Voltando ao escândalo que é a Caixa Geral de Depósitos, qual é a justificação para que a anunciada “auditoria forense”, decidida pelo governo há mais de dois meses, ainda não tenha sido iniciada? Quem tem aconselhado o governo a não andar para a frente com a auditoria, dizendo que uma investigação judicial dos actos praticados nos últimos mais ou menos dez anos não seria politicamente oportuna, por poder vir a mexer em gente com muitos poderes?
Não houve actos ilícitos? Não há responsáveis? Ninguém tem culpa?
É só fechar os olhos, toca a roda e mais do mesmo?
É por estas que eu penso que a política e os negócios devem ser mantidos em esferas separadas. Cada um no seu domínio, com regras claras e supervisão a sério. O resto é conversa, é ideologia barata, é abrir as portas à corrupção e ao roubo organizado e impune.
O que aconteceu no BES teve certamente profundas implicações políticas. Mas para além de ser um caso político, cujos contornos poderão ser elucidados pelo inquérito parlamentar em curso, é igualmente um caso de polícia. Os indícios da prática de vários crimes são cada vez mais evidentes. Tem que haver uma investigação criminal a sério, um apuramento de responsabilidades e os julgamentos que forem considerados adequados. O que aconteceu, o que foi praticado, não pode ficar impune.
A Bolsa de Lisboa, sobretudo no que toca ao sector bancário, ficou muita fragilizada, no seguimento da crise do BES. Há hoje um risco real que uma parte importante da banca nacional restante entre numa espiral desastrosa. Mas não são apenas os bancos que estão ameaçados. Existem muitos projectos de investimento que se vão revelar inviáveis, que apenas existiam em virtude dos favores que certos banqueiros faziam aos amigos e a si próprios. Projectos que na realidade eram apenas biombos que escondiam a apropriação privada de dinheiros dos depositantes.
Tudo isto foi possível porque as instituições portuguesas funcionam mal, fazem de conta e têm como prática habitual o favorecimento de um pequeno número de indivíduos. E porque vivemos num país onde reina a impunidade. A impunidade dos ricos e dos poderosos. Quando isso é a norma, um país deixa de funcionar de modo normal. Passa a estar a saque. E entra num processo de colapso.
Receio bem ser essa a situação em que Portugal se encontra.
O sargento que dirige a Associação Nacional de Sargentos disse, em declarações públicas, reagindo à comunicação do Primeiro-ministro sobre o orçamento de 2012, que era preciso derrubar este governo e explicou que as revoluções não se anunciam, fazem-se. Este militar, no activo, não podia ter sido mais claro nas suas palavras subversivas.
Não sei o que o ministro da Defesa pensa sobre o assunto. Aparentemente, não pensa nada, pois não se lhe conhece nenhuma reacção a esta atitude inaceitável do sargento em causa.
O último dia de Agosto fica marcado por um tempo de inverno e mais austeridade. Chuva e novas cargas fiscais, numa altura em que se esperava Sol e um plano que trouxesse alguma esperança aos portugueses.
Sem esquecer que o ministro e o seu chefe continuam a não dizer nada que se oiça sobre o escândalo que é o governo da Madeira.
Uma vez mais, ninguém tem a coragem política de olhar para as muito sérias irregularidades que se praticam na governação da responsabilidade de Alberto João Jardim. O ministro volta, novamente, a "aconselhar" o Alberto João a pensar num programa de ajustamento, com o FMI, como se a Madeira fosse um estado vizinho, ao qual se daria uma conselho de boa vizinhança. E nada mais.
Só há uma palavra para resumir tudo isto: inaceitável.
Anda por aí muita gente com os nervos à flor da pele. Nomeadamente, quem compra e vende nas bolsas de valores. A agitação não é boa conselheira. Quem anda nervoso reage de modo desmedido. Toma como factos simples rumores.
Desta vez, um jornal inglês, conhecido pelas suas histórias exageradas, o DailyMail, publicou, na sua edição de domingo, uma nota que dizia que o banco francês SociétéGénérale estava com dificuldades de solvência. Esta falsa notícia chegou aos floorsdas bolsas hoje de manhã. Fez perder à SG cerca de um quarto do seu valor, provocou pânico, por toda a parte, e motivou uma reunião de urgência do governo de Paris.
Entretanto, perto do fim do dia, o DailyMail publicou um lacónico pedido de desculpas, uma linhas a dizer que lamentava a falta de veracidade da sua peça anterior.
É tempo de introduzir alguma lucidez no sistema económico internacional. Como também já vai sendo altura de punir quem invente boatos que ponham em causa a estabilidade do sistema.
Estas imagens de Birao mostram a violência dos dois ataques sofridos em Junho.
Amanhã, o governo, com o nosso apoio, envia uma missão, a partir de Bangui, de 12 personalidades. Vão tentar negociar com os líderes dos dois grupos rebeldes mais importantes. E com os chefes tradicionais. É um exercício de mediação que temos que apoiar.
Na Quinta-feira, despachamos um pequeno grupo de diplomatas para que passem o dia em Birao. Lado a lado com um repórter da BBC e outro de Al-Jazeera. Procuramos aumentar a visibilidade do conflito, que é meio caminho andado para a sua resolução. Antes que se torne um verdadeiro problema político. Para já, é apenas uma confrontação armada entre etnias.
Esta jovem tem razão para ter um ar desconfiado. A violência contra as mulheres, nesta parte do mundo, como em muitas outras, e' frequente e brutal.
Ainda ontem, pouco passava das cinco da tarde, morreu 'a frente da entrada do nosso comando central uma jovem que teria a idade desta rapariga. Ia num camião militar, do Exército Nacional Chadiano. Um camião que se dirigia para fora da cidade. Transportada contra a sua vontade, muito provavelmente, e para ter um tratamento, logo que começasse o deserto, de uma grande violência.
Quando o pesado se aproximou do nosso campo, um quartel 'a saída de N'Djamena, onde se encontra o meu escritório principal, bem como uma parte do comando militar das forças internacionais, a jovem pensou ver uma oportunidade de escapar ao que a esperava um pouco mais longe. Saltou do camião em andamento.
Só os gatos, diz o ditado, caiem sobre as suas patas. A jovem estatelou-se no alcatrão. Teve morte imediata. O camião dos soldados do Chade ainda abrandou um pouco. Depois, acelerou e desapareceu. Os meus sentinelas, soldados também eles, mas da Albânia, acorreram imediatamente ao local. Foram 50 metros de corrida para a morte, com o coração na boca. Apenas para constatar que o coração desta jovem já não tinha mais nada para dizer.
Mais tarde, a mãe veio identificar o corpo. Foi uma cena indescritível. Os gritos de dor entravam-vos pelo campo e arrefeciam-nos o cérebro, deixavam-nos paralisados. Era o cântico antigo da tragédia de todos o sem-poder, o horror sonoro do desespero de quem e' humilhado todos os dias. Um grito que se repete, todos os dias, nos mais diversos buracos do mundo.
A maioria dos Portugueses pensa que a investigação sobre o caso Freeport e' legítima, e não de inspiração política. Uma sondagem do jornal Publico, embora não sendo científica, mostra que mais de 70% dos que responderam assim pensam.
Por isso, continuar a insistir na música da cabala política não leva a parte alguma. E' argumento que não colhe, que já deu o que tinha a dar. O fundamental e' que a justiça responda a certos interrogações que precisam de ser esclarecidas, num caso que cheira intensamente a práticas corruptas. E que o faça sem demoras. Para o bem de todos, incluindo o da democracia em Portugal.