Há 15 dias escrevi na Visão que o voto pela independência da Escócia seria um erro, por várias razões, incluindo por constituir um encorajamento aos diversos populismos e nacionalismos bacocos e retrógrados que estão a aparecer em vários cantos da Europa. Previ, nessa altura, que o “não” ganharia de maneira clara e sem apelo. Alguns amigos meus pensaram então que a minha opinião era pouco prudente, pois o “sim” parecia estar de vento em popa. Acharam mesmo que eu me arriscava a perder alguma credibilidade em matéria de análise de política internacional.
O resultado do referendo, hoje conhecido, traduziu-se numa estrondosa vitória dos que se opõem à independência. A minha previsão bateu certa. E as ambições dos que querem fragmentar ainda mais uma Europa que precisa de estar unida sofreram uma derrota bem significativa.
Agora, como escrevi na altura, vai surgir o verdadeiro problema para a Grã-Bretanha: o que fazer em relação à União Europeia. Essa é a questão em cima da mesa. Essa é a questão existencial. Cameron não estará à altura de a resolver. Como também não esteve à altura do desafio escocês. Se não fosse a ajuda dos Trabalhistas, em particular de Gordon Brown, Cameron teria sido confrontado com enormes dificuldades perante a consulta popular escocesa.
Um número importante de ingleses irá votar, se houver um referendo sobre a Europa, contra a União. Com a Escócia dentro do Reino Unido, uma parte dos votos contra a Europa será anulada por votos a favor da Europa, vindos do lado escocês. Mas isso não será suficiente.
E, infelizmente, não creio que os Trabalhistas de Ed Miliband consigam chegar ao poder antes do referendo.
A satisfação de hoje não nos pode fazer esquecer os problemas que se avizinham. E os riscos que um primeiro-ministro fraco acarreta.
O texto que hoje publico na Visão trata das espionagens...E conta uma história inédita, que se passou na altura das negociações, em Lancaster House, que levaram à independência do Zimbabwe.
Nas suas memórias, Tony Blair escreve que as remodelações governamentais são sempre muito complexas e muito dadas a erros. Diz mesmo que a remodelação de 2006, a última que fez antes de sair do governo, no ano seguinte, lhe trouxe mais inimigos e problemas que amigos e apoios. Em certa medida, as memórias dão a entender que quando Blair se sentia atacado por todos os lados, o que era o caso na altura, graças nomeadamente às ambições de Gordon Brown e do seu grupo, a probabilidade de errar na escolha dos membros do governo era maior.
Eu acrescentaria, para além de estar de acordo com a confissão de Blair, que não proceder a remodelações ministeriais é igualmente um erro muito grave. Quando um primeiro-ministro vê, todos os dias, que um ministro é um pedregulho atado ao pescoço do governo, a puxá-lo constantemente para o fundo, e não o substitui, esse primeiro-ministro está a cometer um erro de grandes consequências. Mostra falta de faro político e pouca liderança.
Tony Blair acaba de publicar as suas memórias de homem público com muitas confissões privadas. De tudo o que o que escreve sobre a sua viagem pessoal, sobressai a personalidade de um político que pensa que o mundo deveria girar à sua volta, que não perdoa nem se autocritica, que está convencido que sempre teve razão. Mas o mais feio, são os ataques pessoais a um outro político, de quem foi muito amigo, companheiro de vitórias eleitorais, e que agora atraiçoa. Talvez porque atacar os outros seja uma maneira de desviar as atenções das nossas insuficiências e erros.
Depois da cimeira dos dirigentes da zona Euro, que foi dominada pelas ideias de um político que não pertence 'a zona e que ate' agora estava em processo de evaporação política no seu próprio país -- Gordon Brown --, as bolsas voltaram a entrar em terreno positivo.
As questões fundamentais da crise não foram resolvidas. Os bancos não recuperaram a credibilidade de que necessitam, os seus dirigentes continuam a ser os mesmos que levaram o sistema 'a falência, as famílias não adquiriram novos meios para combater o endividamento excessivo em que se encontram, o ciclo produtivo continua a abrandar em virtude do excesso de oferta, mas os doidos da bolsa aproveitaram o ar quente que veio de Paris para despender dinheiro na bolsa.
Espero muito sinceramente que não se arrependam, nos próximos dias.