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Vistas largas

Crescemos quando abrimos horizontes

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Crescemos quando abrimos horizontes

Combater a indiferença

Tenho escrito múltiplas vezes que não podemos ficar indiferentes perante o sofrimento de outros povos. A repetição pelas televisões de imagens trágicas tendem a banalizar o sofrimento. Não podemos cair nessa armadilha. A mundialização deve tornar-nos mais humanos e não meros espectadores apenas. Quem teve a sorte de nascer do lado bom da geografia tem de perguntar a si próprio uma questão muito directa: que posso fazer, à minha medida e com todos os meus limites, para tornar umas vidas menos brutais e menos ameaçadas por toda uma série de perigos e de violências.

As imagens que nos vêm do Afeganistão ou do Haiti não podem ficar sem resposta.  

Promessas sem seguimento

Depois do terramoto, teve lugar uma reunião de doadores. As promessas foram muitas, os anúncios de ajudas chegaram aos milhares de milhões.

 

Seis meses passados, apenas a Austrália, o Brasil, a Estónia e a Noruega cumpriram o que haviam prometido. As suas contribuições estão já a ajudar o Haiti. Os outros países, incluindo Portugal, não honraram ainda a sua palavra.

 

No total, apenas 10% do que fora anunciado na conferência de doadores foi efectivamente posto à disposição da reconstrução do Haiti. O resto vale o que valem as palavras ocas de governos que, depois do espectáculo, passam à frente e esquecem o que haviam dito.

 

Assim se está a fazer política internacional. 

Ajudas, verdades e desafios

 

O texto que produzi para a VISÃO on-line de hoje, melhor, desta semana, reflecte sobre a coordenação e a resposta humanitária no caso do Haiti. Falo da presença massiva dos EUA e da falta de coordenação e de máquina comum, no que diz respeito à Europa. E faço uma referência ao papel da ONU, que tem sido objecto de muitas críticas.

 

O link para o artigo é o seguinte:

 

http://aeiou.visao.pt/derivas-haitianas=f545158

Um sonho distante

 

O dia começou com a poeira do harmatão. Aquele pó fino, vindo do deserto do Sahara, que entra por todos os poros, entope as narinas, traz infecções respiratórias, vírus e outras maleitas. A temperatura era de 16 graus, às sete e meia da manhã. Frio, para estas gentes, Inverno rigoroso.

 

No final do dia, o céu voltou a estar limpo. Um ar ameno e fresco. Fez-me bem sentir a brisa da noite, depois de um dia fechado em milhares de problemas. Um dia de pouca visibilidade, em todos os sentidos. Continuámos as nossas discussões sobre o futuro da MINURCAT. Nada fácil, discutir o futuro. O futuro constrói-se, dizer isso não deveria ser uma banalidade. Exige coragem e ideias claras. Mas discutir com governos é uma arte chamada paciência.

 

Dizem que tenho alguma. Sou tão paciente como um vulcão que ainda não explodiu.

 

A ONU faz aqui mais do que seria de esperar. É fundamental para a segurança das pessoas, na área de operações. Mas há sempre quem diga que é pouco, insuficiente. Esquecem que as Nações Unidas são apenas aquilo que os Estados membros querem que sejam. Com todos os atrasos e defeitos dos países que compõem a organização.

 

Continuaram as críticas ao nosso trabalho no Haiti. À falta de coordenação humanitária. À subordinação aos Estados Unidos. Entretanto, ninguém fala da falta de presença das instituições europeias, que sacam todos os anos centenas de milhões de Euros dos contribuintes para ajuda humanitária, através do ECHO --tenham a curiosidade de ir ao Google -- e que brilham pela ausência.

 

Por isso se diz que a Europa é um sonho. Longínquo, bem entendido.

 

Terramotos

 

Continuamos todos a viver as ondas de choque do terramoto do Haiti. Já passaram 48 horas e muitos dos nossos colegas continuam desaparecidos. Um ou outro caso, que fora dado como encontrado, revelou-se ser um engano, um erro de identificação, numa atmosfera de grande confusão. Ou seja, o que havia sido uma alegria para a família dessa pessoa, passou a ser um drama.

 

O Haiti precisa de água, comida e medicamentos, bem como de equipas médicas e de psicólogos. Para já, é preciso enterrar os mortos e tratar dos vivos. E garantir a ordem pública. Não há lugar para voluntários de boa vontade mas sem experiência. Estas situações exigem equipas altamente especializadas, bem preparadas e coordenadas.

 

Estes acontecimentos mostram que é fundamental fazer formação de voluntários em matéria de protecção civil. Existe muita gente, incluindo em Portugal, que estaria disposta a oferecer os seus préstimos em casos de crise como estas. Mas precisa de treino, de preparação. Sem contar, que, em caso de crise no nosso próprio país, essas pessoas estarão em condições de oferecer a primeira linha de resposta.

 

Trabalhei alguns anos como coordenador humanitário. O trabalho humanitário exige uma mobilização constante, pois nunca se sabe quando a crise bate à porta. É um trabalho duro, que exige nervos de aço e uma paciência de estatueta de madeira. Foi das funções que mais me custou a desempenhar. É que nestes casos, o sofrimento das pessoas é imediatamente visível, e a nossa impotência é, muitas vezes, ainda mais notória.

 

 

 

De luto

 

A tragédia que o Haiti está a viver toca-nos muito. Tenho, na minha Missão, vários funcionários de nacionalidade haitiana. Estão como que paralisados, o choque foi demasiado grande. A nossa equipa de aconselhamento psicológico, um pequeno conjunto de especialistas que está muito habituado a lidar com traumas violentos, em zonas de conflito, tem estado em contacto com os colegas que ficaram mais fragilizados.

 

O chefe da Missão da ONU no Haiti, Hédi Annabi, um velho colega meu, e o seu adjunto, o Luís da Costa, outro conhecido de muitos anos, continuam desaparecidos. Estavam, mais o Comandante da Força Militar da ONU, o Comissário da Polícia (UNPOL) e outros colegas seniores, numa reunião com uma delegação chinesa. Receia-se que tenham, todos, perdido a vida.

 

O destino é o que é. O General Gerardo Chaumont, um homem bom, argentino e com muita experiência em matéria de segurança, antigo comandante-geral adjunto da Gendarmeria Argentina, trabalhou um ano e meio comigo no Chade. Em finais de Dezembro, resolveu aceitar a sua transferência para a Missão no Haiti. Por ser mais perto de Buenos Aires. Queriam que fosse directamente de N'Djaména para Port-au-Prince. Se tivesse acedido, teria morrido ontem. Mas, não. Disse que só começaria as suas novas funções em Fevereiro. Quando o fizer, encontrará um Haiti destruído e à deriva.

 

Estes são tempos que nos interpelam. 

 

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