Este é período do ano em que costumo fazer as malas para passar uma ou duas semanas com as filhas e as suas famílias. Desta vez, porém, uma parte da família não pode viajar, por constrangimentos ligados à pandemia e à obrigação de quarentena. Parece estranho, mas tudo é diferente este ano. A dois dias do fim do mês, poucos são os que estão a fazer planos para Agosto. Sobretudo na parte da Europa onde a minha filha mais velha circula e vive. A incerteza paralisa as pessoas. E a economia, obviamente. Sobretudo a das pequenas empresas, dos serviços e do turismo, ou seja, sectores que são fundamentais para o emprego e os rendimentos de muitas famílias.
Estamos em meados de Agosto. Este é o fim de semana que mais sabe a férias, a praia ou campo. Escrever sobre coisas sérias – ou fazer greve – nesta altura do ano, é tempo perdido. As preocupações são outras. Mesmo para quem não tem a possibilidade de ir para fora, a cidade fala-nos de férias, das dos outros, das ruas mais calmas, dos inúmeros grupos de turistas, dos dias quentes.
Não é que o mundo pare. Mas, a nossa atenção anda por outras paragens.
Depois de um período de férias na Serra de Grazalema, a cerca de 100 Km a leste de Sevilha, está na altura de voltar à rotina da escrita. E a primeira observação é para deixar aqui dito que as aldeias espanholas têm mais vida do que muitas das nossas vilas. Têm maior variedade de lojas, mais serviços públicos e empresas privadas, e têm igualmente uma grande capacidade para transformar em atracção turística aquilo que a natureza colocou à sua disposição. Mas também é verdade que estão muito envelhecidas. Uma boa parte dos seus residentes é constituída por pessoas de idade avançada. Dá mesmo para dizer que abrir um comércio de bengalas não será uma má ideia.
Começou na Europa o fim-de-semana mais movimentado do ano. É a altura de partida de férias de muitos milhões de cidadãos europeus. E os próximos quinze dias são um período de afrouxamento da actividade económica. Esta é a normalidade de agora. E que não deverá ser destruída. Está profundamente enraizada na Europa, ao fim de cinco ou seis décadas de prática generalizada das férias pagas.
O Papa Francisco também anda em viagem. Por terras da Polónia. Mostra um ar muito cansado e preocupado. Os últimos tempos parecem ter pesado muito. Precisaria também de parar um pouco.
Quem deveria também ir de férias é quem anda a escrever asneiras sobre asneiras sobre as ameaças à nossa civilização ocidental. Não é um tresloucado de faca na mão que porá em causa a nossa maneira de viver, marcadamente laica e que não aceita que a política e a religião se misturem.
Aliás, depois das férias, talvez fosse bom voltar ao velho debate sobre a vocação ateísta e temporal de uma boa parte das populações europeias do presente. É uma tema que perdera a importância de outrora. Mas penso que está a necessitar de voltar à discussão pública.
Estamos no meio de Agosto. Que este ano cai a um Sábado. Ou seja, este é o fim-de-semana por excelência do período de férias. É igualmente um momento de grandes movimentações. Há muitos anos, lembro-me, muitos e muitos anos atrás, procurei viajar, por razões de extrema urgência, de Bruxelas para Lisboa. Foi-me impossível encontrar um lugar num qualquer voo. É verdade que nesses tempos recuados as ligações ainda eram escassas e não existia a oferta que hoje faz parte do nosso quotidiano.
Ontem a minha viagem era mais curta. Mas poderia ter sido uma experiência definidora. Tratava-se de atravessar a avenida da Ilha da Madeira, no Restelo, de um passeio para o oposto, à altura do supermercado “El Corte…” nos nossos porta-moedas. Um fulano jovem, que conduzia com pressas, estava ao mesmo tempo ao telefone, provavelmente a acertar com a mulher que tralha levariam para férias. Essas conversas são importantes em meados de Agosto. Exigem concentração. Por isso, não deve ter notado este pobre ser a meio da rua, na passadeira. Mas eu notei a pressa do homem. E quase que a senti. Deve ter sido uma coisa de dez centímetros.
Serve isto para desejar a todos uma boa viagem. Por mais curta ou simples que ela seja. Ou uma boa viagem para quem se casa hoje, como está previsto que aconteça logo à tarde. É a minha filha mais velha que embarca nessa viagem.
Esta foi uma segunda-feira a meio vapor. As instituições europeias estão em serviço mínimo, os deputados regressaram aos seus países de origem, assim como todos os que à sua volta trabalham, os agentes dos lobbies – pelo menos 15 000 aqui em Bruxelas – arrumaram os cartões de crédito que servem para pagar os chamados “almoços de trabalho”, enfim, até a guerra parece ter fechado, numas tréguas natalícias que ninguém declarou. Do lado dos mercados, as transacções ficaram-se pela casa dos 45% do que é habitual, num dia que não seja perto do Natal.
Volto de férias este fim-se-semana. Para uma situação política internacional de grande complexidade. E para seguir, embora de longe, as pequenas guerras que destabilizam a democracia portuguesa e fazem crescer as interrogações sobre a maturidade dos nossos políticos. E sobre a qualidade e o funcionamento das nossas instituições. Sem esquecer que o caso “Espírito Santo” ainda está por avaliar, nas suas imensas ramificações e impacto sobre a economia nacional.
Já devem ter notado que tenho muito pouca paciência para aturar os dirigentes políticos portugueses. Depois de ter andado dezenas de anos por vários cantos do mundo, a qualidade dos nossos líderes parece-me fraca e sem interesse. Agora, estando de férias por duas semanas, a paciência é ainda mais diminuta. Esta foi aliás uma expressão utlizada hoje pela minha neta de quatro anos, quando lhe dei, na praia, uma bisnaga de sumo. Diminuta. Assim é a política em Portugal. A minha neta resumiu a coisa com a palavra exacta.
Pronto. As duas semanas de férias acabaram. Volto às lides. E é como um voltar a Portugal, depois de uns tempos na Aldeia das Açoteias, em Albufeira, no Algarve. Rodeados de ingleses por todos os lados, na véspera do regresso a Lisboa alguém da família disse, saiu assim, e é bem verdade que o disse, “a que horas saímos amanhã para Portugal”?