A reunião anual de Davos começou hoje e vai trazer, ao longo da semana, 52 chefes de Estado e de governo e mais de 600 grandes capitalistas e outras centenas de personalidades para a montanha suíça. Como de costume, os organizadores inventaram um novo conceito, para caracterizar o mundo de 2023: policrises. Estamos no meio de várias crises, que põem em causa a paz, a globalização e a cooperação internacional. A esse conceito acrescentaram fragmentação. Estamos no meio de múltiplos problemas e incapazes de nos unir para os resolver: essa parece ser a mensagem.
O que não parece estar em perigo é Davos. Quem aí aparece por sua iniciativa, terá de meter as mãos ao bolso: a inscrição pode custar 300 e tal mil dólares. Esse é o preço que é preciso pagar para andar nos mesmos corredores por onde andarão os poderosos deste mundo mais uma mão-cheia de representantes de instituições humanitárias e de grupos de pressão. E alguns dos jornalistas mais influentes do globo.
O meu amigo Ray adora discorrer sobre as várias teorias conspirativas que conhece. E, na verdade, sabe de muitas. Só que eu não tenho paciência para o ouvir. Hoje, ligou-me novamente, por videoconferência, para me falar do último enredo que a malta de Davos – WEF, World Economic Forum – estaria a planear para tomar conta do mundo pós-pandémico. Eu tinha uma boa desculpa – estava a escrever a minha coluna semanal para o Diário de Notícias, com o prazo de entrega a aproximar-se e a inspiração paralisada pela confusão eleitoral americana. Disse-lhe que não tinha tempo para o ouvir em pormenor. Como ele não sabia que o encontro de Davos 2021 havia sido adiado sine die – não terá lugar em finais de janeiro como de costume, que o coronavírus não deixa – partilhei essa informação com ele. Viu logo aí uma confirmação mais da teoria que me queria explicar. E explicou-me que Mark Zuckerberg, o homem do Facebook, era um dos mestres dessa conspiração. Lembrei-lhe então que a aplicação que estava a utilizar também estava ligada a Zuckerberg e que, por isso, talvez fosse melhor que ele passasse a fazer uso de uma outra, da concorrência. Talvez a WeChat, da China. Não percebeu a ironia da minha sugestão e deixou-me voltar à escrita da minha coluna.