Lembrei esta tarde ao meu amigo Mário que o número de funcionários públicos aumentou de 26 000, nestes anos da governação de António Costa.
Este aumento não é ficção, é um facto comprovado por dados provenientes da Direcção-Geral da Administração e do Emprego Público (DGAEP). Por isso, justificar a ineficiência e os atrasos que se verificam em certos serviços da administração pública com base na falta de pessoal não me parece correcto.
A verdade estará noutras razões. Um delas, e talvez a mais forte, terá que ver com a incompetência político-administrativa de quem exerce o poder. De qualquer modo, o governo não pode sacudir a água do capote. As ineficiências actuais não são órfãs. São, isso sim, filhas de uma fraca capacidade para dirigir o país.
Sabia, há algum tempo, que a PSP e a GNR utilizam, certamente por decisão vinda do MAI, a grande maioria dos poucos recursos que têm para realizar operações Stop, umas atrás das outras. É a caça à multa, em vez da caça ao bandido. É dar a prioridade às entradas de receitas e não à segurança dos cidadãos.
Os próprios polícias acham que isto está errado.
Nem mesmo a segurança rodoviária é servida com este tipo de procedimentos, pois os excessos de velocidade, as ultrapassagens perigosas, as manobras criminosas, as faltas de respeito pelos peões nas passadeiras, não são apanhados pelas operações desse tipo. Exigem mobilidade, não "stopismos" nem malabarismos.
Hoje os jornais confirmaram que o estado está a receber mais de 230 000 euros por dia em multas aos automobilistas. É a política da vaca leiteira em vez de uma política de segurança.
O Banco Central Europeu apareceu ontem no mercado, como já o havia feito anteriormente, a comprar freneticamente obrigações do tesouro português. Ou seja, a tentar segurar a posição de Portugal nos mercados financeiros. Trata-se de uma intervenção de curto prazo. Alivia-se o problema durante uns dias, poucos, na esperança de que uma solução mais profunda possa, entretanto, surgir.
Tenho muitas dúvidas sobre esta maneira de fazer do BCE. Já o disse e repito. Como também duvido que este tipo de intervenção esteja dentro do mandato do BCE.
Entretanto, ao ouvir o que se diz em Portugal sobre os mercados financeiros e ao ler o que se escreve, só posso chegar à conclusão que há muita política em torno do problema, daquela política que tenta vender gato por lebre, e pouca análise. Não é boa ideia pensar que a propaganda, o slogan, a politiquice permitem compreender o que se passa. Também não é bom tomar decisões com base no slogan.
A verdade é muito simples, embora isso custe aos nossos propagandistas. A economia portuguesa precisa de capital para poder continuar a funcionar a um nível que seja aceitável, com custos sociais mínimos. Não existindo capacidade interna de financiamento, resta a solução de ir aos mercados de capitais e tentar atrair as poupanças de outros, fora de portas. Simplesmente, quem empresta quer garantias. A mais importante, e se calhar, neste momento, a mais difícil de obter, é a de que existe um governo competente e politicamente sólido. Quando essa competência possa estar em dúvida e a solidez do governo, que é medida em termos do apoio do eleitorado, pareça precária, quem tem dinheiro para emprestar não o empresta. Ou então, quer taxas de juro mais elevadas, para compensar o eventual risco de não pagamento.
Convém sempre ouvir os economistas. Nenhum político pode ignorar a opinião dos economistas. Mas, em seguida, o verdadeiro líder tira as suas conclusões e decide. Com uma vista ampla, que certos projectos são para o longo prazo. Cabe ao político sair da visão normal das coisas e prever o que outros não conseguem antever.
Lembro-me de que os economistas haviam previsto, no início de Século XX, que por volta de 1950, as ruas de Londres deveriam ter cerca de dois metros de altura de esterco. Tal era a progressão, em 1900, das carruagens puxadas por cavalos.
É o problema das bestas.
Portugal precisa de continuar a sua modernização. Precisa de um novo aeroporto internacional que sirva a zona de Lisboa. Precisa de trens rápidos. Precisa de uma infra-estrutura informática generalizada. Tem que oferecer meios do Século XXI se quer ter uma economia virada para o futuro. Tem que ser um país que chame o investimento.
Ousar fazer é ousar vencer. Os tímidos afogam-se nas suas penas.
Na política, na vida e no reino dos blogs, o que mais falta faz é a virtude da paciência, as vistas largas, a perspectiva do longo prazo. Há que sair da preocupação do imediato e ver cada questão num horizonte mais amplo.
Fácil de dizer, mas muito difícil de aplicar quando a maioria das pessoas tem apenas o prédio da frente como perspectiva e os políticos estão na coisa pública a prazo limitado, a ver se ganham o seu.