A comparação que Sergey Lavrov fez entre o Holocausto e o apoio que certos países estão a fornecer à Ucrânia, para que se possa defender da agressão russa, é simplesmente inaceitável. Ninguém quer destruir a Rússia ou acabar com os russos. Pede-se-lhes, apenas, que se retirem dos territórios que pertencem à Ucrânia e que assumam a responsabilidade dos crimes de guerra entretanto cometidos.
Hoje celebra-se o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Pessoalmente, considero o dia como particularmente importante. Trata-se de crime que ocorreu no passado recente da Europa, que vitimou milhões de inocentes. O dia lembra-nos não apenas esses milhões de vítimas, mas também que uma barbaridade desse tipo e tamanho ocorreu num dos países mais avançados do continente europeu. Ou seja, que o radicalismo político e a xenofobia podem acontecer nas nossas paragens e que por isso devem ser firmemente combatidos, logo que saiam para a praça pública. O holocausto mostrou que a selvajaria e o ódio podem levar a situações absolutamente abomináveis, mesmo nas sociedades mais avançadas.
Neste 75º aniversário da libertação do campo de extermínio de Auschwitz, seria imperdoável não mencionar a data e o seu significado. 27 de Janeiro marca o dia da memória das vítimas do Holocausto. Lembra-nos que este horror, o genocídio dos europeus judeus e a execução em massa de muitas outras pessoas, aconteceu na Europa do Século XX e foi levado a cabo por gente que se achava superior aos outros. O racismo, o ultra-nacionalismo e a exaltação patriótica sem limites, a obediência cega, alimentada pelo mito da excelência da disciplina colectiva, a ditadura política, tudo isto levou o regime nazi alemão à loucura e à chacina de milhões de seres humanos.
Para além de tudo o que se possa dizer sobre o Holocausto, e da tristeza profunda que nos fica quando é evocado, a grande questão que levanto é a de procurar saber se algo parecido poderá acontecer na Europa do Século XXI. Não há resposta definitiva perante uma pergunta deste género. Mas deverá haver alguma preocupação. Os herdeiros ideológicos dos Nazis estão a levantar a cabeça, quer na Alemanha, quer noutros países europeus. Por outro lado, jovens radicais islâmicos, cidadãos de vários países europeus, têm levado a cabo acções de intimidação anti-semitas. O caso francês é o mais flagrante. Em certas localidades da periferia de Paris, em certos bairros de grandes cidades, os cidadãos franceses identificáveis como “judeus” sentem-se cada vez menos tranquilos.
Tudo isto é inaceitável. E deve ser dito com todas as letras.