A crise criada pela clique que controla o poder na Rússia põe em causa o futuro pacífico da Europa, para além da destruição que provoca no Ucrânia. Deveria ser resolvida com um tratado de paz abrangente, que englobasse todas as partes. Mas não vejo hipótese alguma de se conseguir um tal tratado. Deve, no entanto, repetir-se continuamente que essa seria a única solução razoável e respeitadora dos direitos soberanos da cada Estado.
Um armistício e um congelamento das hostilidades é inaceitável, por beneficiar o infractor. Não é impossível de obter, mas deixaria o problema por resolver e acabaria, mais tarde ou mais cedo, por dar lugar a uma nova agressão russa e a uma nova guerra. E abriria a possibilidade de outras agressões da Rússia contra a sua vizinhança ocidental, a começar nos países bálticos ou na Polónia. A Rússia ficaria sempre a ganhar e, por isso, não hesitaria, embora se tratasse de países da NATO. Procederia a um ataque rápido e de surpresa, e depois de ocupar algum território, sobretudo um corredor que lhe permitisse ligar a província de Kaliningrado à Bielorrússia e à própria Rússia, mostrar-se-ia pronta para assinar um acordo de tréguas.
Este é o link para o meu texto de hoje no Diário de Notícias. Despertou muito interesse.
Cito de seguida umas linhas desse texto.
"Para mais, tudo isto tem uma conotação política muito delicada. Abre-se, deste modo, uma nova frente de confrontação direta entre a UE e a Rússia. Particularmente perigosa e que nos distrai da preocupação fundamental, urgente e prioritária, que é a de concentrar todas as energias no apoio à Ucrânia e aos seus esforços de legítima defesa. É perigosa porque oferece à Rússia um pretexto fácil de explorar para uma investida muito forte contra a Lituânia, um país membro da NATO. Ora, a Lituânia, tal como os seus dois vizinhos mais a norte, a Letónia e a Estónia, é muito difícil de defender. Vários exercícios estratégicos, simulados ao mais alto nível de comando da NATO - tive a oportunidade de participar em alguns - mostraram repetidamente a fragilidade extrema de qualquer um desses três países, no caso de uma intervenção militar hostil vinda da vizinhança. São territórios pequenos, sem profundidade estratégica, fáceis de ocupar. Abrimos, assim, um conflito num ponto fraco do nosso espaço de defesa. Não é certamente uma decisão estratégica inteligente, menos ainda sensata. Mais, não havia necessidade."
A interdição imposta pela Lituânia contra o trânsito através do seu território, por via-férrea, de certos bens pertencentes à Rússia e que estão na lista de sanções da UE, é muito grave. E é um erro que pode provocar uma confrontação entre a Rússia e um país membro da NATO.
Os bens estão a circular entre partes da Rússia – a passagem pela Lituânia faz-se por um corredor especial, estabelecido para o efeito – e não devem ser considerados como exportações ou importações do Oblast de Kaliningrado. São transferências domésticas.
Josep Borrell considera que a Lituânia tem razão. Eu considero que não. E mais. Isto deixa-me muito preocupado.
Esta é a altura do ano em que os compromissos me trazem a Riga. Assim acontece, de há cinco anos para cá. E para quem vem de Lisboa, Riga é uma lufada de tranquilidade, de parques e flores, de beleza urbana e de gente com maneiras. A cidade funciona bem, os prédios, muitos deles do estilo Art Nouveau, estão bem tratados – tem havido muito trabalho de renovação nos últimos anos – o mercado central é um prazer para os olhos e uma oportunidade de apreciar o custo de vida – que continua muito mais em conta do que em Lisboa.
Este ano, com a história das sanções, os Russos fizeram de Riga um destino menos frequentado. Foi uma vingançazinha do lado do Vladimir. Em resposta às restrições europeias, o homem do Kremlin e os seus amigos aconselharam os russos a ir a banhos aqui ao lado, no enclave que a Rússia tem no Báltico e cuja capital é Kaliningrado. Até um festival anual de música, que tinha lugar nos arredores de Riga foi este ano mudado para o enclave russo.