Não sei se já tentou explicar ao seu gato que, num Estado democrático e com um governo constitucionalmente legitimo, é essencial reconhecer a autoridade do governo. Claro que não é fácil convencer o bicho, mas há que insistir, repetir e não perder a paciência. Se o seu gato lhe falar do 25 de Abril e da liberdade, diga que sim. São aspectos determinantes da nossa vida. Mas repita que sem um Estado forte, a agir dentro da lei, não há sociedade que se entenda nem respeito pelos interesses de todos, que são mais importantes que os interesses específicos do seu gato e dos seus companheiros de goteira.
Caso não tenha gato, experimente falar com um pássaro, um pardal, por exemplo. Há muitos, por aí.
A anunciada greve dos motoristas de combustíveis e outras matérias perigosas não pode paralisar o país. Se o fizer, estará a afectar de modo profundo o conjunto da economia nacional, a vida das pessoas e os interesses estratégicos do país. Politicamente, isso não será aceitável. Exigirá, assim, uma resposta política determinada. O Primeiro-Ministro tem que falar ao país sobre este assunto, sem mais demoras. Explicar o que tenciona fazer. Como pensa responder a uma ameaça tão séria como esta. Para além das outras consequências de grande impacto nacional, a liderança do Primeiro-Ministro e a autoridade do governo estão em jogo. Não há outra solução para além de uma resposta firme e clara.
Os ultraradicais brancos que apoiam o Presidente dos Estados Unidos têm estado em campanha contra Emmanuel Macron e Angela Merkel. No essencial, acusam estes dirigentes europeus de estarem empenhados no enfraquecimento da NATO, na promoção da imigração de gentes de fé islâmica e de colaboração com a Rússia e o Irão.
Estas acusações são meras armas de arremesso e de tentativa de divisão da liderança política europeia. No fundo, existem por esses dois dirigentes não se alinharem acefalemente com as posições que o Presidente Trump vem tomando, nessas e noutras áreas.
A verdade é que a Europa tem interesses estratégicos distintos dos americanos. Por outro lado, não pode seguir de modo acrítico políticas em que não acredita e que poderão levar a graves crises internacionais.
Depois de uma muito prolongada greve e de um acordo estranho, conseguido na sexta-feira e tratado de modo superficial e ingénuo pela nossa comunicação social, que não dá para entender bem este enredo mal contado, caberia agora ao governo ordenar a efectivação de um estudo independente sobre o funcionamento dos principais portos comerciais da parte continental de Portugal.
Esse tipo de análises é prática corrente noutros países desenvolvidos. São normalmente encomendadas a centros de estudos universitários ou a grupos de personalidades de reconhecido prestígio e independência, gente sénior e sem ambições de carreira ou enfeudamentos partidários. Permitem fazer um diagnóstico do sector e propor um conjunto de melhorias que serão, depois, submetidas à decisão política.
Os portos constituem uma componente estratégica da economia nacional. Sobretudo no nosso caso, em que uma das apostas do futuro deveria passar pelo bom funcionamento das infra-estruturas portuárias.
Há por aí uma certa dose de racismo contra os chineses. Convém estar atento. Trata-se de um sentimento que é preciso combater sem folga. O racismo é a forma mais acessível de resolver uma série de frustrações. É uma maneira primária de encarar a concorrência ou a percepção de uma ameaça exterior. Começa por uma ponta e depois abrange toda uma variedade de casos.
É evidente que há que proteger o que possa ser considerado de interesse nacional. Mas é preciso fazê-lo com muita inteligência, que o mundo de hoje já não é o de há vinte ou trinta anos. E é igualmente importante fazê-lo num quadro mais amplo, que multiplique as nossas forças e as nossas capacidades de resposta. Por isso, muitas destas coisas relacionadas com os investimentos estrangeiros e o comércio internacional devem ser vistas no conjunto europeu.
A China é um país extremamente poderoso. Tem a força dos grandes números. Mas é igualmente um estado que sabe quais são os limites da soberania. Responde bem quando lhe lembramos esses limites. É tudo uma questão de se saber negociar e de ter a coragem das nossas ideias e dos nossos interesses colectivos.
Escrevo na Visão de hoje uma crónica sobre a espionagem americana e as reacções europeias. O sentido da minha posição é claro: a EU continua a ir ao baile cada um pelo seu pé. É uma união desunida.
Sem contar que não há uma ideia clara de como responder às acções dos americanos.
Afirmar a soberania portuguesa sobre o arquipélago das Selvagens e o mar circundante é fundamental para os nossos interesses nacionais. A visita do Presidente da República a essa parte remota do território de Portugal deve ser vista sob essa perspectiva.
A deslocação tem também o mérito de nos lembrar que somos acima de tudo uma nação com vocação marítima. Mas, ao mesmo tempo, faz-nos ver que não temos dado atenção suficiente à nossa presença no Atlântico Norte. Ou seja, não temos sabido ligar a Madeira e os Açores, de modo mais estreito, aos nossos interesses estratégicos e ao resto do território nacional. Nem temos investido suficiente na marinha nacional, no patrulhamento naval, no exercício da nossa soberania sobre o espaço marítimo.