Os ditadores ganham (quase sempre) as eleições
Ao longo da minha vida profissional estive envolvido em vários processos eleitorais. Pude assim observar que uma das características dos regimes autoritários passa pela condução de um processo eleitoral totalmente desfavorável aos candidatos da oposição. Não se lhes dá tempo de antena. Não os deixam organizar um número suficiente de comícios e de reuniões de esclarecimento. Criam-lhe um sem-número de obstáculos. Inventam todo o tipo de mentiras contra a oposição. Acusam os seus principais dirigentes de serem inimigos da nação, pagos e ao serviço de forças estrangeiras. E assim sucessivamente. Mas, no dia da eleição, quando há observadores eleitorais independentes por toda a parte, os ditadores comportam-se como democratas, fazem respeitar a ordem pública e procuram dar uma imagem de liberdade de escolha quando na realidade os cidadãos passaram meses a ser influenciados e enganados.
Neste tipo de circunstâncias, é extremamente difícil derrubar um ditador. Com a faca e o queijo na mão, um ditador inteligente abusa de todos os instrumentos de poder para se fazer reeleger. O que parece ser uma escolha popular é na verdade o resultado de uma prolongada lavagem ao cérebro dos cidadãos.
Nalguns casos, quando apesar de todas as trafulhices levadas a cabo ao longo de meses, o resultado das eleições não é favorável ao ditador, inventam-se vários esquemas para a influenciar os trabalhos das comissões eleitorais e levá-las a declarar certos resultados como nulos ou mesmo a invalidar todo o processo eleitoral. Como dizia Robert Mugabe, quando falávamos destas coisas, só um ditador muito estúpido ou muito distraído é que perde eleições.