O Fundo de Recuperação Europeu, proposto pela Presidente da Comissão Europeia, foi favoravelmente acolhido nas diversas capitais dos Estados-membros. É um plano equilibrado, que reserva uma boa parte dos recursos para financiamentos do tipo subvenção. E vem juntar-se a outros recursos já anunciados, quer pela Comissão quer pelo Banco Central Europeu. Ursula von der Leyen mostrou oportunidade e visão. A sua posição ficou reforçada. Claro que por detrás dela está o apoio de Angela Merkel e o do famoso Wolfgang Schäuble, que é agora Presidente do Parlamento federal alemão e que continua a ter muito poder, na cena interna do seu país.
A reconstrução das economias europeias deve ser feita com dois tipos de recursos, caso não existam meios próprios da empresa. Empréstimos de longo prazo e financiamentos a fundo perdido. Em ambos os casos, deveriam ser definidas linhas prioritárias, sectores estratégicos, empresas de interesse nacional ou regional, actividades de ponta, que seriam os principais beneficiários dos novos recursos. Sobretudo no que respeita aos financiamentos não-reembolsáveis. Uma política económica deste tipo permitiria uma reestruturação do tecido económico, que tivesse em conta as dimensões estratégicas, o respeito pelo meio ambiente e a sustentabilidade, o encorajamento dos avanços tecnológicos e a geração de empregos.
A liderança política deveria estar já a trabalhar na definição dessas orientações de política económica.
O meu artigo de hoje na VISÃO centra-se na reunião do G20, que terá lugar na próxima semana em Londres. Também há 76 anos, em plena Depressão, Londres foi o palco de um encontro internacional, com o objectivo de encontrar soluções para a crise de então. Os Estados Unidos, que tinha acabado de eleger Franklin D. Roosevelt como Presidente, adoptaram uma atitude pouco construtiva durante a Conferência de 1933. Uma posição marcadamente nacionalista, que acabou por levar a reunião ao fracasso.
Em 2009, o nacionalismo chama-se proteccionismo. E é praticado por quase todos os participantes no encontro de agora. Embora o neguem a pés juntos. Mais ainda, vão para Londres sem terem passado por consultas prévias, por discussões de preparação. É tudo para Inglês ver, e não só. Para lançar poeira noutros olhos também.
As medidas que vierem a ser tomadas carecerão de seriedade. Para já não falar na falta de capacidade das instituições existentes par pôr em execução e levar a cabo os enormes pacotes que são prometidos todos os dias.
O Banco Português de Negócios (BPN) , negócios legalmente obtusos e fechados em gabinetes fora das vistas, forrados com madeiras preciosas, surgiu no seguimento do fim do Cavaquismo, na segunda metade dos anos noventa.
Desde o início que apareceu ligado e próximo de certos quadros dirigentes do PSD. O homem forte do banco, o agora detido Oliveira e Costa, fora um senhor nas finanças do ministério e um homem de confiança do então primeiro dos ministros, Cavaco Silva.
Por detrás do painel da frente, neste banco de aparências e de colarinhos brancos, estaria um cavalheiro público bem mais inteligente, que hoje é, ainda, Conselheiro de Estado do Senhor Presidente.
Talvez tudo isto explique um certo mal-estar que se passeia agora pela Lapa, como fantasmas à volta da Velha Senhora Sem Jeito Para Estas Coisas. Um incómodo. A política é de facto mais fácil quando se suspende a democracia.
E o maroto do Portas, o Paulinho Mal-humorado e de dedo terrivelmente ameaçador, a espreitar a oportunidade, que ele vive dos restos mortais do PSD. Uma verdadeira ave da família muito variada e ilustre dos abutres. Pediu logo um inquérito ao pobre, porque falido, do BPN.
A crise financeira do capitalismo resulta da conjugação de uma série de factores:
1. da demissão dos bancos centrais, que se tornaram incapazes de desempenhar o papel de controlo e fiscalização que lhes cabe;
2. da filosofia económica do laissez-faire;
3. das construções em pirâmide de engenharia financeira, engenhosamente inspiradas no ganho a curto prazo;
4. da concentração de enormes recursos financeiros, provenientes dos fundos de pensões e da especulação sobre as matérias primas, em meia dúzia de instituições financeiras de referência.