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Vistas largas

Crescemos quando abrimos horizontes

Vistas largas

Crescemos quando abrimos horizontes

Tudo depende de quem conta a historieta

Um clube de raposas muito conhecido está a entrar em aflições: os galinheiros que habitualmente frequentam estão agora povoados de pele e osso. Para um predador vezeiro de bichos gordos, mesmo se engordados artificialmente, a crédito e à base de ilusões, a situação é preocupante.

 

O pior é que o futuro não parece oferecer melhores hipóteses. Só haverá mais pele e osso.

 

Assim começaria uma historieta clássica, contada, como de costume, a partir da perspectiva dos mais fortes, ardilosos e membros da confraria. 

 

E as gentes galináceas, não têm também uma fábula para contar? Uma em que não seja devoradas pelos bichos matreiros?


Pombo mas não inteiramente parvo

O pombo da historieta do Marcel leu o meu blog sobre o fim trágico do gato e protestou. Disse-me que eu, como todos os outros, só escrevemos sobre os bichos assanhados e predadores, nunca contamos a lenda da vida do ponto de vista dos pombos. É, acrescentou, o nosso fascínio medíocre e bacoco pelo poder que nos faz viver a vida a olhar para os grandes e a esquecer as opiniões dos que esvoaçam de grão em grão, para tentar sobreviver.

 

O Zé - o pombal é feito de Zés e Marias - nunca confiou nas manhas suaves do Marcel. No passado, quando ambos eram mais novos, até lhe achava uma certa graça. Mas, confiança em gatos, como em políticos, nunca. Passou a confiar ainda menos, nos últimos tempos, quando sentiu que Marcel andava irritado e tentava abocanhar tudo o que lhe passava pela frente. Sentia que o peludo estava a atravessar uma crise, que com o tempo havia perdido o sentido das proporções e do bom senso. Era um gato cada vez mais isolado, que confundia o ensimesmamento e o valor do seu umbigo com qualidades de felino acima da média. Via-se numa classe à parte, capaz de puxar sozinho pela vida e pela sorte.

 

Não era, afinal, mais do que um pobre animal doméstico, como todos os que por aí aparecem, por muito que se julgasse um leão das savanas sem fim. 

 

O Zé fugiu ao assalto e viu, de longe, a queda para o vazio que havia de fazer sair o Marcel da narração. Pensou que, por vezes, não são os pombinhos quem paga os custos das lendas que por aí se contam.

Tragicamente optimista e confiante

Marcel sempre foi muito determinado. Quando punha os olhos num objectivo, fazia tudo e inventava o resto, para não deixar escapar a ocasião. Tinha energia e argúcia para dar e vender, o que o colocava sempre à frente dos outros. Se tivesse enveredado pela política, seria um chefe assanhado, como os que por aí andam.

 

Quando viu o pombo no bordo da varanda, não hesitou. Foi um salto bem preparado, com o optimismo de quem sabe que a presa é sua. O optimismo de quem vê um ponto mas esquece o conto. Tacticamente correcto, estrategicamente trágico.

 

O pombo já lidara com outros da mesma pinta. Salvou-se a tempo. Marcel viu-se, de repente, no vazio, cheio de força mas sem apoios.

 

Veio por aí abaixo.

 

Dizem que os gatos têm sete vidas, mas esta varanda era de um oitavo andar. Quando chegou à altura do primeiro piso, depois de embater no estendal de roupa que a vizinha do terceiro mandara instalar contra a vontade do condomínio, tinha esgotado as sete oportunidades. Havia altura a mais. São sempre os últimos metros que acabam por ser fatais.

 

Já todo desfeito por dentro, ainda teve ânimo suficiente para se arrastar até à porta da entrada do prédio. Quando se tem espírito de combatente, vai-se até ao fim, mesmo sabendo que está tudo escaqueirado. Não se dá o braço a torcer.

 

Quando o Mário, que tanta estima tinha pelo bicho, chegou ao rés-do-chão, com o coração na boca e sabedor do que iria encontrar, foi para recolher o último olhar.

 

Embora Marcel fosse um gato muito orgulhoso, não creio que o olhar tivesse as cores da vitória.

Saber esperar

Sábado de Páscoa é um dia de transição, na cultura que nos rodeia. De um lado, uma Sexta-feira em que a esperança é crucificada. Do outro, um Domingo que nos desperta uma nova luz, nos abre horizontes, nos faz acreditar na vida.

 

É preciso saber esperar. Ter coragem. Ultrapassar os momentos difíceis. Acreditar no futuro.

Ilusões animais

 

No dia em que o rato subiu ao poder, devido ao acaso das circunstâncias, começou a comportar-se como um leão. Ou pelo menos, a pensar que estava a agir como um verdadeiro rei da selva. Cada palavra que resmungava soava-lhe como um rugido, quando na realidade era a apenas uma irritação verbal para os outros animais das redondezas. Cada exigência que berrava, e que lhe parecia ser um direito decorrente da posição agora ocupada, era vista como mais um indicador que um roedor nunca se poderá medir com um felino puro sangue. Acentuava o ridículo da situação. E para que todas se convencessem da sua real importância, passava horas a discursar palavras impossíveis de penetrar.

A zebra, na sua sabedoria de animal que já havia escapado a leões de verdade, passava-lhe ao lado, com a calma de quem sabe que um rato, por mais ratão que queira ser, não é mais do que um pobre diabo que gostaria de ser levado a sério.

Rapinas

 

As aves de rapina planam a grande altitude. Uma vez o meu jet quase que chocou com uma águia de grande porte, a cerca de 3 500 metros acima do solo. Uma cena que se mantém viva, na memória que muito esquece.

 

São passarões pacientes, silenciosos nos seus voos, muito focalizados, certeiros quando atacam.

 

Lembro-me de certas águias do Zimbabwe, que vivem à custa dos babuínos. Quando os macacos se sentam nos rochedos, ao fim da tarde, para aproveitar os últimos raios solares e descansar, os rapináceos mergulham a toda a velocidade, caiem dos céus com as garras fechadas, e dão um violento soco na cabeça da vítima. O voo seguinte é para levar o corpo assim atordoado, ou mesmo, já morto, por motivo de traumatismo craniano.

 

Quando se vive em terras destas, é melhor andar com os olhos sempre bem abertos. E não se deixar levar pela quietude dos dias que se esgotam. Caso contrário, teremos uma oportunidade única de ser o macaco de uma história triste.

Enxurradas

 

Depois de passar o dia no Leste do Chade, nos castanhos, tons tão variados, a encher os olhos e a dar cor às terras duras que são a minha vida de agora, voltei a casa e encontrei o meu quarto invadido. A gatinha preta, que fora adoptada durante a minha ausência em Paris, resolveu aproveitar a minha saída, sabendo-me perdido no deserto, para passar o dia deitada na minha cama, mesmo debaixo da ventoinha. Um luxo. Uma gatinha que sabe apreciar os pequenos prazeres da vida. Pequenos, porque no meu quarto, com a ventoinha a todo o valor, a temperatura nunca desce abaixo de 39 graus. 39, sim! Centígrados, meus senhores e minhas senhoras. Andar de calções, no quarto, é expor as pernas ao ar quente e sentir a carne a cozer em lume brando. Um pequeno luxo, de facto, essa ventoinha feita por um chinês do século passado.

 

A malandreca aproveitou bem o seu dia ao fresco. Nem para fazer as necessidades mais primárias saiu do quarto. Só que os meus polícias pensam que a gatinha é um elemento das Operações Especiais e alimentam-na bem. A produção foi em grande quantidade. Uma enxurrada. Tive que pedir a ajuda da turma de prevenção. A nossa polícia é de uma valia a toda a prova.

 

Foi um incidente que me fez bem. Permitiu que me esquecesse da " outra produção", a que sai da política portuguesa, com uma evacuação diária. Uma outra enxurrada, nos jornais e nas televisões. O PGR, por exemplo, um assunto actualmente muito na moda em Portugal, faz pensar numa lagartixa mansa, ao lado da nossa gatinha. Talvez a única coisa que tenham em comum é o oportunismo ocasional, o aproveitar o ar fresco, quando ninguém está a olhar. Só que, mais tarde ou mais cedo, chega a guarda e é um fugir a quatro patas.

 

Permitiu também esquecer que o investimento feito pelas Nações Unidas, no Leste do Chade e na RCA, está em riscos de ir por água abaixo. O que é uma maneira de dizer, pois na secura destas paragens, poucas águas existem. Todavia, esta enxurrada vai deixar muita coisa por fazer. E muita gente por proteger.

 

Não estou a fazer o elogio do cócó da gatinha que partilha as penas do nosso calor.  Entendam bem, que há que ter respeito por estas matérias. Mas a verdade é, que no meio de tanta merdice, há porcarias que não fazem mal ao coração.

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