Nos últimos cinco anos – e a tendência continua – a China tem sido o parceiro comercial mais importante da Alemanha. Em termos de importações, por exemplo, a Alemanha importou da China em 2020 mercadorias no valor de 116 mil milhões de euros. E, apesar da pandemia, o comércio entre ambos cresceu 3% em relação ao ano anterior.
Tudo isto tem grandes consequências geopolíticas. A posição da Alemanha no que respeita à China pesa muito na definição da política da União Europeia. É isso que explica a aprovação, uns dias antes do final do ano passado, do acordo mútuo EU-China sobre investimentos.
A França e a Itália também têm interesses económicos importantes, quando se trata da China. Mas ficam muito atrás da Alemanha.
Terminamos o dia com uma situação muito complicada no Mar Mediterrâneo Oriental. O exercício conjunto, que a Grécia está a levar a cabo, com a participação das forças armadas de Chipre, França e Itália, é uma resposta forte à Turquia, que prolongou a prospeção de gás em águas contestadas pela Grécia. Trata-se, acima de tudo, de uma escalada do conflito que opõe os dois vizinhos, a Grécia e a Turquia.
Deixo acima o link para o meu texto de reflexão desta semana, publicado na edição impressa do Diário de Notícias de sábado, 22 de agosto.
Convido à leitura e ao comentário. A parte do comentário é muito impostante para mim. Um dos meus leitores sugere, por exemplo, que escreva da próxima vez sobre a Turquia. Respondo que só de pensar no título da coisa já fico a tremer. É um grande problema.
A minha coluna de opinião desta semana, no DN em papel, que ontem foi posto à venda, olha para os próximos quatro meses que faltam para terminar o ano. A pandemia e as eleições presidenciais americanas serão as duas principais determinantes, com toda uma série de consequências, de grande complexidade e cheias de incertezas.
O texto contém várias mensagens, que não escaparão às mentes atentas. Mas, acima de tudo, sublinha a importância das lideranças, que podem empurrar os acontecimentos num sentido ou no outro. E lembra-nos que em política nada deve ser dado por adquirido. Perde quem mostra excesso de confiança e pouco apreço pela capacidade de luta do adversário.
O DN deve permitir o acesso livre ao meu texto amanhã.
A eleição do ministro das Finanças da Irlanda, Paschal Donohoe, como líder do Eurogrupo e sucessor de Mário Centeno deve ser vista como uma vitória das ideias económicas e orçamentais liberais. Também representa um triunfo para os países do Norte da Europa, que defendem uma linha de menor intervenção estatal na economia e impostos mais baixos para as empresas. Donohoe é um político do centro-direita, a família política que neste momento mais pesa na União Europeia. É muito vivo e explica-se bem. Por isso e por ter o apoio dos Estados economicamente mais saudáveis, pode-se esperar que desempenhe um papel activo na presidência do Eurogrupo. Terá, no entanto, que encontrar um ponto de equilíbrio entre a sua preferência pelo liberalismo económico e as políticas mais intervencionistas preconizadas pela França, Itália e Espanha.
O diário espanhol El País publica uma transcrição e um apanhado da reunião do Conselho Europeu de quinta-feira. Aí se pode ver quem foram os protagonistas da discussão sobre a mutualização de obrigações relacionadas com a crise de saúde pública, os chamados “coronabonds”. Para além de Charles Michel, que é o Presidente do Conselho Europeu, o debate foi entre Angela Merkel, Mark Rutte, Giuseppe Conte e Pedro Sánchez. A Presidente da Comissão fez uma breve intervenção inicial e Emmanuel Macron disse umas palavras e nada mais.
Uma situação excepcional exige medidas excepcionais. Essa é a conclusão do dia, na Itália, para já, e provavelmente em França, amanhã. A China deu o exemplo e mostrou que não há outra solução, quando se trata de uma epidemia viral de um novo tipo. À la guerre comme à la guerre.
A outra conclusão de hoje é clara. Notei que as pessoas, nesta parte da Europa onde vivo, passaram a um nível mais elevado de preocupação. Não estão em pânico, mas estão certamente mais conscientes da ameaça que existe. E começaram a alterar os seus comportamentos, incluindo o tipo de compras que fazem nas grandes superfícies.
Neste final de dia, o que se pede a quem tem peso na opinião pública é que mantenha a calma. As autoridades italianas tomaram as medidas que se impunham. E o tratamento da epidemia é eficaz. A taxa de mortalidade é baixa, embora seja cerca de dez vezes superior à da gripe comum nesta altura do ano. O grande problema reside na facilidade do contágio. O outro diz respeito ao alvoroço social que a epidemia provoca. Essa é uma questão muito importante. Por isso, falar de fecho de fronteiras no espaço Schengen é uma posição alarmista. Deve ser evitada.
Existe igualmente uma grande preocupação com o impacto económico deste surto. As bolsas mundiais reflectiram essa inquietação. Os principais índices perderam 4% ou mais. E as perdas irão continuar, se surgirem novos focos da epidemia. Isto mostra o grau de interdependência que existe entre as grandes economias mundiais.
Neste domingo de Carnaval, olho pela janela e fico horrorizado. Está um dia de tempestade, aqui na minha rua de Bruxelas. É o terceiro fim-de-semana seguido de mau tempo. Tudo muito feio e sem movimento.
Depois, ponho os olhos nas notícias e vejo que o surto de coronavírus está a pôr a Lombardia, o Veneto e certas localidades do Norte da Itália em estado de alerta. Esta é uma péssima notícia para a Europa e não só. Tal como na China e na Coreia do Sul, a erupção na Itália mostra-nos a gravidade da epidemia e as consequências multidimensionais que acarreta. Uma dessas consequências, a anulação das festividades de celebração do Carnaval de Veneza, é altamente simbólica.
Receio que o surto de coronavírus tenha entrado numa nova fase. Temos agora focos de contaminação fora de Wuhan e da província de Hubei. Focos na Coreia do Sul. No Japão. Em Singapura. No Irão. Na Itália. Não é preciso ser-se alarmista para perceber que a epidemia não está controlada.
O Director-Geral da OMS disse hoje, perante estes novos factos, que a janela de oportunidade estava agora mais estreita. Na realidade, o que queria dizer é que temos motivos suficientes para que continuemos preocupados.