Os Pandora Papers revelam, entre muitas outras coisas, corrupção de alto nível e abuso do poder, por parte de certos políticos e dos seus amigos e compadres. Mostram, acima de tudo, a relevância de jornalistas independentes e de órgãos de comunicação social corajosos e conscientes do seu dever cívico. Não foram as instituições judiciárias ou de polícia quem procedeu à investigação. Foi uma coligação de jornalistas, trabalhando em meios de comunicação social sérios e com recursos suficientes. Assim para além de tudo o mais, foi uma vitória da liberdade de imprensa. E uma demonstração que esta é essencial para o bom funcionamento das sociedades democráticas
O Diário de Notícias voltou às bancas hoje, no dia em que perfaz 156 anos de existência. A partir de agora, volta a estar presente nas nossas vidas, com o seu cheiro a tinta fresca e com uma qualidade que fazem desse diário uma referência.
É uma boa notícia. A sua publicação quotidiana exigirá um grande esforço por parte de todos os que nele labutam ou com ele colaboram. Sei que estão prontos para o desafio.
Entretanto, a edição comemorativa de hoje era vendida com acompanhamento: trazia como oferta, para que se pudesse celebrar o aniversário com estilo, uma pequena garrafa de espumante. Lá foi, à saúde de todos e ao bom sucesso do projecto DN.
No jornalismo, como em muitas outras áreas, a concorrência é enorme. É fácil encontrar um semanário ou um diário que se transformou num poço sem fundo, a perder dinheiro, leitores e jornalistas a olhos vistos. Os poucos que medram fazem-no graças às assinaturas digitais e à qualidade dos conteúdos. The Economist é um desses raros exemplos de sucesso. Cada texto é escrito com seriedade, bem assente em pesquisas sólidas e sabe combinar informação com opinião. Tem poucas fotos, que custam caro, mas sabe jogar com a apresentação gráfica, de modo a evitar a impressão de páginas demasiado densas. Tem servido de inspiração a outras revistas, que procuram seguir um modelo semelhante.
À questão da concorrência junta-se a profunda revolução na maneira de comunicar. Entre outros aspectos, as novas gerações perderam o gosto pelo papel. Só sabem manejar os telemóveis e as plataformas digitais. E querem coisas rápidas, com conteúdo resumido e contadas como se se tratasse de um filme de acção. A própria televisão está ameaçada por estes novos hábitos. Os telejornais e os programas genéricos começam a ser coisas de gente de idade.
Vem tudo isto a propósito de uma nota que me fizeram chegar sobre a escassez de leitores das colunas de opinião que aparecem nos nossos jornais e revistas. As soluções propostas eram de outra época. Como também seria de uma outra época pensar que os subsídios públicos salvariam a imprensa e a diversidade de opiniões. Seriam, isso sim, meras aspirinas. As dores de cabeça iriam continuar, mesmo com uma dose reforçada.
A imprensa escrita de qualidade, a que representa os chamados jornais de referência, tem que dar mais atenção à produção de textos curtos, incisivos e divertidos, curiosos. Nestes tempos de abundância de fontes de informação, poucos leitores estarão dispostos a ler uma página inteira de opinião, uma arenga espanta-paciência. Sobretudo, quando a maioria das frases se referem a factos conhecidos e não passam de amontoados de palavras que servem apenas para encher o espaço disponível.
Estima-se que apenas pouco mais do que 10% da população adulta francesa leia um jornal diário. E uma boa parte dessas pessoas fá-lo pela internet, sem qualquer tipo de contacto com o papel. A maioria informa-se através da televisão, ou então, ao ouvir as rádios, nas suas viaturas, enquanto se desloca na prossecução dos seus afazeres quotidianos. Porém, na verdade, a televisão é que conta.
Estas constatações obrigam a uma interrogação muito séria sobre o futuro da imprensa escrita. E não apenas em França, onde um jornal de referência como Le Monde está endividado até ao nariz, mas também em Portugal e noutros países.
Temos que acreditar nos jornais de referência, na comunicação social que faz um trabalho sério. Os media são fundamentais para o bom funcionamento da democracia. Sobretudo nestes tempos, em que existe muita manipulação das informações, enxurradas de notícias falsas e páginas sem fim de comentários ligeiros, tendenciosos ou pouco honestos. Por isso, quando a comunicação social dá espaço a textos ou programas de opinião tem igualmente a obrigação de procurar a diversidade e o contraditório. E de aclarar, quando a opinião estiver baseada em falsidades. Se o não fizer, estará a perder a credibilidade que tanta falta lhe faz. E a nós, também.
O link para o meu programa desta semana na Rádio de Macau, um trabalho semanal de equipa com Hélder Beja, um homem de letras, e a jornalista Catarina Domingues. Ambos vivem em Macau há vários anos.
Em Portugal, os jornais e as revistas impressas estão nas ruas da amargura. Cada vez vendem menos, continuam todos num processo de falência mais ou menos encapotada. O único que se safa é o Correio da Manhã (CM), que investe num tipo muito específico de jornalismo: alcova, faca e alguidar, monstros com três olhos e textos curtos e muito directos.
Mas não é sobre o CM que quero escrever. Nem sobre os falidos do papel. Intriga-me e interrogo-me sobre um outro meio de comunicação social, o jornal digital Observador.
O Observador foi lançado há quase três anos. Na altura, foi revelada uma lista de accionistas do projecto e dito que o jornal seria financiado pela publicidade. Com o tempo, o Observador cresceu, passou a ser uma referência intelectual do pensamento conservador e de direita, uma espécie de contrapoder, num panorama jornalístico muito dominado pela esquerda. Tornou-se, à sua medida, um êxito. Menos na área da publicidade. Percorrer o sítio do jornal é como fazer uma viagem sem anúncios. Ou seja, sem receitas aparentes. E aqui temos uma contradição importante e muito curiosa: a publicação continua a crescer, com custos certamente muito significativos, embora incomparavelmente menores dos que resultariam de uma edição em papel, mas sem que se entenda donde provêm os fundos que pagam esse crescimento e mantêm tanta gente tão atarefada.
Como nestas coisas ninguém gosta de perder, temos aqui um grupo de financiadores, os anunciados ou outros, não sei, que aposta forte e feio num futuro risonhamente de direita e que pensa que um dia irá ganhar.
Na imprensa internacional, a tomada de posse do novo Secretário-Geral da ONU apenas mereceu umas linhas e uns rodapés. Amigos, que conhecem bem a casa, dizem-me que este tratamento do assunto é revelador da marginalização em que as Nações Unidas se deixaram colocar, ao longo de uma década ou mesmo, desde os acontecimentos que viraram a página do mundo em 2001, em Nova Iorque.
É possível que uma parte das razões esteja por aí.
No entanto, numa altura de muitos dramas e surpresas, a transição serena que esta semana ocorreu em Nova Iorque não chega a ser notícia. Não há tempo e espaço para os acontecimentos normais e previsíveis. Alepo e outras tragédias, que nos enchem os ecrãs diariamente, são a anormalidade que é preciso contar. E ainda bem que não passam despercebidas, embora a visibilidade não tenha ainda contribuído para envergonhar e punir quem não quer resolver estas coisas.
Mas não é só a Síria ou coisas semelhantes. A ONU também não pesa quando comparada com os futebóis. Esses sim, merecem páginas e páginas de atenção.
Uns breves comentários, no fim de um dia muito agitado.
Portugal, que tem uma economia pobre, não precisa de radicalismos anticapitalistas e de infantilismos doutrinários. Necessita, isso sim, de serenidade política que atraia investimentos e dê confiança a quem pode criar economia e emprego.
O primeiro-ministro não pode dar a impressão que não controla as suas hostes, sobretudo os mais exaltados dos extremistas e outros “jovens turcos” que andam aos pulos para serem vistos pela pacóvia que controla os meios de comunicação social.
Veja-se se a lista dos chefes de Estado que o Presidente tem a intenção de encontrar em Nova Iorque, nas margens da Assembleia-Geral da ONU e prometa-se, de seguida, uma velinha à Virgem de Fátima.
Entretanto o Wall Street Journal publicou um artigo de opinião contra António Guterres. Diz que o nosso compatriota não soube gerir o ACNUR, invocando para isso uma investigação interna da ONU, recente, que de facto existe, mas que não incrimina Guterres. Enfim, um artigo de lixo num jornal influente.