Aqui em casa, a minha mulher e eu, quando residentes na Bélgica, assinámos um documento oficial, um documento por pessoa, que ficou arquivado na nossa câmara municipal, declarando que optaríamos pela eutanásia, segundo os casos previstos na lei e na hipótese de já não estarmos, nessa altura, em condições de decidir conscientemente. E continuamos a acreditar que essa foi a decisão correcta. E mais ainda, que com o avançar da idade, poderá ser uma decisão necessária. O fim de vida deve acontecer com toda a dignidade que uma vida bem vivida merece.
Como já aqui o disse, sou a favor da eutanásia medicamente assistida. E fico à espera da lei portuguesa que a permita. Entretanto, com todos os vetos e pedidos de esclarecimento do Tribunal Constitucional, no dia em que esse diploma legal for finalmente aprovado vai certamente ser a lei mais bem elaborada do mundo. É verdade que, entretanto, o tempo vai passando. E quem sofre de modo insuportável terá de ter paciência. Felizmente que este é um país de gente paciente. Aprende-se a ser paciente quando a maioria das coisas não funcionam e também quando os poderosos só aprovam coisas destas quando a inspiração divina lhes chega do céu.
Este blog é 100% a favor da eutanásia, quando praticada ou assistida por profissionais de saúde. Deve ser uma decisão própria ou da pessoa que tenha a responsabilidade legal de uma pessoa incapacitada de decidir. E deve, entre outras dimensões, ter como ponto de partida uma doença grave, incurável, dolorosa ou atentatória da dignidade do paciente e que lhe afecte de modo irreversível as faculdades cognitivas.
A vida é uma questão moral mas essa moralidade não é suficiente para justificar que se mantenha em vida alguém para quem viver significa sofrer de modo insuportável ou ser incapaz de controlar as funções vitais ou de compreender o que significa estar viva.
Nas últimas duas semanas, dois homens conhecidos aqui nesta pequena parte do Alentejo, suicidaram-se por não poderem enfrentar o sofrimento que, em ambos os casos, o cancro da próstata lhes provocava. Não teria sido preferível recorrer à eutanásia?
Sou a favor da morte medicamente assistida, incluindo o suicídio. Por isso, penso que uma sociedade desenvolvida, e com sistemas de controlo eficientes, a eutanásia deve ser legalmente permitida. As regras devem ser claras e combinar um grau elevado de sofrimento com a incurabilidade da doença ou da condição da pessoa. É a conjugação destes dois factores que devem servir de critério: uma doença incurável que provoque um sofrimento intolerável, incluindo um padecimento psíquico insuportável. Nesta maneira de ver, não é preciso estar-se à beira da morte para se poder requerer a eutanásia.
Os nossos políticos são formidáveis. E muito criativos. Passam o tempo a discutir coisas de grande importância para a criação de riqueza nacional e de empregos. Agora, por exemplo, é a questão da eutanásia e das mudanças relativas à aquisição da nacionalidade. Como dizia o outro, deve ser aí que está o bife.