Contra todos os pareceres científicos, Boris Johnson anunciou esta tarde que as medidas restritivas, destinadas a controlar a propagação da covid-19, iriam ser levantadas dentro de duas semanas, no que diz respeito à Inglaterra. Em matéria de saúde pública, cada nação do Reino Unido tem autonomia própria. Por isso, o seu anúncio limita-se à parte inglesa do país.
Esta decisão política é um sinal de fraqueza. O PM sabe que as normas impostas são cada vez mais ignoradas pela população. Basta ver as fotografias do fim-de-semana para se perceber isso: gente por toda a parte, nos bares e noutros locais públicos, sem distância nem máscara, na maioria dos casos. Os especialistas queriam que as normas em vigor fossem aplicadas com seriedade e disciplina. Boris não teve coragem para isso. Decidiu permitir o que já estava a ser praticado.
Entretanto, o número de casos diários, na Inglaterra como por cá, continuam a aumentar. É verdade que há menos óbitos. Mas é igualmente um facto que a expansão da pandemia não é algo que possa ser levado de modo ligeiro. Tem múltiplos impactos: humanos, económicos, sociais e nas relações entre os Estados.
A minha filha mais nova enviou-me uma fotografia das suas férias na Inglaterra. A imagem mostra-a toda embalada contra o frio e a chuva, ao lado do meu neto de dois anos, esse de botas de borracha até aos joelhos e com um impermeável que apenas lhe deixava os olhos, grandes que os tem, a descoberto. Ao lado deles, foi apanhada na fotografia, por acaso, uma criança inglesa. Essa aparece na foto com um vestido leve de verão, sem mangas e sem mais agasalhos. Fartei-me de rir e lembrei à filha que quem vive permanentemente, como ela vive, na Andaluzia, tem sempre frio no Norte da Europa.
Depois, mal tinha acabado de brincar com o contraste, resolvi sair do escritório, para ir comprar qualquer coisa para o jantar. Antes de sair, protegi-me bem, que o meu olhar rápido pela janela disse-me que lá fora estava um frio danado e mesmo, chuva. Verão em Stavanger, na costa oeste da Noruega, digo eu. Quando cheguei à rua, havia mais. Um vento forte, vindo do lado do mar. Mas mal tinha dado uns passos encontrei um colega norueguês, a passear despreocupado no centro da cidade. Estava vestido com um polo ligeiro, de manga curta, e umas calças de veraneante. Ao ver-me tão bem aconchegado, com casacão e tudo, não conseguiu fechar a boca. Disse-me: vê-se mesmo que vens de Portugal!
Ainda o ouvi dizer que o tempo até não estava mau, para quem vive em Stavanger…