A classe política e os comentadores do costume andam muito ocupados a discutir uma nomeação partidária – do partido do governo, é óbvio – para uma comissão importante. Mas, perante os problemas que o país enfrenta e as reformas estruturais que deveriam ser discutidas e feitas, isto é uma ninharia. O pessoal agarra-se a ninharias com unhas e dentes. Confunde, assim, o acessório com o que é essencial. E quem está no poder, goza.
Questionar é o ponto de partida do acto de pensar. Só é possível se houver liberdade e se o pensador tiver a coragem e a imaginação suficientes para dar bom uso a essa liberdade. Muito do que aparece escrito e é dito é apenas uma repetição do que outros criaram, sem se acrescentar um qualquer laivo de interrogação ou de dúvida. Nesses casos, aquilo a que eles chamam pensamento mais não é do que um eco.
Infelizmente, há quem ache que repetir e mencionar autores ilustres, sem qualquer pensamento crítico, é uma prova de cultura, de formação académica e de inteligência. Eu não vejo isso assim. Considero essas manifestações mera vaidade, exibicionismo, oportunismo e pobreza de espírito.
O verdadeiro pensador procura reequacionar o que já foi dito e colocar a questão no contexto actual. Depois, tenta entender o que essa questão pode significar na definição dos tempos futuros.
O Diário de Notícias voltou às bancas hoje, no dia em que perfaz 156 anos de existência. A partir de agora, volta a estar presente nas nossas vidas, com o seu cheiro a tinta fresca e com uma qualidade que fazem desse diário uma referência.
É uma boa notícia. A sua publicação quotidiana exigirá um grande esforço por parte de todos os que nele labutam ou com ele colaboram. Sei que estão prontos para o desafio.
Entretanto, a edição comemorativa de hoje era vendida com acompanhamento: trazia como oferta, para que se pudesse celebrar o aniversário com estilo, uma pequena garrafa de espumante. Lá foi, à saúde de todos e ao bom sucesso do projecto DN.
Conviria lembrar aos dirigentes do Estado – e aos políticos em geral – que a banalização e o uso muito requente das intervenções mediáticas acabam por minar a autoridade de quem o faz. Comunicar é importante, nos dias de hoje, é mesmo essencial saber fazê-lo bem, de forma clara e acessível. Mas vir à televisão ou aparecer nos jornais por dá cá aquela palha tem um impacto negativo sobre o simbolismo que deve estar associado ao exercício do poder.
Um editorial do diário Le Monde apelava, no início da semana, para que a União Europeia se mostrasse “solidária, firme, realista e humanitária”. O tema do editorial tinha que ver com a situação que existe na fronteira terrestre entre a Grécia e a Turquia.
As palavras escritas soavam bem. Todavia, em termos reais, eram vagas e contraditórias. Como tantas vezes acontece, foram produzidas para esconder as imensas contradições que existem ao nível da realidade no terreno e, ao mesmo tempo, para dar a impressão que os valores da moral e do humanismo não estão postos de parte.
No fundo, é mera conversa de intelectuais, que nada acrescenta à solução do problema concreto. É frequente ver-se muita parra e pouca uva. Esse era apenas um exemplo mais.
Entretanto, quem tem que tomar decisões e fazê-las aplicar decidiu mobilizar meios adicionais de polícia e de controlo fronteiriço para a zona em causa. A isso, juntar-se-á uma deslocação a Ancara do Presidente Macron e da Chanceler Merkel na próxima semana. Perante isso, fica a pergunta de essa iniciativa de ambos está ou não a ser coordenada com os dirigentes das instituições europeias.
No jornalismo, como em muitas outras áreas, a concorrência é enorme. É fácil encontrar um semanário ou um diário que se transformou num poço sem fundo, a perder dinheiro, leitores e jornalistas a olhos vistos. Os poucos que medram fazem-no graças às assinaturas digitais e à qualidade dos conteúdos. The Economist é um desses raros exemplos de sucesso. Cada texto é escrito com seriedade, bem assente em pesquisas sólidas e sabe combinar informação com opinião. Tem poucas fotos, que custam caro, mas sabe jogar com a apresentação gráfica, de modo a evitar a impressão de páginas demasiado densas. Tem servido de inspiração a outras revistas, que procuram seguir um modelo semelhante.
À questão da concorrência junta-se a profunda revolução na maneira de comunicar. Entre outros aspectos, as novas gerações perderam o gosto pelo papel. Só sabem manejar os telemóveis e as plataformas digitais. E querem coisas rápidas, com conteúdo resumido e contadas como se se tratasse de um filme de acção. A própria televisão está ameaçada por estes novos hábitos. Os telejornais e os programas genéricos começam a ser coisas de gente de idade.
Vem tudo isto a propósito de uma nota que me fizeram chegar sobre a escassez de leitores das colunas de opinião que aparecem nos nossos jornais e revistas. As soluções propostas eram de outra época. Como também seria de uma outra época pensar que os subsídios públicos salvariam a imprensa e a diversidade de opiniões. Seriam, isso sim, meras aspirinas. As dores de cabeça iriam continuar, mesmo com uma dose reforçada.
Somos, de facto, muito únicos. Nomeadamente, ao nível da comunicação social. Desde o início da semana, são múltiplos os artigos, comentários, textos de opinião, editoriais e notícias sobre o que se passa num partido minúsculo. Um partido que, nas eleições legislativas de Outubro, teve menos de 56 000 votos. Ou seja, uns pós acima de 1% dos votos expressos. Páginas e páginas a tratar da insignificância, que é um tema que habitualmente nos apaixona.
Shakespeare diria “tanto alarido a propósito de nada”.
O meu amigo tem a crítica fácil. Escreve e fala de uma maneira inflamada. Acha-se mais vivaço que os outros, mesmo quando os outros já nos deram grandes provas de coragem, de capacidade estratégica e mostraram resultados concretos.
Disse-lhe que assim, com esse afogueamento, só convence parolos. E expliquei-lhe, como amigo mais velho, que nas minhas análises, o ponto de partida é sempre o de tentar ver o que esteve na base da decisão estratégia e da acção dos outros. É que eles lá terão as suas razões. Parvos é que eles certamente não são.
Uma boa parte das colunas de opinião que aparecem nos nossos jornais são chatas como a ferrugem. A expressão é velha, mas traduz bem o que penso. Imagino que a maioria das pessoas – os poucos que ainda compram papel – não terá paciência para as ler. Na generalidade dos casos, nem valerá a pena. Os autores repetem-se uns aos outros, copiam de jornais estrangeiros, e têm, acima de tudo, uma posição ideológica pré-determinada, onde tudo o que escrevem deve caber. À esquerda ou à direita. São os articulistas quadrados da mente, que o divino tenha piedade deles. Nós, é que não temos tempo e pachorra para lhes dar.
Um dos meus amigos escreve sobre política internacional e europeia. Cada texto parece escrito à metralhadora, com rajadas em todos os sentidos, que só há burros à sua volta. E ataca sempre o que está na moda, depois de ter lido um ou dois sítios estrangeiros. É um guerrilheiro das questões internacionais. Outro, escreve sobre política nacional. É um ver se te avias, um activista mental contra o governo, os liberais – embora não entenda bem o que significa ser-se liberal na Europa macroniana de hoje – e os fantasmas da direita. Sim, porque à direita só já temos fantasmas e outros espíritos invisíveis. Esta quadra de greves e requisições civis deu-lhe muito pano para mangas.
E assim sucessivamente.
O que também me deixa boquiaberto é o espaço que a comunicação social dá a esses intelectuais da pena grande. Fico a perceber melhor quando sei que essa gente sai barata e enche páginas a custo zero ou quase inútil. Com os jornais em falência, este é um recurso de gestores pretensamente espertos. O problema é que tais cronistas e opinadores não atraem leitores nem vendem papel. E papel que não se vende significa que não há receitas publicitárias que prestem. E a pescadinha enfia o rabo na boca, volta a ter mais opinião barata e menos vendas. É o carrossel da miséria.
Nestas coisas, lá bem no fundo, o essencial é que haja o culto dos egos. E isso não parece faltar.
Fui criticado por um seguidor porque não escrevo muito sobre o dia-a-dia da política portuguesa. Mais ainda, disse-me que deveria pegar, com alguma regularidade, no que se escreve como opinião ou no que se debate na televisão, e tomar partido.