A credibilidade actual do governo é tão baixa que fico com a impressão que o país está a navegar ao sabor do vento, sem ninguém ao leme. É impressionante como António Costa deixou chegar a governação a esse ponto. Serão poucos os que ainda acreditam na sua capacidade de dirigir a equipa governamental.
Para complicar as coisas, do outro lado da barreira passa-se o mesmo. Montenegro não consegue projectar uma imagem de liderança que inspire um mínimo de competência. E a Iniciativa Liberal revelou, durante o fim de semana, na sua convenção nacional, que não passa de um saco de gatos assanhados, que não se entendem entre eles. Devo confessar que o nível de conflito no interior da IL foi uma surpresa. E as rivalidades entre os seus dirigentes não inspiram nenhuma confiança.
Como dizia recentemente um amigo meu, os problemas da democracia em Portugal estão na falta de nível dos dirigentes partidários e na ganância que inspira os militantes a inscreverem-se nos partidos. Isso, depois, leva à falta de empenho patriótico e ao desinteresse pelo desenvolvimento do país.
No seguimento da trapalhada de ontem sobre o futuro do aeroporto de Lisboa, trapalhada da responsabilidade do Ministro das Infra-estruturas, Pedro Nuno Santos, o Primeiro-ministro anulou a decisão tomada pelo ministro. Mas não o demitiu, nem lhe pediu que apresentasse o seu pedido de demissão. Esse teria sido o desfecho normal, num país normal e com um chefe de governo a sério. O caos político causado pelo ministro pôs em causa a autoridade do governo, o respeito devido ao Presidente da República e ignorou o dever de consultar a oposição. Que mais seria preciso para António Costa se afirmar como um Primeiro-ministro responsável e correr com o Santos da casa, que não faz milagres?
A situação à volta do Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA) parece ser uma grande embrulhada. Ao ouvir as declarações do Presidente da República fica claro que o governo meteu os pés pelas mãos. Cometeu o erro de anunciar a demissão do CEMA, a quem havia renovado o mandato em fevereiro por um período de dois anos, sem haver consultado o Presidente e sem ter em consideração que a maneira brusca e pouco elegante de demitir um chefe militar de alto nível iria agitar as tropas. Temos aqui muito amadorismo, muita falta de tacto e uma grande arrogância política. E sobretudo, uma enorme falta de respeito pelas tradições e o prestígio dos comandos militares.
Agora, o Primeiro-ministro pede para ver o Presidente ainda este serão. Um pedido desse género é revelador de uma crise profunda.
Há aqui uma responsabilidade política pelo erro que será preciso assumir. Quem vai pagar o custo político?
Dizem-nos pessoas bem-intencionadas que é preciso “reformar a justiça, de modo a ser mais célere e transparente”. Respondo que os políticos não reformam a justiça porque não querem. Dá-lhes jeito ter uma justiça que não funcione, quando se trata dos grandes e poderosos. Pensar que o que se passa no sector da justiça tem de ver com incompetência, é pura ingenuidade.
A zona de Olhão deve ser um dos municípios mais feios e urbanisticamente caóticos do Algarve. É um espelho da falta de cuidado, do deixar andar, da especulação imobiliária e da incompetência de muitos de nós. Faz pensar no terceiro mundo. Uma vergonha, numa terra que tinha todas as condições para ser uma terra bonita e atractiva.
Hoje, vi passar pela frente dos meus olhos toda uma série de mails sobre o novo aeroporto de Lisboa. Cada um defendia uma opção, entre o Montijo, Alcochete, Ota e assim sucessivamente. E atacava os diferentes governos das últimas décadas, a começar pelo de Guterres, nos anos 90.
Não me meti ao barulho. Trata-se, a meu ver, de mais uma história triste, que me faz duvidar da nossa capacidade de pensar de modo estratégico e com o futuro em mente.
Os trabalhos de recuperação das terras ardidas na Galiza já começaram. E a ajuda às populações afectadas pelos incêndios, que tiveram lugar no mesmo fim-de-semana em que aconteceu a desgraça em Portugal, está a ser desembolsada.
Estes são indícios de boa governação, de uma classe política e administrativa que sabe que a urgência conta, na resposta a estas catástrofes. Uma elite que não tem tempo a perder com conversas fiadas.
As armas e as munições, em quantidades que mostram que a coisa foi organizada a sério, foram roubadas de um paiol do Exército. Inacreditável!
O tipo de armamento levado pelos ladrões permite praticar actos terroristas de grande impacto. Preocupante!
As autoridades do país onde isto aconteceu limitaram-se, até agora, três ou quatro dias depois do acontecimento, a exonerar uns coronéis. Patético!
Os principais responsáveis políticos, os do lado da governação, mantêm-se calados. Incompreensível!
Do outro lado, os da oposição, diz-se umas baboseiras inconsequentes e pela rama. Incompetência!
Parece que haverá uma audição parlamentar do ministro da pasta. A resposta habitual!
Como também será de prever, dentro do que é a nossa normalidade irresponsável, que da audição não resulte nada de estrutural, para além do ruído a que já estamos habituados. Portugal!
O Secretário de Estado que faz os chamados “briefings” à comunicação social tem todo o ar de quem não está à altura da tarefa. Além disso, a sua falta de experiência política é demasiado evidente. Até aqueles jovens jornalistas que lhe aparecem pela frente parecem estar mais à vontade do que o governante.
Apenas não vê esta miséria quem não quer ver. E dir-se-ia que o Primeiro-ministro é um dos que não está a ver o dano que tais manifestações de incompetência acarretam.
Li agora com atenção a mensagem de Ano Novo do Presidente Cavaco Silva. A palavra emprego é frequentemente referida. "Da marca dolorosa do desemprego" até à "promoção do crescimento económico e do emprego", a preocupação é repetida várias vezes.
Partilho a mesma preocupação. Mais ainda, por não ver nenhuma medida concreta, no programa do governo para 2012 e anos seguintes, que possa ter um impacto significativo sobre uma maior oferta de emprego. Antes pelo contrário. Onde deveria haver um ministério com genica, como na agricultura, no mar ou na economia, vejo apenas rotina, ideias tontas e falta de experiência. Onde se esperava uma politica de promoção exterior a sério, enxergo apenas burocracia diplomática à antiga, funcionários incapazes de compreender como funcionam os investidores estrangeiros e um ministro que parece oco. Onde teria que haver uma campanha de levantamento da imagem de Portugal, saem à baila uns pacóvios que só se sentem bem quando passam despercebidos ou andam a fingir que a promoção do fado é que conta. Onde o ministério das finanças, das contas e das taxas, acaba por ser quem dita a política geral.
Claro que o Presidente não poderia dizer isto na sua alocução. Eu posso e digo. Fica claro?