O Príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohamed bin Salman, cheira a petróleo por todos os lados. Esse perfume é bem mais intenso que o cheiro a sangue, que tem nas mãos, por ter mandado assassinar o jornalista Jamal Khashoggi. E torna-o um convidado de luxo do Presidente Macron, com quem esteve hoje, em visita oficial à França. Na véspera, o Príncipe tinha estado na Grécia, um país onde a Arábia Saudita tem a intenção de investir à grande.
Em ambos os casos, os líderes europeus perderam credibilidade. E não terão ganho nada que não pudesse ter sido obtido, mantendo Mohamed bin Salman à distância.
Como previra no meu texto desta semana no Diário de Notícias, o Presidente Joe Biden saiu a perder da sua deslocação ao Médio Oriente. Não conseguiu nenhum resultado em Israel. Não mexeu no dossier palestiniano, para além de uma visita de cortesia ao Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas e da confirmação de um financiamento de 500 milhões de dólares, que serão transferidos através da agência das Nações Unidas que se ocupa do apoio a esse povo, a UNRWA. E ficou nitidamente a perder, no seu encontro com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohamed bin Salman. Este teve mesmo a ousadia de lhe responder, quando o assassinato de Jamal Khashoggi foi abordado, que os EUA também cometem erros.
Também não conseguiu convencer os seus interlocutores sobre a produção diária de petróleo. Para já, não haverá nenhum incremento quanto ao número de barris produzidos.
Tudo isto era previsível. O meu prognóstico não tinha nada de excepcional. Estou seguro que os conselheiros de Biden lhe terão dito o mesmo: neste momento, a viagem estava destinada ao fracasso. Mas o presidente não os quis ouvir. Teve demasiada confiança nas suas capacidades de convencimento. Um erro. Hoje, esses países do Golfo têm outras escolhas, para além dos EUA. São muito mais independentes nas suas decisões estratégicas. E mostraram-no, sem ter de fazer um grande esforço.
Assim escrevo no Diário de Notícias de hoje. E a quem pensa o contrário, esclareço que não comparo a minha escrita com outras. Cada um tem o seu estilo, os seus temas preferidos, a sua interpretação do que pode significar escrever para um público diverso e, em geral, bem informado. Há espaço para todos.
Cito apenas umas linhas do meu texto de hoje.
"Uma visita que não traz qualquer tipo de resposta à questão palestiniana, ao obscurantismo e à crueldade do regime saudita, ou à contenção da ameaça iraniana, só pode ser notada pela negativa."
A administração Biden, no seguimento do relatório da CIA sobre o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, decidiu esta sexta-feira banir 76 adjuntos do Príncipe Herdeiro da Arábia Saudita, Mohamed bin Salman, proibindo-os de entrar nos Estados Unidos. Mas não tomou nenhuma medida contra o Príncipe, embora tenha ficado claramente estabelecido que o crime foi cometido por ordem sua. Esta decisão pode ter uma explicação geopolítica e espero escrever sobre ela nos próximos dias. Mas tem um custo político enorme no que respeita à credibilidade do Presidente Biden. Precisa de ser vista desse ponto de vista também. Como também deve ser considerada sob o prisma da ética e dos direitos humanos.
Na realidade, o comportamento criminoso de bin Salman é apenas uma dimensão de um regime que é inaceitável – como vários outros – no mundo actual. Esta é uma discussão que continua em aberto: como tratar regimes anacrónicos, violentos e desumanos.
Dizem-nos que amanhã haverá uma comunicação complementar sobre o caso. Veremos o que Washington nos irá dizer. Será certamente algo que merecerá uma reflexão a sério.