Os gasodutos Nord Stream 1 e 2 foram sabotados. As explosões só podem ter sido organizadas por comandos especiais, ligados às forças armadas de um país. Não se sabe ainda qual terá sido esse país. Mas a sabotagem aconteceu na altura em que estava a ser inaugurado o pipeline entre a Noruega e a Polónia, que permitirá aumentar substancialmente as importações de gás norueguês, em alternativa ao russo. Estas coisas não acontecem por acaso. A escolha do momento, das datas, faz parte do impacto que se pretende obter. Como também a escolha do local visado. Os ataques contra esses dois gasodutos ocorreram na mesma zona por onde passa a conduta vinda da Noruega. Dir-se-ia que a mensagem é: vejam bem, temos capacidade operacional para fazer saltar o pipeline.
Os russos dizem que não foram os autores destas sabotagens. Uma análise dos possíveis impactos e mensagens políticas que uma acção destas provoca, ou tem a intenção de provocar, faz-me pensar, no entanto, que a possibilidade russa é a mais forte. É um aviso aos europeus e além disso, mais um factor de perturbação dos mercados do gás, que, entretanto, subiu de preço – 20% mais caro. A arma económica é um dos instrumentos da nova maneira de criar e gerir conflitos.
Em 2021, a Europa comprou à Rússia 155 mil milhões de metros cúbicos (billions of cubic metres, bcm) de gás, ou seja, uma boa parte da exportação total de gás desse país, que foi de 210 bcm.
Actualmente, a China compra 10 bcm de gás russo e só dentro de três ou quatro anos poderá comprar à volta de 38 bcm.
O gás que a Rússia não vende à Europa tem de ser queimado em solo russo. Algum poderá ser liquefeito e exportado enquanto GNL, mas será uma pequena quantidade. Os navios utilizados pela Rússia para exportar GNL são construídos na Coreia do Sul. Este país aplica actualmente sanções à Rússia. E a tecnologia para transformar o gás em GNL vem das grandes multinacionais ocidentais. Não está disponível na Rússia.
A dias do começo da cimeira sobre o clima – a COP26 – existe um grande pessimismo sobre os resultados que se poderão esperar desta reunião. Países como a China, a Índia ou a Rússia ainda não comunicaram as metas que se propõem cumprir. Por outro lado, a Polónia tenta introduzir alterações no plano europeu, de modo a transformar uma promessa ambiciosa num documento mais vago e prolongado no tempo.
Os combustíveis fósseis estão de novo num pico de procura, agora que as principais economias procuram recuperar o crescimento perdido nos últimos 18 meses. Os preços do petróleo, do gás natural e do carvão aumentaram marcadamente nos últimos meses e todas as preocupações são sobre o acesso a quantidades suficientes dessas fontes energéticas. Por outro lado, já começa a ficar claro que o comportamento dos cidadãos, nos países mais avançados, está a voltar aos hábitos passados e mesmo a acentuá-los – anda-se agora mais de carro do que em finais de 2019. E os meios financeiros, que deveriam estar disponíveis para a transição energética das economias menos desenvolvidas, estão muito abaixo do que havia sido prometido.
Ao mesmo tempo, é hoje mais claro que a crise climática se está a acelerar e que há urgência na tomada de medidas.
O link acima leva-nos para o meu texto de hoje no Diário de Notícias.
O texto é uma reflexão, diferente do que tem sido publicado, sobre a situação de terror e caos na província de Cabo Delgado, no extremo norte de Moçambique. Tem despertado muita atenção em vários círculos.
Passo a citar o último parágrafo dessa minha crónica.
" O ponto fundamental, para além da limpeza de Palma, da ajuda humanitária e da assistência técnico-militar a Moçambique, é tentar compreender as raízes e a dinâmica desta ofensiva terrorista. Minimizar, ignorar as realidades da exclusão social ou insistir em explicações estereotipadas – incluindo as que se referem a pretensas ligações ao chamado Estado Islâmico – seria um erro. Estamos perante uma insurreição capaz de servir certos interesses e fácil de promover. São combatentes que sabem sobreviver com pouco, sem necessidade de uma logística elaborada. As armas provêm das deserções, das emboscadas anteriores, agora do ataque a Palma, e dos mercados ilegais de material militar existentes na África Oriental e Central. Não querem ocupar terreno, mas sim abater os representantes do poder e gerar a insegurança nas áreas com interesse económico, mas com fraca presença do Estado. Por isso, são indivíduos altamente perigosos. Precisam de ser levados a sério, mas sem simplismos."
"No meio de tudo isto, os europeus prolongaram as sanções contra a Rússia até julho de 2021. Estas medidas, que vêm de 2014 e estão relacionadas com as intromissões armadas russas na Ucrânia e a ocupação da Crimeia, têm um campo de aplicação pouco abrangente. Não incluem, por exemplo, a suspensão da construção do gasoduto Nord Stream 2, que ligará a Rússia à Alemanha através do Báltico. Aliás, um outro título da semana foi para anunciar que os trabalhos de instalação do gasoduto haviam recomeçado e entrado mesmo na fase final.
A realidade é que os dirigentes da UE não têm uma visão política clara do que deve ser o relacionamento com a Rússia de Vladimir Putin. Tem havido muito debate sobre a questão, incluindo o desenho de cenários possíveis, mas não há acordo."
Extracto do meu texto de hoje na edição impressa do Diário de Notícias.
Comprar a edição do Diário de Notícias de hoje é gastar 3 euros bem gastos. O jornal está muito bem feito e tem uma série de histórias humanas bem contadas bem como um excelente naipe de opiniões com interesse. A minha coluna de opinião desta semana tenta responder à questão do relacionamento da União Europeia com a Rússia, numa altura em que várias questões – e não apenas o envenenamento de Alexei Navalny – estão em cima da mesa. Faço, igualmente, uma breve referência à China, por comparação com a Rússia.
Terminamos o dia com uma situação muito complicada no Mar Mediterrâneo Oriental. O exercício conjunto, que a Grécia está a levar a cabo, com a participação das forças armadas de Chipre, França e Itália, é uma resposta forte à Turquia, que prolongou a prospeção de gás em águas contestadas pela Grécia. Trata-se, acima de tudo, de uma escalada do conflito que opõe os dois vizinhos, a Grécia e a Turquia.
O ataque contra um campo de extracção de gás na Argélia, propriedade da BP, e o subsequente rapto de um número ainda indeterminado de estrangeiros que trabalhavam nessa base estão a deixar muitos governos profundamente preocupados. É um acontecimento de grande gravidade, que pode ter um impacto enorme no fornecimento de gás ao Sul da Europa e levar também a uma quebra significativa da produção de petróleo na Argélia e na Líbia. Pode igualmente fazer diminuir as receitas do governo da Argélia, numa altura em que a paz social é comprada todos os dias, pelos dirigentes desse país, com o dinheiro proveniente da exploração do petróleo e do gás. Se esses fundos falharem, a probabilidade de uma revolta social nas cidades argelinas é enorme.
Tudo isto precisa de ser monitorizado com muita atenção.