No seguimento da trapalhada de ontem sobre o futuro do aeroporto de Lisboa, trapalhada da responsabilidade do Ministro das Infra-estruturas, Pedro Nuno Santos, o Primeiro-ministro anulou a decisão tomada pelo ministro. Mas não o demitiu, nem lhe pediu que apresentasse o seu pedido de demissão. Esse teria sido o desfecho normal, num país normal e com um chefe de governo a sério. O caos político causado pelo ministro pôs em causa a autoridade do governo, o respeito devido ao Presidente da República e ignorou o dever de consultar a oposição. Que mais seria preciso para António Costa se afirmar como um Primeiro-ministro responsável e correr com o Santos da casa, que não faz milagres?
A cegueira partidária manifesta-se frequentemente. A seguir às autárquicas, houve quem dissesse “o meu partido perdeu votos, mas está cada vez mais forte”. Agora, que o ministro da Defesa parece ter metido os pés e pelas mãos, e depois do responsável pela associação de oficiais no activo ter dito que Cravinho é arrogante e não ouve ninguém, apareceu gente a dizer que a embrulhada foi uma conspiração do pessoal da Armada para embaraçar o governo e criar divisões entre António Costa e o Presidente da República. A querela pública entre o ministro das infraestruturas e o das finanças também deve ser uma conspiração. Só que não se percebe quem poderá ser o autor, a não ser que seja o António Costa para atrapalhar o primeiro-ministro. Tudo é possível, sobretudo nas mentes inventivas dos teóricos das conspirações.