Vista com alguma distância e sabendo o que se sabe sobre as imensas dificuldades do Sistema Nacional de Saúde, e também sobre a situação económica da maioria dos que têm que recorrer ao SNS, a greve dos enfermeiros parece-me situar-se para além do razoável. É certamente profundamente questionável, quer do ponto de vista da ética social quer ainda da lei da greve. Marcadamente excessiva.
Precisa de uma resposta política coerente. Essa resposta não pode ser dada apenas pela Ministra da Saúde. Deve competir ao Primeiro-Ministro. A gravidade das implicações desta iniciativa contestatória não permite que António Costa fique calado. De modo algum. É uma questão de liderança perante uma questão de interesse nacional.
PS: Depois de publicar este escrito, vi que o Primeiro-Ministro falou e foi claro. Só posso acrescentar, muito bem! Muito bem, na verdade! Apoio o que disse.
Os estivadores do Porto de Lisboa estão novamente em greve. É uma situação que, desgraçadamente, já faz parte da imagem do seu sindicato. Sempre em luta! Fizeram meses e meses de greves, nos últimos anos, incluindo metade do ano de 2012.
O movimento actual começou a 20 de abril e não tem solução à vista.
Tudo isto tem um impacto enorme sobre a economia nacional, sobre a reputação do Porto de Lisboa e ainda sobre o futuro dos outros portos nacionais, sobretudo o de Sines. O comércio internacional europeu, a começar pelo de Espanha, vai pensar duas vezes, antes de decidir se faz ou não transitar mercadorias pelos portos do nosso país.
Este assunto deveria merecer uma atenção muito especial do governo. Ora, não está a ter a atenção que merece. Tem sido chutado para canto, à espera de bom senso ou de um milagre. Há quem diga que a razão reside na preocupação em não tocar num tema que é muito caro ao Partido Comunista, um dos partidos que mantém o governo de pé.
Não quero acreditar nessa explicação. Penso que, uma vez mais, a explanação é bem mais mundana, terra a terra: pura incompetência da ministra titular do assunto e da equipa que a rodeia. O habitual, diga-se.
Este ano a companhia aérea alemã Lufthansa é uma recordista de greves. Hoje e amanhã decorre mais uma, pela décima terceira vez em 2015. E desta vez, o incómodo enorme que estas coisas causam calhou-me a mim.
Passei a tarde a tentar reencaminhar a viagem de amanhã. De uma das vezes, o tempo de espera ao telefone – uma chamada paga, de valor acrescentado – foi de uma hora. Pior ainda, nestas coisas, é o stress. Viajar para certos cantos não é fácil, mesmo quando tudo corre bem. Acrescentar a isso um par de incertezas, é coisa dos diabos. Ou de pilotos ricos e indiferentes perante a sorte de uns simples mortais a que também se costuma chamar passageiros.
Tinha uma viagem programada com a TAP para hoje à tarde. Porém, logo após o anúncio da longa greve de dez dias, pedi um voucher de reembolso e reservei o voo numa outra companhia.
Ainda tenho o regresso marcado para um voo da TAP, tendo em conta que essa etapa terá lugar já fora do período de greve. Depois, qualquer nova viagem com a transportadora nacional exigirá muita ponderação, muito cuidado na tomada de decisão. Não digo que deixarei de viajar com a TAP. Mas só o farei em reservas de última hora, quando haja um mínimo de certeza no que respeita à realização do voo e quando a diferença de preço e a conveniência de horário o justificarem.
Viajar com a TAP não é uma questão de patriotismo. É uma questão comercial e de pertinência dos horários. A ideia de companhias de bandeira já não existe. A TAP é uma companhia como qualquer outra. Deve ser medida por critérios de fiabilidade e de custos. Está inserida num sector extremamente competitivo, com margens de lucro cada vez mais apertadas. Por isso, tem que ter um comportamento que inspire confiança aos potenciais clientes. O que não é o caso com esta longa greve. E sem confiança não há futuro.
Hoje uma parte da Bélgica esteve parada. Nalguns casos, como aconteceu no aeroporto, a paragem foi total. O espaço aéreo havia sido fechado ontem à noite e só voltará a abrir às 22:00 horas de hoje.
Foi um dia de greve geral, que se fez sentir nas diferentes regiões linguísticas do país.
A maneira como foi organizada acarretou a paralisação de quase todos os sectores. Mesmo quem não queria fazer greve optou por ficar em casa, para evitar problemas de barragens de trânsito e outras confusões ligadas aos piquetes de greve. Como se costuma dizer, organização é tudo! E, hoje, a organização permitiu um impacto maior do que a participação efectiva e deliberada na greve.
As duas principais razões do movimento grevista têm que ver com a decisão do governo de não aceitar, em 2015, e apenas nesse ano, para já, que os salários sejam indexados à taxa de inflação – uma prática de indexação que existe há muitos anos e que tem ajudado a manter o poder de compra – e, segunda razão, com o aumento da idade da reforma.
Estas duas medidas transformaram-se nas bandeiras da mobilização social.
Curiosamente, os polícias não pararam hoje. Acharam que seria inoportuno estar em greve quando a ordem pública poderia precisar deles. Vão fazer, amanhã, das 07:00 às 08:30 horas uma acção sindical que é, na realidade, uma greve de zelo. Vão passar, durante essa hora, o trânsito a pente fino: documentos, controlos técnicos, extintores, tudo vai ser pretexto para reduzir a fluidez do trânsito, nesse espaço de tempo, a uma velocidade de caracol.
Depois, irão manifestar-se à frente do ministério, antes de voltar ao serviço habitual.
Entretanto, a questão se coloca é muito clara: é preciso negociar. Em democracia, tudo se deve resolver pelo diálogo.
A greve dos pilotos de Air France entra na segunda semana, sem se perceber bem por que razão. Os transportes aéreos estão em evolução constante e a competição é de cortar à faca. Mais tarde ou mais cedo será preciso ter em conta as realidades. Air France não pode ter custos, incluindo custos salariais, que a tornem incapaz de competir com outras companhias que oferecem um serviço semelhante.
Warren Buffett, o guru dos investimentos bolsistas americanos, diz que que comprar acções de companhias de aviação é um erro que ele não pratica. A tendência é para a desvalorização dessas acções, para que se perca parte do dinheiro empatado, sobretudo quando se investe nas chamadas companhias de bandeira. Não sei se valerá a pena dizer isso aos pilotos de Air France.
Entretanto, recordo que a companhia low-cost que Air France quer estabelecer deverá operar a partir de Portugal e, a outra parte, da Alemanha. Interessante. Low cost, aqui e para lá do Reno.