Este é o link para o meu texto de hoje no Diário de Notícias.
A mensagem principal é simples: deve-se fazer pressão sobre os EUA e a China para que procurem desempenhar um papel construtivo na ONU e na cena internacional. É isso que se espera das duas superpotências.
Cito umas palavras do meu texto:
"Palavras leva-as o vento, mas quando se está à frente de um Estado exige-se circunspeção. Agora, é preciso algo de concreto.
Face ao contexto internacional e ao facto de ambos serem membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, a China e os EUA poderiam mostrar a todos nós que ainda pode haver esperança no futuro".
A crise doméstica que os EUA estão a viver, por causa da discórdia política entre Republicanos e Democratas sobre as condições que cada lado exige para aprovar o aumento do tecto da dívida pública, é mais uma complicação muito séria que se acrescenta à já bastante complexa e perigosa situação internacional. A administração americana está a dias de se encontrar numa situação de insolvência parcial. A dívida pública representa cerca de 122% do PIB, uma situação que não é muito diferente da que existe em Portugal. Como noutros países desenvolvidos, o endividamento do Estado ultrapassou nos últimos vinte anos o limite da prudência, que anda à volta de 60% no que respeita ao rácio dívida/PIB. A dívida pública só cresce se houver quem queira emprestar dinheiro ao Estado. Os Estados, incluindo os mais desenvolvidos, gastam desenfreadamente, por várias razões políticas, incluindo para manter artificialmente os níveis de vida dos seus cidadãos. É mais fácil pedir emprestado que ter políticas acertadas que gerem riqueza e evitem desperdícios. E os políticos gostam das soluções fáceis.
A visita do Presidente Zelensky a Washington foi um grande sucesso político. O presidente soube cativar a classe política e a opinião pública americanas e mostrar que é um líder corajoso e sincero. Não há dúvidas que ficará na história destes tempos e que será mencionado como uma referência.
O plano de paz que propôs, que é uma adaptação ligeiramente modificada do que apresentara na última reunião do G20, tem toda a legitimidade, mas não tem qualquer hipótese de servir de base para uma negociação com os russos. A impressão que fica é clara: a guerra irá continuar. Infelizmente. Nem a pressão chinesa sobre o Kremlin vai dar resultado.
Link para minha estranha crónica d ehoje no Diário de Notícias.
Cito umas linhas.
"Acho tudo isto inquietante. Mas o que de facto preocupa o meu amigo é saber que as teorias conspirativas são cada vez mais recetíveis junto de segmentos da população. Sobretudo, se as patranhas vêm de Moscovo. No leste da Alemanha ainda há muita gente que foi educada durante o regime comunista e que acredita em todo o tipo de baboseiras, principalmente se tiverem os americanos como os maus da fita. A linha narrativa é sempre a mesma: os caubóis têm como objetivo controlar a Europa, sob a capa da NATO. E, para começar, impedir a Alemanha de comprar o gás barato vindo da Rússia. E rematam que quem não vê isso é limitado da carola.
A filosofia política dessa gente é de um simplismo alucinante."
Quem pensou que a minha crónica de ontem, no Diário de Notícias, estava errada e que as negociações estavam prontas para começar, percebeu depois que assim não será; Joe Biden e Vladimir Putin não têm nenhum ponto de partida comum que permita iniciar um processo negocial. Antes pelo contrário, Biden continua convencido que Putin está inteiramente empenhado na destruição da Ucrânia. E que é preciso agir de modo a contrariar esse plano.
Este é o link para o meu escrito de hoje no Diário de Notícias. Estamos muito longe de se poder iniciar um processo de negociações. O falado encontro entre Joe Biden e Vladimir Putin é uma miragem política. Não existe um mínimo de condições que possa servir de ponto de partida comum. Putin está convencido que vai vencer a resistência ucraniana e a paciência ocidental. A sua táctica é a da destruição. A destruição leva, na sua maneira de ver, à rendição.
Cito o último parágrafo do meu texto.
"Não vejo a atual direção russa pronta para se retirar dos territórios ocupados. Tem de ser expulsa ou convencida a sair. E para isso, a Ucrânia precisa de todo o apoio possível e da assistência de uma coligação de países aliados. Não cabe à NATO organizar uma coligação dessas. Mas alguns dos seus Estados-membros devem começar a falar dessa possibilidade, fora do quadro da Aliança Atlântica. E dar um prazo a Putin para que cesse as hostilidades. Esta agressão deve ser transformada numa oportunidade para definir uma nova arquitetura de segurança na Europa."
A visita de Estado de Emmanuel Macron aos EUA está a correr muito bem. O presidente francês foi recebido de modo muito positivo por Joe Biden. Ficou claro que é admirado como um dos grandes líderes da União Europeia. Isso não será suficiente para permitir a Macron desempenhar um papel de liderança não seio da UE, mas poderá servir para reforçar a sua posição quando tiver a oportunidade de falar com Vladimir Putin. Este saberá, então, que Macron falará não apenas em seu nome, mas também com base nas posições dos americanos.
A grande questão é saber se conseguirá entrar em contacto com Putin nos tempos mais próximos. Tem tentado várias vezes, nas últimas semanas, mas sem sucesso. Putin não se tem mostrado disponível. Talvez mude de ideias agora. Mas não creio que existam as condições necessárias para uma negociação entre as partes. O líder russo quer sair vencedor da agressão. Não vejo os ucranianos aceitarem essa postura. E será muito difícil aos americanos e aos franceses forçarem Zelensky a aceitar uma negociação que possa parecer uma derrota. Os ucranianos têm mostrado uma tenacidade de ferro e não vão mudar de atitude. Só poderão participar num processo de negociações que reconheça a coragem e a determinação que têm demonstrado. Esta é uma guerra que só tem duas saídas possíveis: ou se ganha ou se perde.
A reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da Nato deu hoje uma atenção muito especial à competição entre o Ocidente e a China. Penso ter sido um erro. Neste momento, o que conta é acabar com a agressão da Rússia de Vladimir Putin contra a Ucrânia – e também contra a Europa. É aí que está o perigo mais imediato. Sobretudo agora, que estamos a entrar no inverno. A agressão russa pode causar a morte de milhares de pessoas por causa do frio, da falta de gás para o aquecimento das habitações. Os meses que aí vêm são extremamente difíceis em termos de temperaturas e humidade. Sem aquecimento, muitas pessoas, sobretudo as mais idosas, estarão em risco de vida. É preciso denunciar esse facto e apontar o dedo na direcção de Putin.
O que a Nato deveria estar a discutir, no que respeita à China, é outra coisa: como convencer a China a tomar a atitude responsável que deveria adoptar, enquanto grande potência, e desempenhar um papel que leve Putin a parar a agressão. Essa é a China que se quer na cena internacional. Essa é a questão que os países da Nato deveriam considerar como prioritária em matéria de diplomacia. O resto é, para já, rivalidade entre os EUA e a China. Poderá ser tratado mais tarde. E com serenidade, se se aplicar francamente o princípio de uma só China, mas com dois sistemas.
As imagens e duração do encontro entre os Presidentes Biden e Xi são encorajadores. O aperto de mão inicial foi um momento positivo de alta diplomacia. Ambos os protagonistas mostraram apreço pela realização do encontro entre eles. E em três horas de discussões de alto nível fala-se do que é importante e com um grande grau de pormenor. E isso é especialmente significativo num momento em que a cena internacional está a ser profundamente desequilibrada pela violência de Vladimir Putin e a sua falta de respeito por princípios básicos da ordem internacional.