Agora, sobre as eleições europeias que se aproximam.
Na corrida para Estrasburgo, Manon Aubry é a cabeça de lista do partido esquerdista de Mélenchon, La France Insoumise. Jovem, combativa, estreia-se assim na política, depois de ter representado OXFAM nos corredores do Parlamento Europeu.
Claire Nouvian fundou, no ano passado, Place Publique – um partido do centro-esquerda francês, próximo dos ecologistas e de certas correntes do Partido Socialista. Igualmente jovem e candidata ao PE, tem sido uma activista em Estrasburgo e Bruxelas na área da protecção e da conservação dos mares.
Ambas representam a nova vaga de políticos em França e uma maneira de olhar para a Europa que se quer mais progressista.
Na edição de hoje do quotidiano parisiense Libération aparece publicado um debate entre ambas. Deixou-me desanimado, eu que acredito na necessidade de uma visão jovem do futuro da UE. As ideias que defendem são meras banalidades. Nada de profundo. Lugares comuns, ideias feitas e ocas, actos de fé, e mais nada. A política das palavras sem sentido, que não chegam às pessoas.
Fiquei mais uma vez convencido que assim não se pode pensar numa Europa com futuro. E que as eleições para o Parlamento Europeu continuam, em 2019, vazias de projectos. Fala-se e quere-se uma renovação e o que aparece é o eco de coisas já ditas e cansadas.
Dizer que a União Europeia está à deriva, é uma mentira política. Um slogan falso e barato, que cai bem nos círculos mal-informados e nas discussões entre radicais. É mais um engodo.
Não está. Apesar de ser uma união de Estados soberanos – e não é fácil concluir acordos entre Estados que sempre se guerrearam e que conheceram grandes rivalidades nacionais –, a verdade é que se continua a avançar em muitas áreas de interesse comum e que a UE é hoje um espaço de paz, de liberdade e direitos. E de prosperidade, apesar de tudo o que se diz sobre as dificuldades da classe média.
Quem anda à deriva, no sentido de tentar captar tudo o que possa vir à sua rede de pesca eleitoral, são os populistas. Da direita e da esquerda. E essa deriva, que para uns é uma ilusão e para outros, uma artimanha, é perigosa. Dá combustível aos desequilibrados da vida bem como aos que vêem a sociedade pelo prisma das televisões e dos jornais que só falam de futebol e de histórias do arco-da-velha.
A intolerância e o sectarismo são os dois pilares do debate político em Portugal.
Debate-se para atacar. Raramente é para encontrar posições comuns. Isto é próprio das discussões de paróquia, ou de capoeira, das querelas entre caciques. Expressa bem o narcisismo intelectual que caracteriza muitas das nossas personagens públicas. E a falta de profundidade, de substância e de ideais verdadeiramente patrióticos e progressistas.