Logo pela manhã, um amigo enviou-me cópia das declarações do bispo das Forcas Armadas a uma televisão nacional, numa entrevista de ontem à noite. Depois vi o vídeo.
Achei tudo isto muito primário. O homem é um exaltado e diz coisas como se fosse um panfletário sem preparação intelectual e sem ter em conta a sua posição oficial, institucional. Dava um excelente deputado, como há muitos na Assembleia da República...
Digo isto, com toda a independência de quem não é do partido do governo.
Digo-o por achar, com muita pena, que este é mais um contributo para a falta de nível da política em Portugal. Também, por me dar pena que tanta gente com cabeça tenha considerado as declarações do bispo como algo com algum sentido.
A Baronesa Ashton, em nome dos Estados membros, ao pronunciar-se sobre "os Líbios", apelou, solenemente, à moderação. Como quem diria, o que é preciso é calma e pé ligeiro.
Esta foi a única manifestação de vida de uma União que não sabe o que são princípios universais e convenções internacionais.
Com uma Europa assim, nem os esquimós, que estão lá bem para o Norte, se escapam.
Um diário publicado em Lisboa, que gosta de ser visto como um jornal de referência, publica hoje um artigo lambe-botas sobre um português que vive em Bruxelas e que é apresentado como um salvador da pátria. Escrito pela correspondente junto da UE, o artigo só pode ser visto como uma maneira hábil de ganhar um convite para jantar. O salvador pagará a conta.
O meu texto da VISÃO, disponível on-line, sobre as práticas corruptas, nalguns casos, e abusivas, noutros, dos membros do Parlamento inglês e' meramente ilustrativo da falta de moralidade e de sentimento do dever cívico que, nos últimos anos, se generalizou entre os que detêm algum cheirinho de poder. Os políticos, os banqueiros, os autarcas, os senhores com algum tipo de autoridade pública sobre os outros, passaram a guiar-se pela filosofia do ganho pessoal. E dos compadrios 'a volta de pequenos grupos de interesse.
Só um movimento de cidadãos, tipo ONG, e uma imprensa liberta dos favores do poder poderão contribuir de um modo eficaz contra esta tendência que a todos prejudica e que traz consigo outros males, como a quebra da solidariedade social, o cinismo, o individualismo doentio, a morte do civismo, que e' um capital fundamental e' qualquer sociedade.
Penso que há razões para preocupações. Como também penso que não ajuda nada fingir que não se vê.
Chego a Lisboa vindo do Norte da Europa, desvio-me por Benfica, para fugir ao engarrafamento da Segunda Circular, corto por ruas com lixo e pedaços de jornais a voar no vento forte do desleixo e incompetência da Câmara Municipal do senhor Costa, chego a casa a tempo de ver que o prato forte das notícias é o Portugal do Freeport, com engenhocas que sabem a alta corrupção, mas não há problema, diz-me depois quem conhece bem a justiça portuguesa, que mais Freeport menos Freeport, mais lixo menos lixo, tudo acabará como de costume, nas memórias esquecidas de uma classe que finge que é dirigente, e de um pequeno povo que passa os tempos livres nos Centros comerciais dos arredores da vida.