Amanhã, 3 de julho, um grupo de antigos funcionários seniores da ONU, vai lançar um apelo ao Secretário-Geral António Guterres, para que conjuntamente com Rafael Grossi, o Director-Geral da Agência Internacional da Energia Atómica (IAEA), se dirijam urgentemente ao Conselho de Segurança, sobre o complexo nuclear de Zaporijia.
A intenção é a de propor um acréscimo significativo do número de inspectores/observadores internacionais, a quem deverá ser dado acesso absoluto a todas as partes da central, de modo a garantir que esta não sirva nem possa ser utilizada para objectivos militares e a sua gestão seja mantida num quadro inteiramente civil, segundo as regras de gestão de uma infraestrutura de energia atómica. Essa missão alargada deveria ter o apoio e a cobertura política do Conselho de Segurança. Teria igualmente a possibilidade de verificar que não acontecerão operações militares num raio de vários quilómetros. A sua composição deveria ser fundamentalmente constituída por técnicos de países exteriores ao contexto da guerra em curso.
Este apelo tem como ponto de partida os perigos que existem ou que podem ser criados a partir da central. Tem igualmente em linha de conta a decisão russa de fazer evacuar todo o pessoal civil e militar da central, a partir de 5 de julho.
As autoridades de Kyiv e de Moscovo foram informadas do conteúdo do apelo que será enviado ao SG/ONU.
Enquanto decorre a contraofensiva ucraniana contra os ocupantes russos, assistimos a uma intensificação das iniciativas diplomáticas em apoio à Ucrânia. Em Londres teve lugar uma conferência de doadores sobre a reconstrução do país, uma vez terminada a agressão. A União Europeia parece estar destinada a ser o maior financiador dessa fase. Entretanto, o Primeiro-ministro Narendra Modi esteve em Washington. E durante o fim de semana terá lugar uma iniciativa diplomática em Copenhaga, que reunirá os ocidentais com países do Sul, com base numa agenda que continua por revelar. No início da semana, Antony Blinken tinha discutido a questão ucraniana com a direcção chinesa.
Estas acções diplomáticas são importantes. A pressão da comunidade internacional conta muito. O próprio Secretário-geral tem um relatório pronto para ser divulgado, sobre os ataques russos contra escolas ucranianas. Esse relatório vai certamente colocar os russos na defensiva diplomática, tendo em conta que a questão das crianças é muito sensível. E toca directamente em Vladimir Putin.
E o 11º pacote de sanções contra a Rússia foi agora aprovado pelos países da UE, sem grandes divergências entre eles.
A comunidade internacional dá sinais de que considera que é altura de colocar um ponto final a este enredo e crime decidido por Putin. Putin pensava que a coisa se resolveria em poucos dias e por isso concentrou o seu esforço inicial em Kyiv. Errou. E a cobertura mediática da guerra tornou-a insuportável. Por isso, a pressão sobre ele está a crescer.
A visita conjunta dos dirigentes da Alemanha, França, Itália e Roménia a Kyiv foi bastante positiva, quer do ponto de vista do apoio político quer material. A reunião do Grupo de Contacto, realizada ontem na sede da NATO, também deve ser vista como positiva. Essa reunião destinava-se a coordenar a ajuda material à Ucrânia. Essa ajuda tem de chegar ao país sem demoras.
Entretanto, Moscovo começou a cortar o fornecimento de gás à Europa. Prevejo que ainda corte mais, muito em breve.
A deslocação de António Guterres à Ucrânia foi positiva. Permite-lhe espaço para um papel mais interveniente e visível. A visibilidade no mundo de hoje é algo de muito importante. A guerra – e a construção de uma alternativa de paz – passa-se em frente dos nossos olhos. O secretário-geral não pode ignorar esse facto.
Vladimir Putin lançou hoje uns mísseis sobre Kyiv, coisa que não fazia há tempos. Ao fazê-lo no dia em que Guterres estava na cidade quis claramente enviar uma mensagem: quem decide o futuro sou eu! Foi uma mensagem muito negativa, que mostrou sem equívocos que ele, Putin, só reconhece a lei da força.
Fiz vários comentários para a comunicação social sobre a missão de Guterres. Não vou agora aqui repeti-los. Mas irei retomar alguns dos pontos que levantei nos próximos posts.
Esta tarde, numa conversa em directo com a Antena 1, sobre as conversações entre as delegações da Ucrânia e da Rússia, disse que se deve ser optimista mas com muita prudência. Já havia dito o mesmo ontem à noite, na SIC Notícias, depois de ter recebido indicações de que poderia haver algum progresso em Istambul.
O que parece possível, como acordo, tem muitas condições subjacentes. O cessar-fogo, que deve ser a primeira etapa de um verdadeiro processo negocial, ainda está longe de acontecer. E as palavras têm significados diferentes, quando ouvidas em Moscovo ou em Kyiv.
Também referi que a Rússia está sob pressão para que avance para um compromisso. São cinco os factores que contribuem para essa pressão: as operações no terreno; as sanções; a opinião pública internacional; a Assembleia geral da ONU; e a China.
Esta questão pode ser um tema de um texto mais longo, para publicação ou debate na comunicação social.