Neste dia de mudança de direcção, ficou mais uma vez claro que o Partido Comunista Português não compreende a realidade em que o país se insere nem tem um projecto viável e mobilizador para Portugal. Continua a dizer as mesmas coisas que dizia há décadas.
É um partido sem futuro. E o novo dirigente pouco mais tem sido do que um funcionário da máquina. Como os outros, tem passado a vida a repetir aquilo que vem de cima. Agora será ele quem decidirá a letra, mas a canção será a mesma.
O PCP passa o tempo a insultar o PS e os outros partidos. Ele seria o único partido patriótico e verdadeiramente interessado nas pessoas mais vulneráveis. O eleitorado não vê as coisas dessa maneira. Basta ver quantos votam no PCP. E quanto aos insultos, se se disser que os dirigentes do PCP são estalinistas não creio que isso seja apenas um insulto. É a realidade.
Um dirigente político português disse hoje, numa declaração pública, que os pedidos de adesão à NATO, formulados quer pela Finlândia quer pela Suécia, resultam da "submissão desses países" e de Portugal aos EUA.
Os finlandeses e os suecos, que são povos muito independentes e determinados, ter-se-iam rido imenso, se essa declaração chegasse aos seus ouvidos. Mas como é frase sem nexo, não tem asas para voar. Fica por aqui, na lista das coisas sem importância.
A frase da semana: a Coreia do Norte é uma ditadura retrógrada, extremamente violenta e inaceitável, no mundo de hoje e o Jerónimo é simplesmente burro. Também desajustado com a realidade política de hoje.
Há uns sete ou oito anos atrás, foi produzido um filme de animação com o título de “Elefante Azul”. A narrativa era simpática: um jovem elefante, bem azul e com olhos grandes, que ia dando os primeiros passos na vida e com eles, encontrava os primeiros desafios ligados à amizade, ao amor e ao dia-a-dia de quem anda pela floresta de todos nós. Foi um filme cativante, embora todos percebessem que não existem elefantes azuis e que o paraíso terrestre é um pouco mais complicado.
Lembrei-me do “Elefante Azul” e da fantasia a ele associada, ao pensar na atmosfera em que muitos dos nossos comentadores políticos resolveram agora passar a viver. Assim a política torna-se mais simples. E mesmo não sendo, no nosso caso, muito “azul”, dá, no entanto para muitas historietas e muita palavra. Seria, como a visão que temos, um “elefante a preto e branco”.
António Costa demonstrou ter uma capacidade rara para conseguir o que parece impossível em política. Veja-se. Qualquer observador imparcial diria que seria impossível ver o PS perder as eleições. António Costa conseguiu perdê-las. Agora, dir-se-ia que uma aliança de governo com o PCP seria pura e simplesmente impensável. Seria uma união da pequena burguesia que o PS representa com os órfãos de uma época que já não conta para o futuro.
Ora, António Costa acaba de passar uns bons momentos com os dirigentes do PCP e, no final, disse que talvez seja possível chegar a um acordo. O homem acredita, de facto, no impossível e tem jeito para perder tempo e procurar moinhos de vento. Ou então, anda lançado numa fuga para a frente, que a realidade que o rodeia é bem dolorosa.
Só que, nos tempos que correm, até o absurdo se torna possível. Não convém, por isso, nesta fase, dizer que dessa água não beberei.