Começo por pedir desculpa a todas as Excelências. Mas queria voltar à questão de Tancos, para fazer uma pergunta pouco inocente. Quando na longa lista de arguidos encontramos um Ministro, o ex-director da Polícia Judiciária Militar, coronéis e majores, e uma certa suspeita sobre um Tenente-General, como se pode dizer que o assunto não tem uma dimensão política?
A parte “justiça” do caso de Tancos não deve, na verdade, ser comentada. Um número de indivíduos foi constituído arguido, acusados de vários crimes. Cabe agora à administração da Justiça tratar desses casos, um a um. A única observação que se poderá fazer é para rogar que os processos avancem rapidamente, tendo em conta a natureza dos crimes imputados e o tipo de instituição que está no centro da questão. Certos brados são uma ilusão, reconheço, mas devem ser feitos, apesar de tudo.
Mas existe uma parte política, que não pode ser escondida por detrás do biombo da justiça. Essa parte levanta muitas interrogações. Devem ser esclarecidas. A lista dessas interrogações inclui: a responsabilidade política; o funcionamento e a circulação da informação nos órgãos de soberania directamente ligados ao assunto; a responsabilidade militar, de quem mandava e estava na linha de comando; a performance, a disciplina e a motivação de algumas secções do Exército, o que isso implica e exige como medidas de correcção; o sistema de valores que impera em certos círculos com autoridade e que terá levado alguns dos arguidos a pensar que o caso seria abafado pelos grandes do reino.
Só estas questões já dariam pano para muitas mangas, se houvesse uma vida partidária capaz de ir além do nevoeiro mental.
Nos últimos dias, a crise que as Forças Armadas portuguesas atravessam há anos voltou aos cabeçalhos da comunicação social. E uma vez mais, se notou duas coisas, por parte dos políticos. Primeiro, que não há serenidade no tratamento da questão. Segundo, que não existe uma visão estratégica sobre o que devem ser as Forças Armadas de hoje e do futuro. Assim não vamos lá.
A defesa é um dos pilares da Nação e os elementos das Forças Armadas devem devem ser respeitados. A primeira fase do respeito passa por incluí-los, de forma activa e séria, não a fazer de conta, na definição do conceito e da organização da defesa nacional.
As armas e as munições, em quantidades que mostram que a coisa foi organizada a sério, foram roubadas de um paiol do Exército. Inacreditável!
O tipo de armamento levado pelos ladrões permite praticar actos terroristas de grande impacto. Preocupante!
As autoridades do país onde isto aconteceu limitaram-se, até agora, três ou quatro dias depois do acontecimento, a exonerar uns coronéis. Patético!
Os principais responsáveis políticos, os do lado da governação, mantêm-se calados. Incompreensível!
Do outro lado, os da oposição, diz-se umas baboseiras inconsequentes e pela rama. Incompetência!
Parece que haverá uma audição parlamentar do ministro da pasta. A resposta habitual!
Como também será de prever, dentro do que é a nossa normalidade irresponsável, que da audição não resulte nada de estrutural, para além do ruído a que já estamos habituados. Portugal!