Marrocos investe imenso em questões de espionagem, contraespionagem e serviços secretos. Tem agentes infiltrados em vários países e instituições. Bruxelas e as agências europeias são um dos alvos preferidos.
Soube-se agora que os mesmos indivíduos que no Parlamento Europeu trabalhavam clandestinamente a favor de Qatar também o faziam para Marrocos. Um dos objectivos era conseguir que a UE proporcionasse um tratamento favorável aos interesses marroquinos, em várias áreas, da pesca ao comércio, passando pela apreciação positiva da prática dos direitos humanos em Marrocos. E que não reconhecesse qualquer tipo de contacto ou de actividade que tivesse de ver com a Saara Ocidental.
Estamos à beira de ataques cibernéticos em massa contra alvos na Ucrânia e nos estados-membros da União Europeia. Os objectivos são de duas ordens: criar uma complexa paralisia de serviços essenciais; roubar informação sensível.
O ataque contra o Ministério dos Negócios Estrangeiros português terá visado a obtenção de informação sensível. Aparentemente, foi um ataque com sucesso.
Ficou-se agora a saber que os serviços secretos de inteligência das forças armadas dinamarquesas ajudaram os americanos, até 2014, a ter acesso e a espiar todo o tipo de comunicações de Angela Merkel e de outros dirigentes alemães, franceses, noruegueses e suecos. Ou seja, um país da União Europeia conspirou contra outros Estados-membros, incluindo os vizinhos nórdicos e os dois países mais poderosos da UE.
Dirão que se trata de factos já antigos, que agora é tudo limpo. Acredito que o governo dinamarquês tenha posto um termo a isto. Mas fico com dúvidas sobre o que os serviços americanos andam a fazer em relação aos dirigentes europeus.
Isto mostra, mais ainda, que quem controla os cabos e os sistemas de comunicação consegue saber tudo sobre os alvos que tenha escolhido. Assim, a discussão sobre a segurança cibernética e, em particular, sobre quem vai fornecer os sistemas 5G, é mais necessária do que nunca.
Muitas das informações recolhidas nunca são devidamente ou mesmo, minimamente, exploradas. Mas as relacionadas com gente chave são passadas a pente fino.
Entretanto lembrei-me dos meus tempos na Tanzânia, quando andava a tratar da falsificação dos resultados das eleições presidenciais em Zanzibar. Um dos meus interlocutores quase diários era o Vice-Presidente da República. Quando me reunia com ele, o VP fazia sempre questão de responder a questões que eu havia discutido, “confidencialmente”, com os embaixadores ocidentais. O VP estava a par de tudo, embora nada tivesse transpirado. O sistema de escutas e de espionagem funcionava bem. Depois da resposta que me dava, eu pegava na matéria e argumentava com ele, como se o assunto tivesse sido posto em cima da mesa durante o nosso encontro. Nunca lhe perguntei como sabia de conversas em que não havia participado. Mas fui tirando proveito da espionagem, para lhe dar a conhecer o que preocupava os principais parceiros da Tanzânia. Assim, não precisava de o confrontar directamente com factos muito sérios. Ele é que os punha em cima da mesa.
Este é o link para o meu texto desta semana no Diário de Notícias.
Entretanto, o ainda presidente Donald Trump veio contradizer tudo e todos, incluindo o seu querido Mike Pompeo. Veio dizer que talvez não tenham sido os russos que têm andado a espionar os diferentes departamentos estratégicos federais e as grandes empresas americanas. Não há dúvida, como já se sabia, que Trump está no bolso de Vladimir Putin. Também não tenho dúvidas sobre o seguinte: a sua saída do poder, por haver perdido as eleições, é um grande alívio. Trump é um líder muito perigoso.
Ao longo do dia, muito se tem dito sobre o avião ucraniano que foi abatido pelas Forças Armadas do Irão. Quero apenas acrescentar duas observações.
A primeira, para sublinhar que o erro cometido mostrou, novamente, que existe uma oposição interna muito corajosa. Esteve na rua hoje, para pedir a demissão do líder religioso do Irão, o Aiatolá Ali Khamenei, e de outros dirigentes. Tais manifestações, num regime totalitário como o que esse país sofre, exigem de quem nelas participa uma coragem à prova de bala.
A segunda nota é sobre a colheita de informações. O disparo contra o voo comercial foi captado em vídeo pelos serviços secretos dos Estados Unidos. Isto lembra-nos que Washington tem uma capacidade ímpar, quando se trata de espiar um outro país. Mesmo um país como o Irão, que investe de maneira excepcional na protecção das suas informações de segurança.
A 22 de Fevereiro, um comando de dez indivíduos introduziu-se na embaixada da Coreia do Norte em Madrid. No termo dessa operação, conduzida de uma maneira altamente profissional, foram roubados vários tipos de ficheiros informáticos. O cabecilha do comando viajou de imediato para Lisboa e daí para Nova Iorque. Os outros desapareceram na imensidão das sombras das operações secretas.
Desde então, quase dois meses passados, nada mais se soube sobre a investigação que a justiça espanhola tem em mãos. Aparentemente, o inquérito não avança, para além da identificação de mais dois ou três membros do grupo, gente ligada aos Estados Unidos e à Coreia do Sul.
É verdade que uma intervenção deste género só pode ter sido orquestrada por um serviço de espionagem ou secreto bem rodado. E quando isso acontece, o silêncio é a resposta habitual.
Sob a coordenação de Hélder Beja, a jornalista baseada em Macau Catarina Domingues continua a ser a minha interlocutora semanal sobre questões europeias. Fá-lo com grande nível. Aprecio imenso a maneira como organiza o programa Magazine Europa e as questões que me coloca. Cada programa é um desafio.
Esta semana falámos novamente da Rússia e do caso Skripal, bem como sobre a Turquia, a natalidade, o aborto e a Igreja Católica na Polónia e ainda sobre o envelhecimento das populações europeias.
O caso Skripal e as relações da UE com a Rússia, a re-eleição de Vladimir Putine, a nova coligação chefiada por Angela Merkel, agora legitimada na Alemanha, a questão da imigração, a felicidade na Finlândia e nos países nórdicos: estes foram os temas que abordámos esta semana, no Magazine Europa da Rádio TDM de Macau.
A situação das mulheres na UE, as disparidades entre os sexos, o conflito comercial entre os Estados Unidos e a Europa e também o possível encontro entre Donald Trump e Kim Jong-un, visto a partir de Bruxelas: estas foram as principais áreas de comentário,no quadro da minha contribuição desta semana para o Magazine Europa da Rádio TDM de Macau. E fiz igualmente uma breve referência ao ataque contra um antigo agente duplo russo mas agora residente no Reino Unido, um tema inevitável para quem tinha que falar sobre a semana que se viveu na Europa. .
O sítio digital para ouvir este programa é o seguinte: