O primeiro voto informal relativo ao processo de eleição do futuro Secretário-Geral da ONU teve lugar hoje no Conselho de Segurança. E as primeiras indicações, baseadas ainda em informações incompletas, são certamente muito favoráveis para o candidato português, António Guterres. Por duas razões. Primeiro, pelo elevado número de votos “de encorajamento”: 12 num total de 15. Depois e sobretudo por não ter nenhum voto de “desencorajamento”. Esse tipo de votos é muito perigoso. Basta que um deles venha de um membro permanente do Conselho para termos o caldo entornado. Ou pelo menos, para que a eleição se torne bem mais difícil.
No caso presente o segundo candidato mais forte, Danilo Turk da Eslovénia, teve dois votos de “desencorajamento”. Turk era à partida uma das grandes apostas: vem da Europa do Leste, conhece bem a ONU, fala bem e é convincente. Mas esses dois votos negativos podem trazer muita água no bico. Não serão, no entanto, barreiras intransponíveis. Kofi Annan também tinha um voto desses vindo da França. Depois de muitas conversas, a diplomacia acabou por virar a opinião dos franceses no bom sentido. E Kofi ganhou.
Irina Bokova, a Directora-Geral da UNESCO, cidadã búlgara, aparece como a mulher com mais hipóteses. Mas ainda não sei se recebeu votos de desincentivo. Se assim tiver acontecido, creio que não terá hipóteses de ganhar.
Tudo ficará mais claro quando tiver lugar a próxima ronda.
Houve quem achasse que o meu escrito sobre os políticos e os tecnocratas, aqui publicado a 23 de julho, mostrava muito pouco respeito pelos políticos e pelos partidos portugueses. E sugeriram-me que clarificasse a minha posição.
Ora, o meu julgamento é claro e o post revela-o bem. Tenho, na verdade, muito pouca – e nalguns casos, quase nenhuma – admiração pela maneira como se faz política nos partidos da nossa terra. O oportunismo é a palavra que melhor define a situação. E o vazio de ideias, o principal resultado.
Encontrei, na minha vida profissional, em várias organizações internacionais, tecnocratas de grande valor. Um deles, Kofi Annan, por exemplo. Kofi nunca foi eleito para nada, a não ser para Secretário-Geral da ONU, mas não é desse tipo de eleições que estamos aqui a falar, foi toda a vida um funcionário de carreira das Nações Unidas. E vi-o tantas vezes dar cartas e voar bem acima de chefes de Estado e de Governo, que esses sim, haviam recebido um mandato popular e feito carreira nas máquinas dos partidos. Mas no fundo, eram pessoas sem grande capacidade e visão.
Embora Kofi seja o caso mais conhecido, segundo creio, a verdade é que houve e há muitos outros. Ou seja, gente que subiu e ganhou peso e influência nas estruturas internacionais, que lidou ou lida com altos dirigentes políticos e que mostrou e mostra um valor indiscutível. E que acima de tudo, não são “Yesmen”.
Convém acrescentar, no entanto, e antes de terminar, que tenho a democracia em grande apreço. Não a confundo, todavia, com a maneira como os partidos funcionam neste nosso regime.