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Vistas largas

Crescemos quando abrimos horizontes

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Crescemos quando abrimos horizontes

O pó que vem de longe

Hoje uma parte de Portugal, o Sul pelo menos, teve a oportunidade de perceber os efeitos da desertificação que todos os anos avança em África. O céu esteve coberto de pó vindo do Saará. Já ontem havia acontecido o mesmo. Este fenómeno climático é cada vez mais extenso, atingindo agora partes da África Central e Ocidental que dantes ficavam de fora. E também se faz sentir na Europa, na Península Ibérica e na parte Meridional da França.

No Sahel, nesta altura do ano, em certos dias é impossível a um helicóptero aterrar. Não há visibilidade suficiente para isso. Aconteceu-me várias vezes. A única solução era voltar para trás.

Um sonho distante

 

O dia começou com a poeira do harmatão. Aquele pó fino, vindo do deserto do Sahara, que entra por todos os poros, entope as narinas, traz infecções respiratórias, vírus e outras maleitas. A temperatura era de 16 graus, às sete e meia da manhã. Frio, para estas gentes, Inverno rigoroso.

 

No final do dia, o céu voltou a estar limpo. Um ar ameno e fresco. Fez-me bem sentir a brisa da noite, depois de um dia fechado em milhares de problemas. Um dia de pouca visibilidade, em todos os sentidos. Continuámos as nossas discussões sobre o futuro da MINURCAT. Nada fácil, discutir o futuro. O futuro constrói-se, dizer isso não deveria ser uma banalidade. Exige coragem e ideias claras. Mas discutir com governos é uma arte chamada paciência.

 

Dizem que tenho alguma. Sou tão paciente como um vulcão que ainda não explodiu.

 

A ONU faz aqui mais do que seria de esperar. É fundamental para a segurança das pessoas, na área de operações. Mas há sempre quem diga que é pouco, insuficiente. Esquecem que as Nações Unidas são apenas aquilo que os Estados membros querem que sejam. Com todos os atrasos e defeitos dos países que compõem a organização.

 

Continuaram as críticas ao nosso trabalho no Haiti. À falta de coordenação humanitária. À subordinação aos Estados Unidos. Entretanto, ninguém fala da falta de presença das instituições europeias, que sacam todos os anos centenas de milhões de Euros dos contribuintes para ajuda humanitária, através do ECHO --tenham a curiosidade de ir ao Google -- e que brilham pela ausência.

 

Por isso se diz que a Europa é um sonho. Longínquo, bem entendido.

 

Tempos acelerados

 

Era suposto ser um Domingo tranquilo. O céu estava de um azul sem manchas. Faz sonhar. Mesmo nestas terras. O harmatão, este ano, tem-nos poupado. Não tem havido a poeira no ar, habitual nesta estação. Os dias começam frescos, com cerca de 16 graus, aqui na capital do Chade, depois aquecem, vão aos trinta e cinco ou isso por aí à volta. Hoje era dia de escrever a minha prosa para a Visão desta semana. Tinha combinado que continuaria a reflectir sobre o terrorismo.

 

O embaixador inglês, residente em Youndé, chegou a meio da manhã. Para umas reuniões comigo e com outros embaixadores. Pedi ao meu director de gabinete que o recebesse. Uma colega sénior das Nações Unidas havia chegado ontem à noite. Está de passagem, a caminho de Bangui. O meu protocolo teve a missão de se ocupar da colega. Tudo para me permitir alguma pausa.

 

Acabou por não ser bem assim. Depois do incidente no campo de refugiados de Gaga, ontem, havia que iniciar um inquérito, hoje. Mandei uma equipa de investigadores. O Leonardo, um Subintendente da PSP aqui em serviço, fazia parte da equipa. É um excelente profissional, que muito honra a presença portuguesa. Entretanto, mais a Norte, em Iriba, a base de CARE, uma ONG com quem trabalhamos, foi atacada por homens armados, para roubar o que fosse possível, incluindo as viaturas. A nossa Polícia (DIS) saiu em perseguição. Um dos agentes foi ferido num pé. Lá foi preciso organizar uma evacuação sanitária para Abéché, por helicóptero.

 

No sector Sul, em Birao, as tropas do governo, um pelotão, foram atacadas por cerca de cem homens armados. 45 quilómetros ao Norte da cidade, a caminho da fronteira com o Chade. Uma zona com mais rebeldes do que habitantes. Um recorde. Mais uma intervenção a prever, do nosso lado.

 

Entretanto, o texto para a Visão lá foi avançando. Ao princípio ficou muito técnico, quase parecia um míni relatório sobre a problemática da análise das informações de segurança. Tive que fazer várias passagens, cortar a torto e a direito, que 3500 caracteres não dão muito espaço. Continuei essa tarefa, até me lembrar que havia prometido telefonar à minha filha mais nova, que está a residir em Espanha. Segunda ou o mais tardar, Terça, prometera eu. Com todas as surpresas da semana, a coisa passou-me. A promessa tornou-se uma de mau pagador. Peguei no telefone e pedi que me desculpasse. É que eu tenho alturas em que nem sei a quantas ando.

 

 

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