No seguimento do acordo sobre a Grécia, queria citar, sem mais comentários, as palavras escritas no Financial Times pelo antigo Vice-ministro das Finanças da Polónia, Gregorz Kolodko:
"Depois da última reunião dos ministros das finanças da zona euro, de que resultou a decisão de conceder à Grécia um segundo pacote de 130 mil milhões de Euros, há quem possa dizer que as coisas estão no bom caminho. Mas não é verdade. Estamos a caminho de uma catástrofe, que já está, aliás, a acontecer, embora em câmara lenta. Enganar o público e subestimar os mercados não é uma estratégia nem uma política. É pura estupidez".
O discurso de Cavaco Silva sobre a governação da UE, hoje proferido em Florença, merece ser lido com muita atenção. Trata-se, na minha opinião, de uma reflexão inteligente e objectiva sobre o estado actual da União.
Seria importante que a imprensa internacional o mencionasse com algum destaque.
A Grécia não consegue cumprir as metas do seu programa de estabilização. A agitação social torna a execução do plano ainda mais problemática.
É evidente que quem queira protestar tem o direito de o fazer. Também é verdade que o vazio de poder, a quase demissão da classe política, em Atenas, não abre as portas à esperança. Certos sectores da economia estão pura e simplesmente paralisados.
Mas mais verdade é que a Europa não pode continuar a emprestar dinheiro a um poço sem fundo. A verdadeira coragem, neste momento, é a de saber dizer aos gregos que, não havendo progresso no processo de estabilização, não haverá mais dinheiro.
O Presidente Barroso disse, hoje de manhã, que não acredita que a Europa entre numa recessão.
Durante o dia, os mercados financeiros disseram o contrário. Ou seja, mostraram que não há confiança nem acreditam nas palavras de líderes de peso relativo.
Os sintomas de uma crise económica internacional profunda voltaram, hoje, à tona de água.
Os investidores estão inquietos, de ambos os lados do Atlântico, e no Extremo Oriente.
Com o agravamento da situação na Itália e em Espanha, a União Europeia entrou num novo patamar de confusão, num processo muito sério, que pode levar à sua implosão. A incerteza é, esta noite, bem maior do que era há dois dias, quando Berlusconi fez uma declaração sem alma nem convicção ao parlamento italiano. O homem sabia do que falava. Por isso, não se arrebatou.
Entretanto, a maneira como as coisas vão evoluindo em Portugal também nos deixa boquiabertos.
A Assembleia da República começa a mostrar que muitas das novas caras não têm um mínimo de competência e de representatividade que justifique o estarem lá. Os gabinetes ministeriais estão a ir pela mesma linha e a recrutar infantes sem currículo. O Conselho de Estado, pelo seu lado, adquiriu mais uns patuscos, conhecidos pelas ideias retrógradas que defendem, pela manha que os anima e pelos desastres públicos a que estão associados.
Com equipas dirigentes assim, nem a umas ondas de marés vivas se consegue responder. Ora, o que aí vem, ao nível internacional, parece ser um tsunami.
Há uma abundância de fontes diárias de informação estratégica. Uma das fontes mais seguidas pelos que decidem, em Bruxelas e noutras capitais, é o EurointelligenceDaily Briefing. Reporta sobre a actualidade económica e financeira, bem como sobre as ramificações políticas decorrentes dessas áreas.
No briefing de hoje, Portugal é um assunto importante.
Primeiro, pelas diferenças de vistas entre a oposição e o governo, no que respeita às novas medidas de austeridade, incluindo a questão de se recorrer ou não ao fundo de emergência. Tendo em conta o Conselho Europeu desta semana, Quinta e Sexta-feira, a situação financeira e fiscal de Portugal é um tema central. Existem muitas preocupações.
Em segundo lugar, fala-se cada vez mais na hipotética saída do euro de certos países, Portugal incluído, como uma maneira de resolver a crise que esses estados estão a viver. A saída não está, é verdade, na lista dos assuntos urgentes. Mas também é certo que, nas circunstâncias em que se encontram certos estados membros, a Grécia em primeiro lugar, não é de excluir essa eventualidade da análise dos cenários possíveis. É, hoje, uma possibilidade remota. Só que os acontecimentos andam muito acelerados.