em direcção a Ceuta, Marrocos cometeu um acto hostil contra Espanha e a União Europeia. Utilizou a miséria para tentar fazer pressão política sobre Madrid.
Convém que fique claro que esse tipo de decisões é inaceitável. E que tem consequências no que respeita ao relacionamento da União Europeia com o governo de Rabat. Nestas coisas é importante mostrar firmeza.
Entretanto, quem sofre são as pessoas, homens, mulheres e crianças, que são assim manipuladas por quem manda em Marrocos.
O tempo das cerejas está a chegar ao Alentejo. E as caixas das ditas são todas de origem espanhola. Vendidas à beira das estradas, por particulares que enchem carrinhas com a mercadoria, não deu para perguntar qual é o circuito de comercialização que é seguido. Tudo parece seguir rotas informais. Só sei que 10 euros permitem levar dois quilos para casa.
O link acima abre o meu texto de hoje no Diário de Notícias. Nessa crónica faço uma breve análise da ambição espanhola relativa a África.
Cito, de seguida, um parágrafo desse texto, como sendo um convite à leitura completa da crónica.
"A visita a Angola deixou claro que se trata de ocupar o maior espaço económico possível, da agricultura e pescas aos transportes e à energia. Existem mais de 80 projetos de investimento espanhol já em curso ou em fase de arranque. Parece haver igualmente a intenção de contar com Luanda para ajudar Madrid na normalização das relações com a Guiné Equatorial, que foi a única colónia que Espanha teve ao sul do Saará e que agora faz parte da CPLP. À primeira vista, estas diligências parecem estar em competição direta com os interesses de Portugal. Ora, o conhecimento das complexidades de Angola e da Guiné Equatorial aconselhariam a um esforço conjunto por parte dos dois Estados ibéricos."
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, visita a partir de hoje, e até sexta-feira, Angola e o Senegal. Acompanham-no vários chefes de grandes multinacionais espanholas. Serão assinados acordos de investimento, comerciais e outros, sobretudo com Angola.
Esta deslocação corresponde ao lançamento do plano espanhol Foco África 2030. Tive a oportunidade de ler o documento. É um plano bem feito, claro e ambicioso. Aí se diz sem rodeios que a Espanha quer ser o país líder, dentro da União Europeia, no que respeita a África. E definem-se as prioridades e os países prioritários. Para além dos três mais importantes, que são designados como pontos de ancoragem de Espanha em África – Nigéria, Etiópia e África do Sul – são considerados prioritários o Senegal, a Costa do Marfim, o Gana, o Quénia, a Tanzânia, Moçambique e Angola.
Para garantir o bom seguimento do plano, serão reforçadas as embaixadas de Espanha em África, bem como as delegações comerciais e as Técnicas de Cooperação. E haverá um contacto muito mais frequente com os dirigentes africanos e os embaixadores de países africanos representados em Madrid.
Foco África 2030 levantará certamente muitas interrogações em Paris e, creio, em Lisboa. Estas duas capitais não deixarão de fazer uma leitura muito atenta das intenções espanholas.
Os números de infectados pela pandemia estão de novo a subir, em vários países europeus. Estes surtos têm levado à adopção de medidas de controlo e a decisões sobre quarentenas que não estão a ser bem recebidas pelas populações. No Reino Unido, por exemplo, as alterações de um dia para o outro, no que diz respeito à necessidade de quarentenas, tem baralhado as pessoas, afectado os mercados financeiros e criado novas dificuldades para áreas importantes da economia. Também provocam tensões políticas entre Londres e outras capitais europeias.
A verdade é que a pandemia continua activa e que a prudência deve ser a linha mestra a guiar a actuação de cada um de nós. É igualmente verdade que os impactos ao nível económico e psicológico são enormes. Estamos a entrar num processo de ruína, para muitas empresas. A duração da crise torna a recuperação muito mais difícil. E acabará por ter uma influência muito negativa nas finanças públicas e na solvabilidade do sistema bancário. Os bancos estão a acumular créditos incobráveis. As garantias desses créditos são projectos inacabados e impossíveis de transformar em dinheiro.
Ao nível psicológico, preocupa-me sobremaneira as crianças que não podem ir à escola e que estão isoladas nas suas habitações, com pouco ou nenhum contacto com outras crianças das suas idades.
Temos que estar cientes que o choque é enorme e que vai demorar um tempo longo para poder ser absorvido. Assim, quanto mais responsáveis e cuidadosos formos no nosso dia a dia e nas nossas actividades sociais melhor. É a contribuição que se espera de cada um.
A eleição do ministro das Finanças da Irlanda, Paschal Donohoe, como líder do Eurogrupo e sucessor de Mário Centeno deve ser vista como uma vitória das ideias económicas e orçamentais liberais. Também representa um triunfo para os países do Norte da Europa, que defendem uma linha de menor intervenção estatal na economia e impostos mais baixos para as empresas. Donohoe é um político do centro-direita, a família política que neste momento mais pesa na União Europeia. É muito vivo e explica-se bem. Por isso e por ter o apoio dos Estados economicamente mais saudáveis, pode-se esperar que desempenhe um papel activo na presidência do Eurogrupo. Terá, no entanto, que encontrar um ponto de equilíbrio entre a sua preferência pelo liberalismo económico e as políticas mais intervencionistas preconizadas pela França, Itália e Espanha.
Por estupidez ou para fazer um jogo barato e enganador, há por aí quem diga que certos Estados membros têm como modelo de união monetária uma Europa de desigualdades, com níveis económicos diferentes. É falso.
Que existem diferenças, é um facto. Mas o objectivo tem sido, nomeadamente através dos fundos de coesão e outros, a promoção da convergência económica e social. Nalguns casos, a convergência ganha terreno. Por exemplo, na República Checa ou em Espanha. Noutros, ainda há muito caminho para percorrer. Para esses, com o tempo, o atraso acumula-se e em vez de haver convergência, há, isso sim, divergência. O que acaba por provocar novas tensões entre os Estados e dá espaço aos que têm como postura criticar a União Europeia, por tudo e por nada. Mas, quem é responsável por se deixar ficar para trás?