A União Europeia está a olhar para o desenvolvimento extremamente rápido da Inteligência Artificial (IA) a partir de dois ângulos: o impacto sobre o emprego e a desinformação. O segundo talvez seja mais importante que o primeiro, pelos riscos que traz para o bom funcionamento das democracias e a paz social. O emprego irá conhecer grandes mudanças, com a automatização acelerada de muitos postos de trabalho, incluindo funções tradicionalmente exercidas por pessoas com formação académica superior ou média. Mas para além destas duas áreas existem muitas outras preocupações. Ultimamente têm aparecido várias reflexões sobre o assunto. Espero tratá-lo no meu texto desta sexta-feira no Diário de Notícias.
A dimensão fundamental no processo educativo dos adultos de amanhã é criar capacidade crítica. A manipulação das mentes será agravada com a utilização de instrumentos de Inteligência Artificial. As novas gerações devem estar preparadas para separar o trigo do joio, para levantar interrogações, para evitar teorias conspirativas e enganos.
A discussão sobre os progressos e os perigos da Inteligência Artificial anda muito acesa. Fala-se mesmo no “dilema da IA”. E eu confesso que não entendo qual é esse dilema. Serão, na realidade, vários, ou seja, toda uma série de desafios que irão alterar a maneira como certas profissões serão exercidas, que terão um impacto sobre a estrutura das classes sociais e o novo desenho das pirâmides sociais, e que porão em causa a defesa da soberania dos países que não avançarem rapidamente nas tecnologias e linguagens que permitirão gerir as armas, os sistemas cartográficos, a identificação dos alvos, etc, etc. A verdadeira corrida entre as superpotências decorre aí, na área da defesa, mas não só. A tecnologia de ponta permitirá desenvolver economias mais avançadas, ganhar a corrida do bem-estar e do lazer.
Imaginemos que um programa de Inteligência Artificial norte-americano chegava à conclusão de que o cerco chinês de Taiwan era um primeiro passo para uma invasão da ilha. E depois? Que poderia acontecer como resultado dessa análise feita por computador, com base em milhões de variáveis?
Microsoft vai despedir 10 mil empregados. Amazon pensa fazer o mesmo. Na semana passada, Goldman Sachs despediu, em 30 minutos, 3200 empregados. Crédit Suisse deverá despedir cerca de 9 mil. Meta, Twitter e outros gigantes tecnológicos preparam-se para seguir o mesmo caminho. O mesmo irá acontecer nalguns dos bancos mais importantes nos mercados internacionais.
O objectivo é sempre o mesmo: reduzir os custos, substituindo os humanos por sistemas de Inteligência Artificial. A IA irá representar, em vários sectores, uma revolução no mercado de trabalho. Até na área da advocacia, por exemplo. Quem irá precisar de um conselho de um advogado, se a internet, através da IA, pode dar a resposta à pergunta jurídica e mesmo, se for necessário, preparar o documento de defesa ou de acusação?
O aceleramento da revolução tecnológica terá um impacto impensável sobre certas profissões.