Eusébio deu-nos agora a lição final: um povo precisa de heróis. De homens e mulheres que ultrapassem a bitola comum. De gente que, vinda do caniço ou do bairro da pobreza, da aldeia mais escondida ou do sítio mais improvável, nos ensine a acreditar na grandeza que se esconde em cada indivíduo e nos mostre que é sempre possível ir mais além.
Os leitores, que foram centenas, dos blogs que publiquei ontem sobre o machismo institucional, têm hoje a oportunidade de ver uma das fotografias oficiais da apresentação de votos do Governo ao Presidente da República. E notarão que as mulheres que são ministros, duas apenas, não aparecem na fotografia. Ou seja, houve novamente, ao mais alto nível, falta de sensibilidade política para uma questão que deve ser central, que é a participação das mulheres portuguesas nos órgãos de decisão do Estado.
O que já fora óbvio ontem confirma-se hoje. Somos, em muitas coisas, um país que precisa de se modernizar.
Talvez fosse altura de sugerir aos chefes que mirem o que se passa em Madrid...que vejam a composição do governo espanhol, do actual e do precedente...Em ambos os casos, considerados exemplares, a par dos Nórdicos, no que respeita à paridade entre os homens e as mulheres.
Os 33 mineiros chilenos deram várias lições ao mundo. Mostraram como funciona uma equipa coesa, bem chefiada, determinada, o que significa ter coragem, o valor da paciência, da perseverança e da disciplina, o saber acreditar nos outros, nas autoridades, nos grupos de socorro, na solidariedade. Mostraram o peso que o apoio familiar tem, quando se trata de situações dramáticas.
Trabalhavam em condições de grande precariedade laboral, numa mina que não aplicava os regulamentos mínimos de segurança, mas que pagava um pouco mais. Hoje, os homens aprenderam que a segurança não tem preço e que certos riscos não compensam. Saem deste acidente mais fortes e com uma visão muito diferente da vida e de si próprios.
Que a vida lhes continue a dar a sorte que desta vez não lhes faltou!
Quem está numa posição de liderança tem que mostrar um empenho total na causa pública e dar uma imagem de seriedade, ponderação, conhecimento, convicção e, ao mesmo tempo, de diálogo. Os que trabalham à volta do líder devem projectar o mesmo tipo de imagem.
Zé Cravinho, emigrante português na Holanda desde os anos 60, escreve hoje um comentário ao meu artigo da semana, na Visão, que vale a pena ler.
Antigo operário, poeta popular, homem de convicções, vive, aos 86 anos, agarrado ao computador, a seguir e a comentar a actualidade.
O testemunho que partilha connosco faz-nos pensar no muito que ainda há para fazer, aqui em Portugal, para que se aprecie as pessoas e o seu valor. Mesmo, quando já muito idosos e não tendo sido mais, na vida, do que um simples operário fabril.
Foi um dia de estrada. Oitocentos marcos, pela Franca abaixo. Paris, embora fosse Domingo, por isso, com menos transito, que muitas empresas estão fechadas, continua a ser um inferno de movimento, engarrafamentos, carros e motas aos milhares, e' impossível calcular quanto tempo vai demorar passar pela cidade das luzes e dos sonhos. Com o GPS aos comandos, sempre se vai por umas estradas por onde ninguém quer passar, o inferno do tráfego e' substituído pelos buracos feios dos bairros da periferia anónima, impessoal, cruel destruidora da alma das pessoas.
Já ao fim do dia, em La Rochelle, foi possível esquecer o pesadelo dos periféricos. O restaurante Les 4 sergents, recomendado por Michelin, ajuda a apagar os quilómetros. Na mesa ao lado, jantava um jovem, tudo muito bem comido e melhor regado, com os seus dois cães de estimação como companhia. Um no regaço, outro aos pés, os malandrecos portaram-se bem, mas gostaram imenso de ir provando as estrelas do chefe. A determinada altura, veio um prato de mexilhões, preparado com requinte, e um dos bichos ficou de olhar fixo, que os mariscos tinham bom cheiro e pareciam estar bem preparados. Tudo com excelentes maneiras, que nestas coisas recomendadas pelo Michelin, os Ingleses, os Franceses, eu por acaso, portam-se bem.
José Saramago deixou-nos hoje. Sentimo-nos mais pobres. Foi um português que não teve medo de abrir novas frentes, ao desafiar constantemente a nossa maneira tradicional de pensar. Com ele, com as suas frases intermináveis e as suas alegorias, muitos de nós aprenderam a pensar sem barreiras. A deixar voar o olhar crítico sobre nós próprios. A saber que todas as interrogações são legítimas.
Gente assim cabe dificilmente no Portugal que temos. Por isso, foi viver para a porta ao lado. É melhor para os nervos. E envia um sinal que poucos entendem, mas que deveria voltar à baila, neste momento da sua viagem definitiva para o espaço das memórias. A mensagem que continuamos a fechar os nossos horizontes, a viver agarrados à sotaina das ideias de outrora, num círculo de vistas estreitas, que acaba por excluir as mentes livres e criadoras.
Na Visão, publico um texto sobre a BP, o derrame de petróleo no Golfo do México, as repercussões políticas, domésticas e externas, desta crise, partilho uma experiência de trabalho com as grandes multinacionais do petróleo, até falo mesmo de futebol...
Agradeço a todos os que, de um modo ou de outro, tiveram em conta a questão que ontem trouxe à consideração de quem me segue, neste blog. Respostas certamente interessantes, muito no sentido de apoiar o primeiro tema. Assim será. Terei em conta. Mas gostaria de lembrar a importância do tópico número três, sobre a igualdade entre os homens e as mulheres. Mesmo na Europa mais avançada, é assunto ainda não resolvido. Veja-se, por exemplo, o caso do novo governo britânico. São poucas as mulheres na fotografia, em número quase sem significado, com excepção do ministério do interior, um departamento muito importante na estrutura governamental da Grã-Bretanha. David Cameron podia ter feito melhor.
Já que estou em maré de agradecimentos, queria aqui reconhecer o esforço das diferentes secções da PSP que contribuiram, com muito profissionalismo, para a segurança do Papa, durante a sua visita a Portugal. Quem está por dentro dos sistemas de segurança sabe que a PSP fez um trabalho excelente. Os riscos existiam, mas tudo correu bem. A PSP que se vê na rua é apenas uma pequena parte de uma estrutura complexa, que vive da dedicação dos seus elementos, mulheres e homens. Uma dedicação que vai muito além das parcas compensações que usufruem.
Se o leitor tivesse que escolher um tema, entre os três que se seguem, qual seria a escolha? Qual é, neste momento, o mais actual e de maior urgência?
É verdade que os temas não têm muito que ver com a crise económica e financeira, que domina todas as atenções. Mas estão muito relacionadas com grandes problemáticas sociais, os direitos humanos, a justiça social, a aceitação do Outro, o respeito pela diferença, quer na Europa, quer nas relações entre o nosso espaço e o resto do mundo. São, além disso, muito prementes, em vários cantos da Terra.
Os temas são:
1. Liberdades, responsabilidades, direitos e ética.
2. Liberdade de expressão, de consciência e de religião.
3. O princípio da igualdade entre os homens e as mulheres.