Acima vos deixo o link para o programa desta semana sobre a Europa, uma produção semanal da Rádio TDM de Macau. Desta vez, faço uma leitura das eleições gerais na Hungria, da onda de homicídios entre jovens em Londres, de Carles Puigdemont na Alemanha, e dos roubos de dados pessoais feitos por empresas parceiras do Facebook.
Estive hoje em trânsito, uma vez mais, no Terminal 5 do aeroporto londrino de Heathrow. E uma vez mais, os controlos foram demorados e levados à letra. Dou um exemplo. O saco transparente onde transportava a pasta de dentes, o creme de barbear e o aftershave continha igualmente um pente, uma escova de dentes e uma minúscula bolsa também ela transparente, com vários comprimidos que necessito no dia-a-dia das minhas viagens. Não foi aceite. O regulamento não permite misturar, na mesma bolsa, alhos com bugalhos. Tive que voltar para trás, proceder à separação protocolar e voltar à máquina de controlo. De todos os aeroportos por onde ando, foi apenas em Londres que isso me foi exigido. Entretanto as filas de espera iam ficando cada vez mais longas. Na fila do lado, um casal de turistas asiáticos, com aspecto abastado, assistia impávido, mas surpreendido, ao desembalar e à inspecção, peça por peça, de um pequeno serviço de cristal que haviam comprado na cidade e que queriam levar como bagagem de mão. O agente de segurança calçara as luvas e dava a volta a cada peça com o cuidado que as regras impõem. Não se tratava de uma greve de zelo. É simplesmente o zelo levado ao extremo, para que ninguém possa ser acusado, se alguma coisa correr mal, de negligência.
Estive ontem e hoje em Londres para umas reuniões. Londres, como muitas vezes o digo, é a única cidade europeia que é verdadeiramente global. Andar nas ruas e praças do centro da cidade é como passear pela paisagem humana existente nos vários cantos da terra. Participar numa reunião sobre temas internacionais é ter a oportunidade de ouvir opiniões e ser confrontado com ângulos que reflectem as muitas perspectivas culturais que definem o mundo. É um convite para que saiamos da nossa zona de conforto mental e encaremos cada questão como tendo várias leituras possíveis.
Londres é, também, uma cidade cara e sobrepovoada. O dinheiro foge dos bolsos e dos orçamentos familiares. Há gente por todos os cantos. Sobretudo, gente jovem.
E muita bandeira britânica. O governo explora abertamente os sentimentos nacionalistas da população. Dá uma no cravo e outra na ferradura, quer estar na Europa e, ao mesmo tempo, fazer como se não estivesse. Só que isso, a prazo, apenas serve os interesses dos ultranacionalistas, dos antieuropeus. Ou seja, temos aí uma séria ameaça ao projecto europeu.
Mas Londres precisa da Europa para continuar a ser uma cidade universal.