Chego a Lisboa vindo do Norte da Europa, desvio-me por Benfica, para fugir ao engarrafamento da Segunda Circular, corto por ruas com lixo e pedaços de jornais a voar no vento forte do desleixo e incompetência da Câmara Municipal do senhor Costa, chego a casa a tempo de ver que o prato forte das notícias é o Portugal do Freeport, com engenhocas que sabem a alta corrupção, mas não há problema, diz-me depois quem conhece bem a justiça portuguesa, que mais Freeport menos Freeport, mais lixo menos lixo, tudo acabará como de costume, nas memórias esquecidas de uma classe que finge que é dirigente, e de um pequeno povo que passa os tempos livres nos Centros comerciais dos arredores da vida.
Em Portugal, começou hoje o XVI Congresso do PS. Com os repórteres a perguntar se o alegre destes tempos, e poeta de sempre, estaria ou não presente, como um espinho em Espinho.
E falou a Senhora Chefe do PSD sobre as habituais coisas sem importância, mas com aquele ar zangado de quem esta' a ser confrontado com o anunciado fim do mundo. E com um estilo que faz inveja a um cangalheiro profissional.
Houve mais sobre o Freeport, com três senhores da judiciária a dizer que o processo que não andou quase nada em quatro anos de investigação afinal fartou-se de andar. Deve ter sido um movimento do tipo parado, para não fazer enjoar o Chefe.
Por aqui, e' tudo mais simples. Por volta das cinco da tarde levantou-se um pó fino -- não o Fino a quem a Caixa Geral de Depósitos gosta de fazer favores-- que fechou os céus e nos entrou na boca, no nariz, nos secou a respiração e deixou a língua a saber a sujo. Uma irritação.
Felizmente que houve, ao cair da noite, a bela festa de condecoração dos 18 oficiais de polícia de Madagascar que comigo trabalham. Apresentaram-se no seu melhor uniforme, explicaram-nos um pouco da vida da ilha, com orgulho e esperança que a crise política actual se resolva rapidamente. Um deles tem um apelido com mais de trinta letras. Foi um divertimento amistoso tentar pronunciar esse nome de família.
Há alturas em que o interesse nacional exige cabeça fria e uma decisão firme de arrumar as botas. Quando as dúvidas sobre a honestidade pessoal são tão grandes, só resta ao verdadeiro senhor da política, ao líder a sério, sair de cena.
A maioria dos Portugueses pensa que a investigação sobre o caso Freeport e' legítima, e não de inspiração política. Uma sondagem do jornal Publico, embora não sendo científica, mostra que mais de 70% dos que responderam assim pensam.
Por isso, continuar a insistir na música da cabala política não leva a parte alguma. E' argumento que não colhe, que já deu o que tinha a dar. O fundamental e' que a justiça responda a certos interrogações que precisam de ser esclarecidas, num caso que cheira intensamente a práticas corruptas. E que o faça sem demoras. Para o bem de todos, incluindo o da democracia em Portugal.
Com o caso Freeport a ganhar, cada dia que passa, novos contornos, a cheirar a corrupção de alto nível, fica-se com a impressão que a política portuguesa esta' cada vez mais próxima da italiana. O senhor da Itália, Sílvio para as damas, esta' em vias de se sentir menos só, nas reuniões europeias. Podera' passar a ter um par. A não ser que as coisas se esclareçam sem demoras.
Esta meia dúzia de metros quadrados e' um verdadeiro centro comercial. Funciona como farmácia, serve de central telefónica, permite transferir dinheiro, vender cupões. Parece Alcochete, pela variedade de negócios que permite.
Mas não foi construído em terrenos protegidos, não desrespeita as regras ambientais, nem há nenhuma suspeita de corrupção que envolva as grandes autoridades do Estado.
Só que não esta' implantado 'a beira-rio, nas margens do Tejo, mas sim nos confins de Bangui.