O meu amigo passa os dias a dizer que somos os melhores do mundo. Respondo-lhe que isso é populismo barato. Não contribui um grama ou milímetro que seja para a resolução dos nossos problemas. Também não nos ajuda a ter uma visão mais equilibrada da nossa intervenção fora de casa. No fundo, andar a espalhar essa pretensão faz de nós uns meros bacocos. Badalamos o sino, olhamos para a nossa capela e acreditamos que estamos a competir com a Sistina.
A verdade é que uma aldeia de simplórios não voa muito alto. Sobretudo nestes tempos, que exigem muita argúcia.
O meu amigo presta-nos um mau serviço. Sendo quem é, poderia puxar-nos para a frente em vez de nos entreter com uma ilusão parola. Mas acha que fica melhor na fotografia se pintar um céu azul.
Uma das características marcantes da Esquerda portuguesa é a sua fragmentação. As divisões resultam de uma notória falta de liderança combinada com a inexistência de um projecto credível e agregador. No meio de tudo isso, existe um Partido Socialista às aranhas e um Partido Comunista amarrado a uma visão impraticável da sociedade e das relações de Portugal com os seus parceiros naturais.
Por isso vamos ter, nos próximos meses, no que respeita às eleições presidenciais do próximo ano, mais candidaturas à esquerda.
Amanhã e Sexta-feira estarei na Noruega, no quadro da minha colaboração com o Ministério dos Negócios Estrangeiros desse país. É sempre um prazer voltar a Oslo, com a sua atmosfera bon enfant, descontraída, um ambiente em que a palavra crise não tem cabimento.
Para quem vem de Portugal, onde a crise económica é hoje uma crise de desespero e de falta de perspectivas, o contraste não pode ser maior. Estar em Oslo ajuda-nos a perceber que Portugal não pode continuar obcecado consigo próprio nem num estado de revolta permanente. Nada disso ajuda a construir o futuro. Há que acreditar nas nossas capacidades, ser tolerante em relação aos que pensam de modo diferente do nosso e ser honesto e generoso na relação com os outros. E, acima de tudo, ter uma elite que pensa no progresso colectivo e não apenas no seu proveito pessoal.
Tudo isto parece ingénuo. Mas é possível, com um outro tipo de gente à frente da política e da opinião pública. Com gente com sentido da história e não do proveito pessoal que possam tirar de uma efémera passagem pelo poder.
A Assembleia da República acaba de nomear dois deputados para o Conselho de Fiscalização do Sistema de Informações da República Portuguesa (CFSIRP). Um deles vai mesmo servir como presidente desse Conselho de vigilância das “secretas”.
Num exemplo de renovação da classe dirigente portuguesa, os escolhidos são dois políticos que chegaram à política por serem filhos dos seus papás, que, por sua vez, foram homens políticos de marca. É a renovação em família.
No seguimento do meu texto de ontem e dos comentários que suscitou, uma das questões que precisa de ser discutida parece ser a seguinte: quem são os principais países aliados do nosso país?
Portugal tem que contar com a cooperação e a convergência de interesses de países amigos, que partilhem os mesmos valores, os mesmos interesses e a mesma visão do futuro. Quais são esses países?
Nenhum povo, nesta era de interdependências, pode aspirar a viver isolado.
A questão subsidiária é como proteger os nossos interesses, numa comunidade de países similares e amigos? Cabe a nós, como é evidente, proteger o que nos parece ser do nosso interesse. E, ao mesmo tempo, entender o que deve ser partilhado e posto numa plataforma comum de ambições.
E, do outro lado da medalha, quem são os países que mais poderão ameaçar os nossos interesses e o nosso futuro?
Por que será que o debate público não abarca este tipo de questões?
Fiz uma pausa no exercício de reflexão estratégica -- os desafios globais no horizonte 2030 -- para dar uma aula no ISCSP aos alunos do segundo ano de mestrado em Relações Internacionais. Foram duas horas de análise crítica sobre o papel da ONU em matéria de manutenção da paz. A assembleia mostrou interesse genuíno pelo tema, apesar de ser um assunto distante das suas preocupações quotidianas.
Como também se revelou muito interessada pelo sentido da minha reflexão prospectiva para os próximos 20 anos, ou seja, durante um período de grande instabilidade, de mutações profundas e de desafios complexos.
Aproveitei para lhes lembrar, já no fim, que o pensamento estratégico, em relação aos acontecimentos possíveis no futuro, é essencial. Coloca-nos na linha da frente. Dá muito trabalho, muito mais que a análise do imediato ou do dia de ontem, mas permite-nos um posicionamento mais vantajoso. Portugal, e os jovens, em particular, deveriam dar mais atenção a estas questões. Ganharíamos todos.
O Presidente Barack Obama teve, hoje, uma conferência de imprensa difícil. O grupo de jornalistas que segue a Casa Branca, gente de grande valor profissional, não o poupou. As questões centraram-se no desastre ecológico que tem estado a acontecer no Golfo do México, no seguimento da rotura que ocorreu numa das plataformas de exploração da BP. O encontro procurou esclarecer se o Presidente e a sua equipa haviam, ou não, estado à altura, respondido com a atenção e os meios que a catástrofe requeria.
As perguntas foram feitas de um modo muito directo, informado, com recurso ao contraditório, sem papas na língua, mas sem agressividade, com respeito pela função presidencial. Um exemplo de como se faz jornalismo responsável. Barack Obama não fugiu nem procurou ludibriar a opinião pública. Esclareceu, manteve a calma, foi cordial e claro. Assumiu as responsabilidades, com serenidade, sem jogos de espelhos. Um exemplo de como se faz liderança política.
Durante as minhas viagens de ontem, pensei muito na tragédia daquele menino de 12 anos que, em Mirandela, se lançou às águas bravas do Rio Tua. Embora muito longe de Portugal, Mirandela, bullying nas escolas portuguesas, e o gesto desesperado do Leandro, preocuparam-me. Mais. Revoltaram-me.
Penso que as escolas do nosso país não têm sabido tratar da questão muito grave que é o bullying. Não é dada orientação sobre o assunto. Os políticos, por seu turno, a começar pelos diferentes ministros e secretários da Educação, não entendem, nem nunca quiseram compreender, a gravidade do problema. Como em muitas outras áreas, deixam andar. Não se sentem responsáveis. Não vêem. Não estão à altura. Temos uns políticos que voam ao nível baixinho da mediocridade. Até nesta área tão evidente, que é a violência contra as nossas crianças.
O bullying, e todas as formas que as praxes escolares tomam, sejam elas praticadas na adolescência ou no início da juventude, nos institutos militares, de polícia, nas universidades, e noutros locais de aprendizagem e de formação de jovens, são práticas inaceitáveis. Devem ser vistas como indicadores de um povo primitivo, sem elevação moral, velhas reminiscências de um gosto por barbaridades. Violam a dignidade da pessoa e os direitos humanos. Têm que ser proibidas. E severamente punidas.
Estamos no Século XXI, meus senhores e minhas senhoras.
Um dia ao telefone. A diplomacia das palavras. A procura de plataformas comuns.
No comunicar é que está o ganho. Sem diálogo, não há futuro.
Ao fazer o balanço do dia, penso na falta de diálogo que caracteriza a política portuguesa. Andam todos a dizer coisas. A tentar marcar pontos. Sem que haja entendimentos. É só conversa, numa guerra de palavras, inspirada pelo sectarismo e a exclusão.