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Copyright V.Ângelo
Hoje e amanhã são dias de viagem. Abéché, Gaga, Farchana, Hadjer Hadid. Terras de muita esperança, que a violência não tem futuro.
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Hoje e amanhã são dias de viagem. Abéché, Gaga, Farchana, Hadjer Hadid. Terras de muita esperança, que a violência não tem futuro.
Era suposto ser um Domingo tranquilo. O céu estava de um azul sem manchas. Faz sonhar. Mesmo nestas terras. O harmatão, este ano, tem-nos poupado. Não tem havido a poeira no ar, habitual nesta estação. Os dias começam frescos, com cerca de 16 graus, aqui na capital do Chade, depois aquecem, vão aos trinta e cinco ou isso por aí à volta. Hoje era dia de escrever a minha prosa para a Visão desta semana. Tinha combinado que continuaria a reflectir sobre o terrorismo.
O embaixador inglês, residente em Youndé, chegou a meio da manhã. Para umas reuniões comigo e com outros embaixadores. Pedi ao meu director de gabinete que o recebesse. Uma colega sénior das Nações Unidas havia chegado ontem à noite. Está de passagem, a caminho de Bangui. O meu protocolo teve a missão de se ocupar da colega. Tudo para me permitir alguma pausa.
Acabou por não ser bem assim. Depois do incidente no campo de refugiados de Gaga, ontem, havia que iniciar um inquérito, hoje. Mandei uma equipa de investigadores. O Leonardo, um Subintendente da PSP aqui em serviço, fazia parte da equipa. É um excelente profissional, que muito honra a presença portuguesa. Entretanto, mais a Norte, em Iriba, a base de CARE, uma ONG com quem trabalhamos, foi atacada por homens armados, para roubar o que fosse possível, incluindo as viaturas. A nossa Polícia (DIS) saiu em perseguição. Um dos agentes foi ferido num pé. Lá foi preciso organizar uma evacuação sanitária para Abéché, por helicóptero.
No sector Sul, em Birao, as tropas do governo, um pelotão, foram atacadas por cerca de cem homens armados. 45 quilómetros ao Norte da cidade, a caminho da fronteira com o Chade. Uma zona com mais rebeldes do que habitantes. Um recorde. Mais uma intervenção a prever, do nosso lado.
Entretanto, o texto para a Visão lá foi avançando. Ao princípio ficou muito técnico, quase parecia um míni relatório sobre a problemática da análise das informações de segurança. Tive que fazer várias passagens, cortar a torto e a direito, que 3500 caracteres não dão muito espaço. Continuei essa tarefa, até me lembrar que havia prometido telefonar à minha filha mais nova, que está a residir em Espanha. Segunda ou o mais tardar, Terça, prometera eu. Com todas as surpresas da semana, a coisa passou-me. A promessa tornou-se uma de mau pagador. Peguei no telefone e pedi que me desculpasse. É que eu tenho alturas em que nem sei a quantas ando.
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