Este é o link para o texto que publiquei na sexta-feira no Diário de Notícias.
Cito umas linhas dos texto: "Já Putin e Kim não precisam de falar do seu futuro político. Estão convencidos que têm impérios para mil anos. Em Vostochny falaram sobretudo da cooperação militar. A Rússia pode ajudar nas áreas do nuclear e da conquista do espaço, que são duas obsessões de Kim. E a Coreia do Norte pode fornecer munições, obuses e outras peças de artilharia, embora os russos hesitem quanto à precisão desse material. Mas o encontro tinha sobretudo várias dimensões políticas: mostrar que a Rússia e a Coreia do Norte se podem entender sozinhas, sem a intermediação da China, de quem não querem ser vassalos; que a Rússia poderá estar pronta a vetar, no Conselho de Segurança da ONU, qualquer renovação das sanções contra Pyongyang, quebrando assim a unanimidade que tem existido entre os membros permanentes, a não ser que os países ocidentais adotem uma postura mais branda no seu relacionamento com Moscovo; e finalmente, os russos querem assinalar que a sua escalada do conflito com o Ocidente pode levá-los a incitar Kim Jong Un a cometer uma loucura bélica na sua parte do mundo. Isso levaria os EUA a virar toda a sua atenção para o nordeste da Ásia, deixando a Ucrânia para trás, em termos de apoio."
Singapura voltou a organizar, este fim de semana, a conferência sobre a segurança na Ásia e no mundo, que é conhecida pelo nome de Shangri-la Dialogue. Esta é uma das conferências mais importantes sobre o tema da segurança internacional, tendo em conta as várias zonas de tensão existentes naquela parte do planeta: o mar do Sul da China, Taiwan e o seu Estreito, as diferentes rivalidades entre a China, os Estados Unidos, o Japão e também a Austrália, e ainda a questão da Coreia do Norte. Tudo isto se enquadra numa competição extrema entre as duas superpotências que são os Estados Unidos e a China.
Um aspecto marcante da conferência que hoje termina foi o facto do ministro da Defesa da China ter recusado uma reunião a dois com o seu homólogo americano. O ministro é o General Li Shangfu e ocupa o cargo desde março, depois da consolidação do poder de Xi Jinping. O General Li tem estado na lista de sanções dos Estados Unidos desde 2018 devido à compra de armamento russo cuja comercialização tinha sido considerada pelos americanos como sancionável. Por estar na lista, o general chinês achou que não devia encontrar-se com a delegação americana.
Ao mesmo tempo que isto acontecia em Singapura, chegava a Beijing uma delegação de alto nível do Departamento de Estado americano, para consultas. Ou seja, para além das aparências, os contactos entre ambas as partes existem. O próprio director da CIA esteve há dias na China, também para consultas.
É uma situação complexa. Mas a verdade, deve ser vista com muita clareza. Existe de facto a possibilidade de uma confrontação entre estas duas partes. Nenhuma está disposta a ceder terreno geopolítico. Por isso, o confronto é algo encarado como possível, quer em Washington quer em Beijing. A hipótese mais provável é que resulte de um incidente marítimo ou aéreo que envolva ambas as forças armadas. A partir daí, poderemos entrar numa situação incontrolável e absolutamente destruidora. Esse é um dos pontos mais importantes da agenda internacional, que deve ser tratado de modo contínuo e prioritário.
Cito umas linhas: "A complexidade das relações entre a China e os países do G7 estará no centro da agenda. É uma questão fundamental para o Japão e os EUA. Veremos o que será escrito sobre o assunto no comunicado final. Entretanto, acrescento que considero um erro ver a questão chinesa apenas sob o ângulo da rivalidade, seja ela militar, económica ou tecnológica. É preciso manter um diálogo construtivo e uma cooperação prudente com a China - quer se queira quer não, trata-se de uma potência incontornável na cena mundial. Temos de ser claros em matéria de valores e saber conciliar cooperação com a segurança dos nossos interesses estratégicos."
A nova cimeira do Quad – EUA, Austrália, Índia e Japão – teve hoje lugar em Tóquio. E vale a pena ler o comunicado final, que fala da Ucrânia, mas não ataca nominalmente a Rússia. Prefere falar da inviolabilidade das fronteiras nacionais e do respeito pela lei internacional. Que é uma maneira indirecta de falar da agressão russa.
Curiosamente, enquanto decorria a reunião, bombardeiros russos e chineses realizaram um longo exercício aéreo ao longo da fronteira com o Japão. Esse exercício só pode ser visto como uma manifestação de força e de cooperação entre as duas potências. E ser interpretado com alguma preocupação, por mostrar que a tensão existente é muito maior do que aquilo que muitos pensam.
O primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga, teve a honra de ser o primeiro líder estrangeiro convidado a visitar o presidente Joe Biden, em Washington. Este gesto tem muito significado. Mostra claramente onde se situam as prioridades internacionais do novo presidente norte-americano. Uma possível invasão de Taiwan pela China foi o tema central das discussões. Em pano de fundo, convirá notar que, esta semana, a força aérea chinesa violou 25 vezes o espaço controlado por Taiwan. Nunca tal havia acontecido, tantas vezes em apenas alguns dias. A questão de Taiwan está a tornar-se no conflito mais perigoso, para a paz internacional. Infelizmente, a ONU nada pode dizer sobre o assunto. Se abrir a boca, vai-se a reeleição ao ar.
Os cidadãos de Myanmar, sobretudo os mais jovens, continuam diariamente a dar-nos lições de coragem. Apesar das balas da polícia e dos militares, e das detenções em grande número, o povo está nas ruas das principais cidades, para dizer não à ditadura militar. As plataformas sociais desempenham um papel fundamental em matéria de informação e de mobilização. É, igualmente, através delas que o mundo sabe o que se está a passar no país.
Entretanto, na reunião do Quad de ontem – escrevi sobre essa reunião na minha coluna do Diário de Notícias – a condenação do golpe de Estado foi frouxa. A Índia e o Japão opuseram-se a uma condenação directa dos militares birmaneses. Foi mais um ponto fraco na grande diplomacia internacional. Assim se perde a credibilidade.
Este é o link para o meu texto de hoje no Diário de Notícias.
"Realiza-se hoje a primeira cimeira do Quad, uma nova plataforma de consulta estratégica entre os Estados Unidos, a Austrália, a Índia e o Japão. Quad resulta da abreviatura de quadrilateral."
Esta manhã, o jornal de Tóquio, Nikkei Asian Review, uma publicação económica com uma circulação superior a três milhões de cópias diárias, convidou-me para um webinar – uma conferência por meios digitais – sobre “o futuro de Hong Kong”. A discussão estava planeada para a próxima semana e deveria ter como oradores principais dois dos seus correspondentes em Hong Kong.
Falei sobre esta iniciativa com uma ou duas pessoas que conhecem bem a realidade que se vive no território – uma delas esteve recentemente envolvida numa tentativa de mediação entre as partes, os pró-democracia e os pró-regime, organizada por uma das velhas universidades britânicas, mediação essa que foi entretanto por água abaixo – e achámos que era um projecto ousado, à luz da severidade da nova lei sobre a segurança nacional, que acaba de ser aprovada em Beijing.
Uma hora depois, tentámos entrar em contacto com a Nikkei sobre a participação no webinar e ficámos a saber que a iniciativa havia pura e simplesmente sido anulada. Foi chama que se apagou num instante. Compreendemos e achámos prudente. Com a nova lei, qualquer acto público que possa parecer uma crítica da China e do grupo que Carrie Lam, a Chefe Executiva de Hong Kong, lidera, pode levar a muitos anos de prisão. O medo é agora a moeda que mais circula em Hong Kong. É um desconsolo.
Entretanto, o governo de Macau anunciou que vê com bons olhos essa lei da segurança nacional. E mais nada, que as gentes de Macau têm outras preocupações.
Receio que o surto de coronavírus tenha entrado numa nova fase. Temos agora focos de contaminação fora de Wuhan e da província de Hubei. Focos na Coreia do Sul. No Japão. Em Singapura. No Irão. Na Itália. Não é preciso ser-se alarmista para perceber que a epidemia não está controlada.
O Director-Geral da OMS disse hoje, perante estes novos factos, que a janela de oportunidade estava agora mais estreita. Na realidade, o que queria dizer é que temos motivos suficientes para que continuemos preocupados.